Nos últimos anos a expansão do ensino superior no Brasil teve como um dos seus marcos a implementação das políticas de ações afirmativas, com a adoção, por exemplo, de acréscimos nas notas dos candidatos com políticas de bônus, ou de reserva de vagas com políticas de cotas, tendo como objetivo equalizar a forma de acesso ao ensino superior. Em sinergia, o ambiente educacional contábil também passou por um cenário de expansão, com o crescimento no número de matrículas, assim como vivenciou um processo de convergência aos padrões internacionais de Contabilidade. Diante de tais fatos, tornou-se relevante investigar como as políticas de ações afirmativas poderiam se relacionar com o ambiente educacional contábil, especificamente com o desempenho acadêmico, dadas as transformações ocorridas e, também, devido à possibilidade do ingresso de novos grupos de estudantes no ensino superior. Assim, o presente estudo teve como campo empírico a UFMG e traçou como objetivo geral analisar a relação entre a implementação de políticas de ações afirmativas e o desempenho acadêmico de estudantes de graduação em Ciências Contábeis matriculados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O período contemplado abarcou um intervalo de 15 anos, de 2005 a 2019, o que trouxe um diferencial à pesquisa. A amostra foi composta por 1.061 estudantes, o que originou a quantidade de 7.791 observações ao longo do período de análise. As técnicas de análise empregadas foram: a estatística descritiva, o teste de diferença de médias de Kruskal-Wallis e a estimação de um modelo linear multinível. Observou-se, inicialmente, ao longo dos anos da análise, uma maior diversidade de raças declaradas pelos estudantes, assim como ocorreu um aumento da participação de estudantes oriundos de escola pública e com menor renda mensal familiar, o que sinaliza a característica inclusiva das ações afirmativas. Posteriormente, analisou-se o desempenho acadêmico mensurado por disciplinas específicas de contabilidade e, para a maior parte das disciplinas, não se identificou diferenças entre o desempenho mediano de estudantes beneficiados com políticas de ações afirmativas em relação aos não beneficiados. Já quando foi observado o rendimento global dos estudantes, os achados evidenciaram uma relação negativa e estatisticamente significativa para variáveis relacionadas às cotas, o que sugere um desempenho inferior para estudantes cotistas. No entanto, os coeficientes estimados para as cotas não tiveram um valor tão expressivo, o que permite inferir que estudantes cotistas podem apresentar um desempenho não tão inferior em relação aos não cotistas. Diante de tais resultados, o estudo contribui ao fomentar a discussão de políticas públicas que visam corrigir desigualdades sociais e equilibrar as oportunidades para o acesso ao ensino superior, o que permitirá o crescimento educacional e, consequentemente, profissional dos estudantes. Ademais, os resultados também trazem como consequências a visibilidade da consolidação das políticas de ações afirmativas adotadas nos últimos anos que, além de corroborar o caráter inclusivo delas, ainda possibilitou visualizar suas relações com o desempenho discente contábil, gerando subsídios para o processo de tomada de decisão nas práticas de ensino e aprendizagem nas instituições de ensino superior.