Dissertação (mestrado) — Universidade de Brasília, Faculdade de Comunicação, Programa de Pós-Graduação em Comunicação, 2022. Esta pesquisa é um processo e um produto autoetnográfico que se inscreve na produção de arquivos sobre homens trans no Brasil. Trata-se de um trabalho desenvolvido a partir da perspectiva da Comunicação, e que se dedica a analisar a formação de um itinerário de produções transmasculinas produções, biográficas e autobiográficas, entre as quais este trabalho se inclui. Essas narrativas estão inseridas em um contexto sociocultural de crescente visibilidade e efetivação de alguns direitos para a identidade transmasculina, do qual faço parte como cidadão, ativista e pesquisador. Desde 1982, a partir do lançamento A Queda para o Alto, de Anderson Herzer, homens trans têm buscado, de forma mais organizada, reconhecimento, visibilidade e direitos no Brasil. Antes dos anos 2000, os registros alcançados por essa pesquisa apontam a literatura como um dos poucos espaços de arquivo, fora da perspectiva médica, utilizados para produção de narrativas feitas por transmasculinos sobre suas identidades. Com a virada do século, alguns ativistas começaram a disputar direitos para homens trans, principalmente em relação ao acesso à saúde. Em 2011, o lançamento do segundo livro de João W. Nery, Viagem Solitária, representou um marco na produção de visibilidade para a identidade transmasculina, pois, a partir dessa obra, é possível verificar reportagens, entrevistas e personagens de novela, inspirados no trabalho de Nery. Neste panorama, esta autoetnográfica é um mergulho em minha própria história, ao mesmo tempo em que investiga o contexto político em que as principais mudanças recentes em relação à cidadania LGBT ocorreram. O esforço desta pesquisa está nessa reflexão sobre as conexões entre minha trajetória subjetiva e a produção coletiva de transmasculinidades no Brasil. Nesse percurso, localizo algumas das obras literárias produzidas por transmasculinos no país ao mesmo tempo em que relato e analiso alguns fragmentos da minha própria vida. Nesse horizonte, recorro às teorias e aos debates sobre gênero, juventude e interseccionalidade. This research is a process and an autoethnographic product that is inscribed in the production of archives about trans men in Brazil. It is a work developed from the perspective of Communication, and which is dedicated to analyzing the formation of an itinerary of transmasculine productions, biographical and autobiographical productions, among which this work is included. These narratives are inserted in a sociocultural context of increasing visibility and realization of some rights for the transmasculine identity, of which I am part as a citizen, activist, and researcher. Since 1982, since Anderson Herzer's release A Queda para o Alto, trans men have sought, in a more organized way, recognition, visibility, and rights in Brazil. Before the 2000s, the records reached by this research point to literature as one of the few archive spaces, outside the medical perspective, used for the production of narratives made by transmasculine men about their identities. With the turn of the century, some activists began to dispute rights for trans men, especially in relation to access to healthcare. In 2011, the launch of João W. Nery's second book, Viagem Solitária, represented a milestone in the production of visibility for the transmasculine identity, since, from this work, it is possible to verify reports, interviews and soap opera characters, inspired by the work from Nery. In this context, this autoethnographic study is a dive into my own history, while investigating the political context in which the main recent changes in relation to LGBT citizenship took place. The effort of this research is in this reflection on the connections between my subjective trajectory and the collective production of transmasculinities in Brazil. In this way, I locate some literary works produced by transmasculine men in the country while reporting and analyzing some fragments of my own life. In this horizon, I resort to theories and debates about gender, youth, and intersectionality.