portuguesEste estudo repercute a aflicao frente a necropolitica dizimadora do povo negro brasileiro, atualmente em curso, onde mais de 75% das pessoas assassinadas no Brasil sao negras. O movente factual da reflexao reverbera o fuzilamento de Evaldo Rosa, em 7 de abril de 2019, cujo automovel foi alvejado por 62 tiros, dos 257 desferidos por militares do exercito, na cidade do Rio de Janeiro e desencadeou uma onda de denuncias contra o genocidio do povo negro perpetrado pelo aparelho repressivo do estado brasileiro. Desarmado e conduzindo a propria familia, a vitima fatal, um homem negro, foi alvo tambem do escarnio dos matadores. A argumentacao traz a tona passagens das literaturas produzidas pelo psiquiatra martinicano Frantz Fanon (1925-1961), cuja obra espelha o engajamento do autor na luta anticolonial em favor da Africa libertada. Igualmente, o texto retoma o estadunidense Van Rensselaer Potter (1911-2001), bioquimico, pesquisador oncologico, considerado um dos fundadores da Bioetica. O texto compara pressupostos antropologicos que presidiam as intervencoes de cada pensador. Em Fanon, o enfrentamento do colonialismo nos anos de 1950 e 1960, e suas repercussoes sobre as sociedades e o psiquismo das pessoas consistiu na materia prima de suas atuacoes como psiquiatra, escritor e ativista politico. Potter, sensibilizado pela docencia e a vivencia junto a pacientes oncologicos avaliou as condicoes de sobrevivencia humana no planeta e perspectivou a necessidade de mudancas culturais sob pena de extincao da vida. Em que pese a inquietacao de Fanon com a liberdade, em sua analise do colonialismo e da luta de libertacao, considerou longamente a necessidade da violencia e da morte; posteriormente, Potter, motivado pela sobrevivencia, postulou o controle quantitativo da populacao. Frente a esse cenario, esta reflexao quer saber: em que sentido a relacao entre o genocidio do povo negro, no Brasil, e a bioetica configura uma questao antropologica? A luz deste questionamento, o artigo recupera o tema da antropologia filosofica, tecendo o perfil geral da disciplina assim como a sua importância para a acao humana. Em seguida, recolhe dos escritos de Fanon abordagens que permitem identificar a sua perspectiva antropologica. Adiante, faz-se o mesmo no tocante a passagens de Potter. Conclui-se que as reflexoes antropologicas de Fanon assentam-se sobre a consciencia e a tomada de consciencia, pressupostos da liberdade e da responsabilidade. Por sua vez, Potter articula um humanismo discriminatorio, premissa de graves repercussoes. EnglishThis scientific article addresses the affliction provoked by the necropolitics that currently decimates black people of Brazil, with a murder rate of 75% of the country’s total count. This reflection reverberates the shooting of Evaldo Rosa, in abril 7th, 2019, whose car was hit by 62 of 257 shots fired by army’s military, in the city of Rio de Janeiro and unleashed a wave of complaints against the genocide of black people perpetrated by the Brazilian state. A disarmed black man that was driving his own family, the fatal victim was also target of derision by his murderers. The article’s reasoning brings up literature’s excerpts produced by the Martinican psychiatrist Frantz Fanon (1925-1961), whose work is engaged on the anticolonial fight in support of a free Africa. Likewise, the text also discusses the United-Statian Van Rensselaer Potter (1911-2001), a biochemist, oncological researcher, considered one of the founders of Bioethics. The article compares the anthropological assumptions of each author. In Fanon, the confrontation of colonialism of the 1950 and 1960 and its repercussions on societies and on people’s psyche consists of the raw material of his activities as a psychiatrist, writer and political activist. Potter, sensitized by his teaching and his experience with cancer patients, evaluated the conditions of human survival on the planet and envisioned the need for cultural changes under penalty of life extinction. Fanon’s uneasiness about freedom, in his analysis of colonialism and the liberation struggle, considered the need for violence and death; Potter, motivated by survival, postulated a quantitative control of the population. Given this scenario, the present reflection wants to know: in what sense the relationship between the genocide of black people, in Brazil, and bioethics establish an anthropological question? Regarding this questioning, the article recovers the subject of philosophical anthropology, weaving a general profile of the discipline as well as its importance for human action. Moreover, the article collects from Fanon's writings approaches that may identify his anthropological perspective. Furthermore, it does the same process regarding Potter’s writings. In conclusion, Fanon’s anthropological reflections lay in consciousness and the growing of awareness, liberty’s preconditions and responsibility. In contrast, Potter articulates a discriminatory humanism, a premise with serious repercussions.