O objetivo desta tese é descrever a temporalização em língua de sinais brasileira (libras), no âmbito da teoria semiótica de linha francesa. Para tanto, a proposta é analisar seis textos narrativos sinalizados por surdos ou intérpretes fluentes na língua. Os estudos sobre as línguas de sinais, como os de Liddell (2003), de Finau (2004), de Johnston & Schembri (2007), de Sinte (2013), têm apontado que as línguas sinalizadas contam com os mecanismos gerais de enunciação; que não há marcas morfológicas de flexãode tempoem seus verbos, e que há outros elementosgramaticais e discursivos envolvidos na construção das relações temporais no interior de seus textos, como gestos manuais (os itens lexicaisdicionarizadosque têm função de advérbio, como HOJE, ONTEM, AMANHÃ, etc.), e como outros gestosnão manuais,como movimentos do tronco, localização das mãos e direção do olhar do sinalizador. Esta tese vai tratar de mostrar a especificidade da organização do tempo no plano do conteúdo dos textos em libras. O estudo parte das pesquisas mencionadas e toma como base para a análise o trabalho realizado por Fiorin (2002) no português, para apresentar uma descrição dos mecanismos de instauração e organização do sistema temporal de cada um dos textos selecionados, mostrando como foram marcados o MR (momento de referência) e os diferentes momentos que compõem essas histórias. A proposta foi levantar todas as formas como a libras expressa o presente, o passado e o futuro em seus discursos, descrevendo, assim, o que Greimas & Courtés (2012) denominam como sendo a localização temporal em um texto e os efeitos de sentido da instauração do tempo. Os dados analisados foram transcritos no software ELAN (EUDICO Language Annotator), seguindo a proposta de McCleary, Viotti & Leite (2010). As análises feitas mostram que, em alguns textos do corpus, a marcação do tempo é feita por itens lexicais de tempo dicionarizados, por meio de debreagens enunciativas e enuncivas, e, em outros casos, quando não há uma marca temporal específica, a língua conta com outro mecanismo discursivo, uma embreagem heterocategórica, que permite que, por meio de uma neutralização das categorias da enunciação (pessoa, espaço, tempo), o tempo seja construído espacialmente e entendido a partir de elementos que tipicamente instauram pessoa e criam diferentes espaços nos textos. The objective of this thesis is to describe the timing in Brazilian sign language Libras within the framework of French Semiotics. As such, the proposal is to analyze six narrative texts signaled by deaf people or fluent interpreters of the language. Studies of sign languages, such as those of Liddell (2003), Finau (2004), Johnston & Schembri (2007), and Sinte (2013), have pointed out that sign languages use the general mechanisms of enunciation, that there are no morphological markers of tense inflection of verbs in these languages, and that there are other grammatical and discursive elements involved in the construction of temporal relationships within signed texts, such as hand gestures (lexical items listed in dictionaries as adverbs, such as TODAY, YESTERDAY, TOMORROW, etc.) and other non-manual gestures, such as upper-body movements, hand positions, and the direction of the signers gaze. This thesis intends to demonstrate the specificity of the organization of time in the content of the texts in Libras. The present study takes the aforementioned studies as a starting point and uses the work of Fiorin (2002) about Portuguese Language as a basis for the analysis to present a description of the mechanisms for establishing and organizing the temporal system of each of the texts selected, showing how the MR (moment of reference) and the different moments that make up these stories were marked. The proposal was to survey all the forms by which Libras expresses the present, past and future in its discourses, thus describing what Greimas & Courtés (2012) call the temporal localization in a text and the effects of meaning in terms of establishing time. The analyzed data were transcribed in the ELAN (EUDICO Language Annotator)software following the proposal of McCleary, Viotti & Leite (2010). The analyses performed showed that in some texts of the corpus the marking of time is effected by dictionarized temporal lexical items, by means of enunciative and enuncive débrayages (shifting out), and, in other cases where there is no specific temporal marker, the language uses another discursive mechanismheterocategorical embrayage (shifting in)which uses a neutralization of enunciation categories (person, space, time) to allow time to be constructed spatially and understood based on elements that typically establish the person and create different spaces in the texts.