Tese de doutoramento em Psicologia (área de especialização em Psicologia da Saúde), A presente investigação teve como objectivo testar a eficácia de duas intervenções psicossociais direccionadas para a prevenção do VIH/SIDA e promoção da saúde em mulheres Moçambicanas em risco sexual: a intervenção Didáctica e a intervenção ACCENT (“Capacidade Acelerada para a Exposição ao Conflito e Treino de Negociação”). A primeira é de cariz individual e meramente informativa; a segunda, além de informação, integra o treino de competências psicossociais, em grupo. Adicionalmente, também se procurou identificar as variáveis psicossociais associadas a comportamentos de risco sexual (práticas sexuais seguras actuais e utilização do preservativo) na amostra total, no pré-teste. O plano da investigação é do tipo randomized controlled trial, em que se distribuiu aleatoriamente as participantes por três condições: grupo experimental de intervenção ACCENT, grupo experimental de intervenção didáctica e grupo de controlo (sem intervenção). Também é um estudo longitudinal, com quatro momentos de avaliação: pré-teste (antes da intervenção), pósteste (após a intervenção), seguimento 1 (um mês após a intervenção), e seguimento 2 (três meses após a intervenção). Trata-se ainda de um estudo correlacional, na medida em que se investiga a relação entre variáveis psicossociais e comportamentais. O estudo decorreu no Hospital Central da Beira, em Moçambique, com uma amostra de 173 mulheres, em risco para a infecção pelo VIH/SIDA de acordo com critérios previamente estabelecidos. O instrumento de avaliação utilizado foi o Questionário do Estudo sobre a Saúde das Mulheres Moçambicanas (Hobfoll et al., 2002; versão adaptada por McIntyre, Costa & Patrão, 2009). Foram analisadas as características psicométricas das escalas que constituem este questionário, na amostra em estudo. As variáveis de resultado estudadas foram as seguintes: auto-eficácia geral, auto-estima, depressão, percepção de perda de recursos, suporte social, conhecimentos acerca do VIH/SIDA, percepção de barreiras face ao sexo seguro, auto-eficácia na negociação do preservativo, práticas sexuais seguras actuais (intenção e compra de preservativos), e utilização do preservativo (no decorrer dos últimos quatro actos sexuais). A primeira hipótese previa melhores resultados, a curto prazo (após a intervenção), para os grupos de intervenção (Didáctica e ACCENT), em comparação com o Grupo de Controlo (sem intervenção). A segunda hipótese previa melhores resultados para o grupo ACCENT, em comparação com o Grupo Didáctico, a curto prazo (após a intervenção). A terceira hipótese previa a manutenção dos ganhos obtidos ao longo do tempo no seguimento de um e três meses, em ambas as intervenções. As análises exploratórias pretenderam identificar as variáveis psicossociais associadas aos comportamentos de risco (correlatos) no préteste. A hipótese 1 foi confirmada para a generalidade das variáveis em estudo, à excepção da auto-eficácia geral, da depressão, da auto-estima, do suporte social, do stress financeiro e relacionado com as condições domésticas, da auto-eficácia para o uso do preservativo, e da percepção de atitudes do parceiro como negativas. A hipótese 2, relativa à superioridade da intervenção ACCENT em relação à intervenção Didáctica, confirmou-se para todas as variáveis em estudo, excepto nos conhecimentos acerca do VIH/SIDA, em que ambas as intervenções foram igualmente eficazes. A hipótese 3 também se confirmou para os conhecimentos acerca da transmissão/contágio, os conhecimentos acerca da prevenção, a percepção de atitudes do parceiro como negativas, as práticas sexuais seguras actuais, e a utilização do preservativo nos últimos 4 actos sexuais, indicando manutenção dos ganhos nos seguimentos de 1 e 3 meses para ambas as intervenções. A hipótese 3 apenas se confirmou para o grupo ACCENT relativamente à percepção de barreiras face ao sexo seguro, à ausência de percepção de risco, às percepções negativas face ao sexo seguro e ao suporte social. Relativamente às análises exploratórias, verificou-se que as variáveis demográficas idade e escolaridade, e as maritais estado civil e conversar sobre SIDA com os parceiros são corrrelatos significativos das variáveis comportamentais. Foram correlatos psicossociais significativos a auto-eficácia para o uso do preservativo e a percepção de barreiras. Os conhecimentos acerca da prevenção e a percepção de barreiras associaram-se à autoeficácia para o uso do preservativo que foi o correlato mais importante do comportamento sexual seguro. Finalmente, foram apresentadas as limitações do estudo, assim como, as implicações dos resultados obtidos para investigações futuras e a prevenção do VIH/SIDA na mulher africana., The present study aimed to evaluate the effectiveness of two psychosocial interventions focused on HIV/AIDS prevention and sexual health promotion among at risk Mozambican women: Didactic intervention and ACCENT intervention (Accelerating Capacity for Conflict Exposure Negotiation Training).. The Didactic intervention was merely informative and individual, whereas the ACCENT intervention, besides the educational component, emphasized the training and development of psychosocial skills in a group setting. This study also aimed to identify psychosocial correlates of sexual risk behaviors (current safe sex practices and condom use) among the total sample, at pre-test. The study design is a randomized controlled trial, in which participants were randomly assigned to three conditions: the experimental group ACCENT intervention, the experimental group Didactic intervention, and the control group (no intervention). It is a longitudinal study because the participants were followed over time and evaluated at four time points: pre-test (prior to the intervention), post-test (after the intervention), follow-up 1 (one month after the intervention), and follow-up 2 (three months after the intervention). It is also a correlational study, since the association between psychosocial and behavioral variables is examined. The study was conducted at the Central Hospital of Beira in Mozambique, with a sample of 173 women considered to be at risk for HIV/AIDS according to previously determined criteria). The instrument used was the Mozambican Women’s Health Study Questionnaire (Hobfoll et al., 2002; adapted by McIntyre, Costa, & Patrão, 2009). We analyzed the psychometric characteristics of the scales that make up this questionnaire, in the Mozambican sample. The outcome variables studied were the following: general self-efficacy, self-esteem, depression, perceived loss of resources, social support, HIV/AIDS knowledge, perceived barriers against safer sex, self-efficacy in condom negotiation, current sexual activity (intention to use and buy condoms), and condom use (last four sexual encounters). The first hypothesis predicted better results for the intervention groups (Didactic and ACCENT) at post-testin comparison to the control group (no intervention). The second hypothesis predicted better results for the ACCENT intervention group in comparison to the Didactic intervention group, at posttest. The third hypothesis predicted that the gains at post-test would be maintained at 1 and 3 months after the interventions. The exploratory analyses aimed to identify which psychosocial variables were associated with sexual risk behaviours (correlates) at pre test. Hypothesis 1 was confirmed for the majority of the variables studied, except for general self-efficacy, depression, self-esteem, social support, financial and domestic stress, self-efficacy in condom negotiation, and perceived partner’s negative attitudes.. Hypothesis 2, concerning the comparison of the effectiveness of the ACCENT intervention and the Didactic intervention, was confirmed for all variables studied, except for HIV/AIDS knowledge, since both interventions were equally effective. Hypothesis 3 was confirmed for HIV/AIDS knowledge, perceived partner’s negative attitudes, current safe sex practices, and condom use in the past four sexual encounters, indicating that these gains were maintained at 1 and 3 month follow-ups, for both interventions. Hypothesis 3 was only confirmed for the ACCENT intervention in terms of the perception of barriers to safe sex and social support. Regarding the exploratory analyses, we found that the demographic variables age and education level, and the marital variables (marital status and talking about AIDS with partners) are significant correlates of the safe sex behaviors. Self-efficacy in condom negotiation, and perceived barriers against safer sex, were significant correlates of sexual behavior. The HIV prevention knowledge and the perceived barriers against safer sex were associated with self-efficacy in condom negotiation, which was the most important correlate of safe sex behavior. Finally, the limitations of the study were presented as well as the implications of the results for future research and the prevention of HIV/AIDS among African women.