Esta tese trata da questão do suicídio na sua articulação com as transformações ocorridas no meio rural por meio do avanço capitalista no campo. Tal avanço, por sua vez, é considerado como potencialmente gerador de sofrimento social, causador de processos de autoexclusão, levando ao suicídio. Neste sentido, como problema de pesquisa, questionou-se: o suicídio pode constituir-se em expressão do sofrimento social causado pelas transformações ocorridas no campo nos últimos anos, em decorrência dos processos de desenvolvimento capitalista? Assim, o objetivo deste estudo foi o de verificar se as transformações sociais e econômicas no meio rural poderiam estar gerando situações de precariedade acentuada, conduzindo à prática suicida. Como procedimento metodológico utilizou-se a triangulação metodológica, tanto no que condiz à coleta de dados quanto à sua análise. Os dados foram coletados junto ao Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde do Brasil (SIM/DATASUS), através dos Inquéritos Policiais abertos por ocasião da morte por suicídio e, por fim, por meio da necropsia verbal. Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva, por meio da análise de distribuição de frequência, a hermenêutica-dialética e a história de vida. O avanço dos modelos de desenvolvimento econômico e a incitação econômica a que os pequenos agricultores foram expostos nos últimos anos têm se refletido sobre seus modos de vida. Assim, novas formas de trabalho emergem no campo, seja através da pluriatividade, seja através da integração com a indústria. O rural cada vez menos é sinônimo de agrícola e, neste sentido, o cenário instaurado é de precariedade. Tal precariedade, por sua vez, tem gerado a perda dos objetos sociais que produzem sofrimento: sofrimento que permite viver, sofrimento que impede de viver e sofrimento que impede de sofrer o próprio sofrimento. Estas duas últimas dimensões do sofrimento são potencialmente causadoras de processos de autoexclusão e de autoalienação que acabam, não raras vezes, produzindo o suicídio ou produzindo sociopatologias cuja procedência encontra-se no cerne do próprio avanço capitalista no meio rural. Como conclusão tem-se que o meio rural cada vez mais se torna “desruralizado”, devido à presença de elementos urbanos que adentram em seu território. Tal processo de avanço capitalista, potencializado pelas indústrias que adentram no campo, traz novas formas de trabalho que, pouco a pouco, vão descaracterizando o campo como local agrícola, vinculado à produção de alimentos, assalariando e precarizando as relações de trabalho. Assim, são gerados processos de sofrimento social que acabam produzindo a depressão e o suicídio como sua manifestação mais pujante. Tais suicídios têm marcado a vida rural, expressando, de maneira indelével, que o meio rural tem se tornado deletério, espaço propício à instalação da morte. This thesis deals with the subject of suicide in its relation to the changes that have happened in the rural areas due to the capitalist advance in the countryside. This advance is considered potentially responsible for motivating social suffering, causing self-exclusion processes, leading to suicide. Having that in mind, the research question that aimed to be answered is: can suicide happen as an expression of the social suffering caused by the changes that took place in the countryside in the last years, as a consequence of the capitalist advance processes? Therefore, this study aims at verifying if the social and economic changes on the rural areas could be causing strong precariousness situations, leading to suicide. As methodological procedures the methodological triangulation was used, regarding to the way data was collected and also to their analysis. Data were collected from the Mortality Information System of the Ministry of Health of Brazil (SIM/DATASUS), considering the Police Inquiries opened in cases death was a suicide and, finally, through the verbal necropsy. To analyze the data, descriptive statistics was used, through the frequency distribution analysis, the hermeneutic-dialectic and the life history. The advance of the economic development models and the economic incentive that the small farmers were exposed to, in the last years, have reflected on their lifestyle. Therefore, new ways of working emerge in the countryside, through the pluriactivity or through the integration with industry. The rural is less and less a synonym of agricultural and, in this sense, the set up scenario is of precariousness. Such precariousness, in turn, has generated the loss of the social objects that causes suffering: suffering that enables people to live, suffering that prevents from living and suffering that prevents people from suffering their own suffering. These last two suffering dimensions are potentially the cause of the self-exclusion and self-alienation processes, that end up, not rarely, leading to suicide and causing sociopathologies which origin can be found in the capitalist advance in the rural areas itself. In conclusion, it is said that the rural areas become less and less “rural”, due to the presence of urban elements that are becoming part of the territory. This process of capitalist advance empowered by the industries that enter the countryside brings new kinds of jobs that, little by little, start depriving the characteristics of the countryside as an agricultural area, related to the food production, giving salaries and making the work relations more precarious. In this manner, social suffering processes are generated, which start causing depression and suicide, as the most powerful result of them. These suicides have been marking the rural life, expressing, in an indelible way, that the rural area has become deleterious, a propitious place to settle the death.