Doutoramento Gestão Industrial A teoria da internacionalização, já consolidada, tem como ponto de partida a internacionalização da produção e das vendas, e alguns dos investigadores desta área procuram aplicar os modelos existentes à internacionalização de I&D. Na presente dissertação, considera-se que as actividades de produção e vendas e as actividades de I&D têm características distintas e devem ser analisadas de acordo com as suas especificidades. A internacionalização de I&D, como actividade distinta da produção e das vendas, começou a ser estudada nos anos oitenta, e desde então foram propostos alguns modelos de organização de I&D internacional (estruturas centralizadas, policêntricas, redes heterárquicas, ou estruturas híbridas mais recentes que começam a considerar os conceitos de Inovação Aberta e Indústria de Investigação). Contudo, os contributos científicos existentes são ainda limitados e apresentam um grau elevado de heterogeneidade nas respectivas abordagens, o que pode sugerir a existência de um quadro conceptual ainda pouco consolidado e limita a sua aplicabilidade. No caso da indústria farmacêutica, que se confronta com a necessidade de aumentar a eficiência do processo de I&D, desenvolvido internacionalmente, a literatura académica carece de modelos de organização de I&D internacional que possam ser avaliados e aplicados pelos gestores que trabalham nesta indústria. Falta no quadro conceptual relacionado com a internacionalização de I&D, tanto uma compreensão clara sobre os modelos que podem ser utilizados para este efeito, como uma indicação sobre as possíveis variáveis que podem ser relevantes no contexto da I&D farmacêutica internacional. A presente investigação procura colmatar esta lacuna e responde a duas perguntas de investigação: a) Que modelos de organização de I&D internacional são aplicáveis à indústria farmacêutica? e b) Como gerir a I&D internacional na indústria farmacêutica? Para responder a estas questões, o trabalho foi organizado como se segue. Depois da revisão crítica da literatura sobre internacionalização e sobre internacionalização de I&D, desenvolveu-se um modelo holístico que permitia ultrapassar as insuficiências do quadro conceptual existente no sentido de proporcionar um quadro integrador das variáveis aplicáveis e das formas de organização associadas. Este modelo holístico de organização de I&D internacional representa um contributo conceptual importante da presente investigação. Seguiu-se uma análise das principais características da indústria farmacêutica, que foram utilizadas para desenvolver, a partir do modelo holístico, um modelo proposto de organização de I&D internacional aplicável nesta indústria. A estratégia de investigação utilizada para testar empiricamente o modelo proposto enquadrou-se no paradigma pragmático e consistiu na realização de um estudo de caso único, aprofundado e holístico, numa empresa farmacêutica. A recolha e a subsequente análise de dados basearam-se no modelo proposto de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica. Os principais resultados do trabalho de investigação prendem-se com: a) confirmação do modelo proposto de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica; b) identificação de variáveis relacionadas com a Inovação Aberta que devem ser incluídas em estudos futuros; c) necessidade de abordar a organização de I&D internacional de forma separada caso existam na mesma empresa tipos de I&D distintos, com sinergias mínimas; d) necessidade de abordar as redes de I&D internas e externas numa perspectiva integrada, numa óptica holística que permita gerir todas as interacções relevantes para as actividades de I&D. A investigação desenvolvida sugere, no âmbito de implicações para a gestão, a possibilidade de utilizar quer o modelo holístico, quer o modelo proposto para a indústria farmacêutica, como ferramenta de simulação de possíveis formas de organização de I&D internacional, escolhendo as variáveis dos respectivos modelos de acordo com a realidade de cada empresa ou sector de actividade. As medidas de política apontadas prendem-se com a regulamentação, e aplicam-se especificamente à indústria farmacêutica, uma vez que este aspecto foi confirmado no estudo empírico como sendo importante para a organização de I&D farmacêutica a nível internacional. A nível nacional, essas medidas passam por aumentar a celeridade e a clareza dos processos regulamentares, com vista a atrair empresas farmacêuticas que pretendem realizar ensaios no âmbito do processo de I&D e a ter um efeito positivo na redução do tempo de desenvolvimento. A nível internacional, as medidas de política mais eficazes relacionam-se com o desenvolvimento dos processos de normalização da regulamentação aplicável aos ensaios e à comercialização de medicamentos em vários países, com vista a reduzir o tempo despendido na compreensão de regulamentações diferentes e com vista a permitir um melhor planeamento e obtenção de dados nos ensaios clínicos. O modelo holístico de organização de I&D internacional e o modelo proposto para a indústria farmacêutica representam contributos úteis e originais para o quadro teórico existente. Estes modelos podem ser utilizados e desenvolvidos em estudos futuros por investigadores que pretendam analisar a temática da internacionalização de I&D, e podem evoluir para incluir novas variáveis. Futuras direcções de investigação devem incluir o teste dos modelos noutros sectores de actividade ou com outros métodos de investigação, com vista a validar a sua aplicabilidade noutras situações. The internationalization theory is based on internationalization of production and sales, yet some of the scholars associated to this area look to apply the internationalization models to internationalization of R&D. In this thesis, it is assumed that production and sales have different characteristics than R&D, and they should be studied according to their specificities. The internationalization of R&D, as specific firm activity, has been studied since the eighties, and ever since models of international R&D organization have been proposed (centralized or polycentric structures, heterarchical networks, or hybrid structures that start considering the concepts of Open Innovation and Research Industry). However, the scientific contributions to date are limited and are characterized by high heterogeneity in terms of approaches, which may indicate an insofar unconsolidated theory and limit its applicability. Regarding the pharmaceutical industry, which needs to increase the efficiency of its R&D process, developed internationally, there is a gap in academic models of international R&D organization that could be evaluated and applied by practitioners working in that industry. There is a lack of understanding of models that can be used, as well as of possible variables that can be used to study the internationalization of pharmaceutical R&D. This research looks to fill this gap and answers to two research questions: a) What models of international R&D organization apply to pharmaceutical industry? b) How can we manage international pharmaceutical R&D? To answer those questions, the research was organized as follows. After a critical literature review on internationalization and internationalization of R&D, a holistic model was developed. This model allows overcoming theoretical insufficiencies and integrates relevant variables and organization structures. This is an important conceptual contribution of the current research. Next, followed an analysis of key characteristics of the pharmaceutical industry. These were used to adapt the holistic model to the reality of that industry and resulted in a proposed model of international R&D organization in the pharmaceutical industry. The research strategy used to test empirically the proposed model fell into the pragmatic paradigm, and involved the development of a single in-depth case study in a pharmaceutical firm. The data collection and analysis were performed so as to inform the proposed model. The main results of the research are: a) confirmation of the proposed model of international R&D organization in the pharmaceutical industry; b) identification of variables related to Open Innovation that should be included in future studies; c) need to approach international R&D organization in different ways if there are distinct non-synergic types of R&D developed in the same firm; d) need to approach internal and external R&D networks in an integrated way, in a holistic approach that allows managing all interactions that are relevant for R&D. The research suggests that both the holistic and the proposed model can be used as a simulation tool to identify possible structures of international R&D organization in a specific firm, by choosing the variables according to the reality of each firm or industrial sector. Policy measures relate to regulation, and apply specifically to the pharmaceutical industry. At national level, there is need and space to increase the easiness and clearness of regulatory procedures, so as to attract pharmaceutical firms that intend to develop trials for their R&D process and to have a positive impact into the development time. At international level, there is a need to continue to develop the standardization procedures linked to pharmaceutical R&D in such a way that trials can be performed in safe and similar ways in most countries and reduce the necessity to perform additional tests for specific regulatory authorities. Both the holistic and the proposed model for international R&D organization are useful and original contributions to the current theory. Those models can be used and developed in future studies by scholars that intend to study internationalization of R&D and can evolve to include new variables. So, future studies should include testing the holistic model in other industrial sectors or using different research strategies, so as to validate their relevance in other situations.