Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, 2020. Esta pesquisa analisa a prática de ?comer fora? a partir dos food trucks, especialmente em food parks. tendo como objetivo principal entender as características e diferenças que adquirem principalmente a espacialidade, temporalidade e sociabilidade nas práticas sociais, decorrentes de sua emergência, em especial quando comparados a estabelecimentos fixos do comer fora de casa. Para a análise, utiliza-se a Teoria das Práticas (TP), com destaque para o conceito de prática enquanto nexus articulados (entendimentos, procedimentos e engajamentos), bem como abordagens de autores da Sociologia e Antropologia que, vinculados à TP, auxiliam a sanar algumas de suas lacunas e limitações teórico-analíticas. A pesquisa empírica foi realizada predominantemente na cidade de Curitiba/PR e estendida à Florianópolis/SC, com entrevistas a trinta atores sociais escolhidos pelo grau de participação e/ou influência política exercida no segmento em questão, além de observação participante. O estudo se inicia estabelecendo o percurso histórico da atividade de comércio ambulante de alimentos, para então analisar a emergência dos food trucks gourmets, as práticas empreendidas pelos proprietários desses caminhões no que tange as etapas de ingresso nesse segmento gastronômico, a organização e dinâmica de trabalho, e a interação/relacionamento com o consumidor. Argumenta-se que as legislações restritivas impostas a atividade dos food trucks resultam principalmente do conflito de interesses entre restaurantes fixos e proprietários de caminhões. Diante disso, demonstra-se como as entidades de classe do setor gastronômico se valem de sua influência política junto às secretarias e órgãos municipais, a fim de garantir o protagonismo dos segmentos que representam. Em contrapartida, os proprietários de food trucks ?navegam? nas lacunas deixadas pelas normas oficiais, das quais emergem os food parks. Estabelecendo um perfil comparativo, alega-se que, ao mesmo tempo em que se comportam como híbridos de restaurantes e praças de alimentação/fast food, esses novos espaços gastronômicos rompem com padrões historicamente adotados e difundidos pelos estabelecimentos fixos. Conclui-se, considerando que os food trucks em food parks ressignificam na articulação singular de categorias como temporalidade, espacialidade e sociabilidade. Com a oferta de um mix gastronômico (na combinação de food trucks) pautado em discursos de artesanalidade e gourmetização, se diferenciam das redes de fast food e demais opções de comidas de rua. Ao agregarem uma série de atividades de lazer à gastronomia, os food parks engendram o que se denomina eatertainment, uma prática capaz de ampliar o grau de engajamento entre frequentadores e espacialidade. A temporalidade passa a concatenar as caraterísticas do comer utilitário (para sanar a fome) e do comer hedônico (prazer) em períodos (tempo objetivo e subjetivo) que se mesclam entre o cotidiano e o extra cotidiano. Os food parks são assim espacialmente dinâmicos, contando com o auxílio direto ou indireto de seus frequentadores para que sejam continuamente criados e recriados. Atributos como liberdade, descontração e informalidade estão presentes na forma e conteúdo de tais espaços, resultando na flexibilização de regras e rituais alimentares (horários de ingestão, o que comer de acordo com a ocasião, hierarquias entre comensais, ordem dos alimentos, condutas adotadas durante as refeições), bem como em outras formas de sociabilidade pautadas em valores como empatia e tolerância, além da comensalidade. Esta pesquisa contribui para entender a complexidade do comer fora na atualidade, através de uma nova alternativa que tem ganhado espaços físicos importantes nas grandes cidades, a atenção de poderes públicos e legisladores, bem como despertado o interesse dos consumidores. Abstract: This thesis analyzes the practice of ?eating out? from food trucks, especially in food parks, having the main objective to understand the characteristics and differences that they acquired mainly the spatiality, temporality and sociability in the social practices resulting from its emergency, especially when compared to fixed establishments of eating out. For the analysis, it was used the Practice Theory (PT), with emphasis on the concept of practice as an articulated nexus (understanding, procedures and engagements), as well as approaches from Sociology and Anthropology authors that, linked to the PT, helps to remedy some of their theoretic-analytical gaps and limitations. The empirical research was carried out predominantly in the Brazilian city of Curitiba (State of Paraná) and extended to the city of Florianopolis (State of Santa Catarina), contemplating interviews with thirty social actors chosen by their degree of participation and/or political influence held in the referred segment, besides the participant observation. The thesis was initiated by establishing the historical path of the itinerant food activity, and then to perform the emergency analysis of the gourmet food trucks, the undertaken practices by their owners of those trucks regarding the stages of entry into this gastronomic segment, the organization and dynamics of work, and their interaction / relationship with the customer. It was argued that the restrictive legislations imposed to the segment mainly results from the conflict of interest between restaurants and truck owners. In addition, it was demonstrated how the legal entities of the gastronomic sector uses their political influence with the municipal organs and entities, with the objective to guarantee the protagonist of the segments that they represent. In contrast, the food trucks owners ?surf? on the gaps lead by the official norms that emerge the food parks. Establishing a comparative profile, it was claimed that at the same time that they behave as hybrid restaurants and food court/fast food, those new gastronomic spaces break with patterns historically adopted and spread by fixed establishments. Concluding that, considering that trucks food in food parks re-signify the singular connection of the categories as temporality, spatiality, and sociability. With the offer of a gastronomic mix (combining food trucks) based on speeches of craftsmanship and gourmetization, they differ from fast food chains and other street food options. By adding a range of leisure activities to gastronomy, the food parks generate what is called eatertainment, a practice capable of increasing the engagement level among regulars. The temporal age starts to concatenate the characteristics of utility eating (to cure hunger) and hedonic eating (pleasure) in periods (objective and subjective time) that merge between daily and extra daily. The food parks are spatially dynamic, accounting with the direct or indirect aid of its visitors so that they are continuously created and recreated. Attributes such as freedom, relaxation and informality are present in the form and content of such spaces, resulting in the easing of rules and food rituals (ingestion times, what to eat according to the occasion, hierarchies among diners, food order, adopted practices during meals), as well as in other forms of sociability based on values such as empathy and tolerance, in addition to commensality. This thesis contributes to understand the complexity of eating out today, through a new alternative that has gained important physical spaces in large cities, the attention of public authorities and legislators, as well as arousing the interest of consumers.