Introdução: INTRODUÇÃO: O câncer colorretal representa um dos diagnósticos oncológicos mais frequentes e cerca de metade dos pacientes diagnosticados com este tipo de tumor desenvolverão metástases hepáticas. A ressecção das metástases hepáticas de câncer colorretal (MHCR) é a melhor terapêutica na busca de ganho de sobrevida em longo prazo e cura. Os tratamentos especializados evoluíram no estadiamento (radiologia diagnóstica), no preparo pré-cirúrgico (radiologia intervencionista), no tratamento sistêmico (oncologia clínica) e no manejo operatório, de maneira que as hepatectomias são operações seguras e oferecem benefício oncológico, mesmo em casos de doença multinodular e bilateral. Apesar da progressiva melhora e complexidade terapêutica no manejo destes pacientes, na literatura, há pouca informação sobre a relação da multidisciplinaridade com desfechos oncológicos. OBJETIVO: Avaliar o impacto da abordagem multidisciplinar especializada nos dados demográficos, oncológicos, resultados operatórios e tardios dos pacientes operados para tratamento das MHCR no Serviço de Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. MÉTODOS: Estudo retrospectivo que comparou 2 períodos institucionais no tratamento das MHCR. Avaliados pacientes consecutivos submetidos à hepatectomia com intenção curativa e diagnóstico confirmado de MHCR, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2015, com seguimento até dezembro de 2018. ERA1 correspondeu ao período de experiência inicial do serviço (janeiro de 2000 a fevereiro de 2009) e ERA2 (março de 2009 a dezembro de 2015) que correspondeu ao período após adoção de ambiente multidisciplinar especializado. Analisou-se perfil demográfico, laboratorial, oncológico, resultados cirúrgicos e sobrevida (global e condicional). RESULTADOS: Foram operados 383 pacientes (402 hepatectomias), sendo 98 pacientes na ERA1 e 285 na ERA2. Na ERA1, os pacientes apresentavam maior valor médio de CEA (177,0 ng/dL vs. 70,3 ng/dL p < 0,001), maior tamanho médio do maior nódulo ressecado (47,5 mm vs. 33,9 mm p < 0,001) ao passo que, na ERA2, foi mais comum o diagnóstico de MHCR sincrônica (70,0% vs. 58,5% p = 0,041), bilobar (22,3% vs. 34,8% p = 0,025) e multinodular (22,8% vs. 11,5% p = 0,031). Na ERA2, houve exposição mais frequente à quimioterapia pré-operatória (77,3% vs. 34,1% p < 0,001). Nos resultados operatórios na ERA2, observou-se aumento no emprego de ressecções minimamente invasivas (22,2% vs. 1,1% p < 0,001), de hepatectomias menores (65,9% vs. 42,6% p < 0,001) e de ressecções não anatômicas (40,7% vs.12,8% p < 0,001). Houve, ainda, mudança no número de nódulos tratados por ablação por radiofrequência, ERA1 média de 3,1 nódulos vs. ERA2 média de 1,4 nódulos (p = 0,010). As complicações pós-operatórias foram semelhantes entre os grupos estudados (ERA1 32,3% vs. ERA2 36,3% p = 0,481) e houve menor número de pacientes que necessitou de transfusão na ERA2 (ERA1 35,9% vs. ERA2 16,7% p < 0,001). As margens cirúrgicas não apresentaram variações significativas entre ERAS. A sobrevida global em 5 anos foi de 34,5% para ERA1 e 48,0% para ERA2 (p = 0,011). No período de 1 a 5 anos, a sobrevida condicional em 5 anos variou de 35% a 62% na ERA1 e de 45,9% a 63,6% na ERA2. CONCLUSÃO: Os dados demográficos permaneceram estáveis entre os períodos estudados. O perfil oncológico diferiu entre os grupos, na ERA2, houve menor valor médio de CEA, menor tamanho médio das lesões operadas, maior frequência de doença sincrônica, bilobar e multinodular. O manejo cirúrgico observado na ERA2 demonstrou uso mais frequente de tratamento quimioterápico, e incremento de estratégias cirúrgicas e ablativas de preservação do parênquima, sem aumento de complicações e sem sacrifício de margens oncológicas. Por fim, a adoção de ambiente multidisciplinar especializado permitiu ganho de sobrevida global e condicional aos pacientes expostos às estratégias adotadas na ERA2 INTRODUCTION: colorectal cancer is one of the most frequent oncological diagnoses and along the course of the disease about half of the patients will develop hepatic metastasis. Liver resection is the best treatment for long-term survival and cure. Specialized treatment evolved on staging (diagnostic radiology), pre-surgical management (interventional radiology), systemic treatment (clinical oncology) and on surgical management, in a way that hepatectomies are safe operations and offer oncological benefits even in cases of bilateral and multinodular disease. Despite progressive improvement and increased complexity on the management of those patients, there is little information on the literature about the relationship of multidisciplinarity and oncologic outcomes. AIM: evaluate the impact of specialized multidisciplinary care on demographical and oncological data, as well as operative and late outcomes of patients undergoing liver resection for colorectal cancer liver metastasis (CRLM) on the Liver Surgery Unit, Hospital das Clínicas - University of Sao Paulo. METHODS: retrospective study comparing two institutional periods on the management of colorectal cancer liver metastases. Consecutive patients undergoing curative intent hepatectomy and histologically proven CRLM were evaluated between January 2000 to December 2015, with follow up until December 2018. Patients were allocated to two groups: ERA1 corresponded to the initial experience period (January 2000 to February 2009) and ERA2 (March 2009 to December 2015) corresponded to the period after the adoption of multidisciplinary specialized care. Demographic, clinical, oncological, perioperative and survival (global and conditional) data were analyzed. RESULTS: There were 383 patients (402 hepatectomies) being 98 patients in ERA1 and 285 in ERA2. In ERA1 patients presented higher mean CEA value (177.0 ng/dL vs. 70.3 ng/dL p < 0.001), larger mean volume of largest resected nodule (47.5 mm vs. 33.9 mm p < 0,001) and in ERA2 there were more synchronous (70.0% vs. 58.5% p = 0.041), bilobar (22.3% vs. 34.8% p=0.025) and multinodular CRLM (22.8% vs. 11.5% p=0.031). In ERA2 patients were exposed more frequently to preoperative chemotherapy (77.3% vs. 34.1% p < 0.001). Operative results indicated in ERA2 an increase in minimally invasive resections (22.2% vs. 1.1% p < 0.001), minor hepatectomies (65.9% vs. 42.6% p < 0.001) and non-anatomic resections (40.7% vs.12.8% p < 0.001). Additionally, the mean number of tumors undergoing radiofrequency ablation changed from 3.1 nodules in ERA1 to 1.4 nodules in ERA2 (p = 0.010). Postoperative complications remained unchanged between ERAs (ERA1 32.3% vs. ERA2 36.3% p = 0.481) and fewer patients required blood transfusion in ERA2 (ERA1 35.9% vs. ERA2 16.7% p < 0.001). Surgical margins didn\'t present significant variation between ERAS. Five-year global survival was 34.5% in ERA1 and 48.0% in ERA2 (p = 0.011). From the first to fifth year follow-up, five-year conditional survival ranged from 35% to 62% in ERA1 and from 45.9% to 63.6% in ERA2. CONCLUSION: Demographical data remained stable throughout the study period. Oncological profile varied between groups, in ERA2 there were lower CEA levels, smaller mean tumor diameter and higher incidence of synchronous, bilobar and multinodular tumors. Surgical management shifted in ERA2, being most patients managed with preoperative chemotherapy and parenchymal sparing surgery and thermo ablative procedures, without increasing complications or sacrificing surgical margins. At last, the adoption of a specialized multidisciplinary environment resulted in increased global and conditional survival for patients exposed to the strategies adopted in ERA2