Tese de Doutoramento em Gestão na especialidade de Estratégia apresentada à Universidade Aberta A divergência entre países e regiões, como consequência dos processos de integração económica, parece ser hoje uma regra, mais que uma excepção. Na origem deste fenómeno parecem estar, assumindo cada vez um maior protagonismo, as atitudes estratégicas dos agentes económicos perante os desafios que estes processos lhes colocam. Com a globalização e a perda de poder dos estados soberanos, estas atitudes estratégicas, protagonizadas pelos agentes económicos mais activos, têm origem, de uma maneira geral, numa crescente capacidade evidenciada pelos mesmos para conceberem e implementarem estratégias que, devidamente orientadas no sentido da competitividade, acabam por ter a virtude de catalizar o desenvolvimento das próprias nações e promover a sua prosperidade. Perante a inconsistência de alguns dos critérios das teses da economia neoclássica, nomeadamente em termos de convergência automática entre países ou regiões, a teoria económica parece ter sido capaz de desenvolver um novo corpo teórico à altura das novas exigências, consubstanciado através do surgimento, na década de 90, da Nova Geografia Económica. Este novo corpo teórico tem a grande virtude, em nosso entender, de aliar saberes de índole macro e microeconómica, aumentando o seu carácter explicativo através do uso intensivo de técnicas matemáticas, desenvolvidas a partir dos conhecimentos da economia industrial, e ajustando os seus pressupostos a uma realidade cada vez mais caracterizada pela concorrência imperfeita e por essa importância acrescida que os agentes económicos assumem – em particular as empresas – na definição dos padrões competitivos das regiões onde se localizam. Desta forma, a NGE contribui para explicar, de uma maneira mais adequada, estes processos de convergência e divergência regional. Todavia, este novo corpo do saber económico evidencia, em nosso entender, algumas lacunas em matéria dos próprios pressupostos inerentes a esta actuação estratégica dos agentes económicos – a qual constitui a essência da dinâmica dos respectivos modelos. Estas, se devidamente consideradas, poderão ajudar a retirar-lhe algum carácter determinístico em matéria de resultados, nomeadamente no que concerne às suas previsões quase inevitáveis de divergência para as regiões periféricas dos processos de integração económica. Entendemos que a reacção empresarial, empreendida através de estratégias empresariais pró-activas ou, pelo contrário, mais reactivas, não constitui, até ao presente, um campo devidamente explorado neste novo corpo teórico. Ao tentarmos enriquecer a teoria com apports teóricos do campo da gestão estratégica, acreditamos que a dotaremos de maior poder explicativo e maior aderência à realidade, fazendo com que a mesma possa, desta forma, contribuir de forma mais efectiva, para o desenvolvimento e para a diminuição das desigualdades regionais hoje patentes, ao mesmo tempo que se promove um encontro mais efectivo entre dois ramos tão complementares do saber do mundo de hoje: a Economia e a Gestão. Todavia, aquilo que defendemos a este respeito só se torna activo, se os agentes económicos destas regiões periféricas tiverem, efectivamente, essa capacidade de actuação estratégica e não assumirem uma atitude padronizada e passiva que parece ser, afinal, aquilo que a teoria contempla em matéria da sua actuação. Perante o ciclo de divergência com os padrões europeus em que Portugal se encontra – e que parece dar razão ao que preconiza a NGE para regiões periféricas como é o caso do nosso país –, a pergunta que fizemos foi a seguinte: será que as empresas a operar em Portugal evidenciam capacidade em matéria de gestão estratégica que lhes permita contrariar a evolução vivida nos últimos anos em matéria de divergência com a Europa? A resposta a esta questão passou, na presente tese, por várias etapas: (i) em primeiro lugar por perceber o melhor possível os mecanismos de funcionamento da NGE, como teoria que enquadra todo o cenário de integração europeia, o qual constitui o cenário de base para o funcionamento das empresas portuguesas; (ii) em segundo lugar, alertar para as possíveis falácias de alguns pressupostos da NGE, nomeadamente no que concerne ao mecanismo de actuação estratégica empresarial, o motor crítico dos mecanismos de convergência e divergência que se operam nas regiões; (iii) em terceiro lugar tentar provar o efectivo ciclo de divergência que a economia portuguesa vem atravessando nos últimos anos, fazendo-o, não apenas na perspectiva macroeconómica mas, igualmente, indo de encontro ao que preconiza a NGE e avaliando as alterações estruturais, em matéria microeconómica e no padrão de especialização evidenciado pela indústria portuguesa; (iv) finalmente, analisar, à luz dos princípios teóricos essenciais da Estratégia, qual o estado da arte da gestão estratégica que é praticada pelas empresas nacionais e, a partir daqui, avaliar a capacidade das mesmas para implementarem verdadeiras estratégias competitivas, as únicas que têm efectiva capacidade para contrariar o ciclo de divergência previsto pela NGE para a região periférica que é Portugal. No final, concluiu-se que não era possível dizer que as empresas portuguesas, na sua maioria, demonstram padrões estratégicos objectivos que lhes permitissem, na prática, contrariar os efeitos negativos decorrentes dos movimentos de integração, bem como as próprias estratégias competitivas dos seus concorrentes além fronteiras. Acreditamos que os resultados deste trabalho ajudaram a desvendar algumas das relações que se estabelecem no interior dessas “caixas negras” que ainda continuam a ser as organizações empresariais para a teoria económica em geral, particularmente no que respeita às relações do domínio estratégico que se estabelecem no seu seio. Ao identificarmos aspectos concretos onde falha a capacidade da gestão no domínio estratégico, acabámos por apontar áreas críticas que dificultam a capacidade competitiva da economia nacional, identificando, simultaneamente, áreas prioritárias de actuação das políticas públicas e, em particular, de educação mas, igualmente, dos próprios gestores e outras instituições ligadas ao mundo empresarial. Assumindo-se que a principal fonte de criação de riqueza, nas economias contemporâneas são as suas organizações empresariais com fins lucrativos, os resultados obtidos poderão ajudar a perceber que tipo de condições se devem criar dentro dessas organizações para que as mesmas possam conceber e implementar verdadeiras Estratégias Empresariais e, só depois, pensar em matéria de competitividade (para elas próprias, e para o país, como um todo). Para um país como Portugal, a importância desta análise é manifesta. Este é um assunto que, não só tem a ver com a posição e desenvolvimento relativo do país no seio de outros países comunitários, como também se prende com a prosperidade da população e a posição relativa de desenvolvimento de cada região face às demais, e ao nível de desenvolvimento regional entre diferentes regiões e países no seio da UE.