Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) As florestas, ainda hoje, representam uma importante fonte de bens e serviços para os grupos humanos em todo o planeta. Em regiões áridas, por exemplo, elas desempenham um papel crucial na promoção do balanço ecológico, social e econômico, sustentando os modos de vida da população. Apesar da sua importância, estas regiões têm sido ameaçadas por políticas ambientais ineficazes, secas cada vez mais intensas e frequentes e atividades humanas adversas, tais como uso intensivo da terra para agricultura e pasto, urbanização acelerada e crescimento da população. Atrelado a isso, as populações humanas que habitam as regiões áridas são, em geral, as mais pobres e vulneráveis do planeta. Nesse sentido, a pobreza é também um dos aspectos que acarretam na superexploração de recursos naturais para suprir as necessidades da população, o que acelera o processo de degradação ambiental. Tal situação demanda políticas efetivas para promover a equidade social e a conservação da biodiversidade, objetivos estes que podem ser facilitados por meio de um entendimento integrado: (1) das condições que levam as pessoas a utilizarem e dependerem dos recursos naturais locais; (2) da importância do ambiente para suprir as necessidades financeiras e de subsistência da população pobre; e (3) de como as pessoas vulneráveis respondem às estratégias que promovem a conservação da biodiversidade local por meio da imposição de limites de acesso aos recursos naturais dos quais elas dependem. Esta pesquisa aborda estes três pontos, correspondendo a um capítulo diferente cada, com o objetivo geral de alcançar um entendimento mais aprofundado das dimensões social, econômica e ecológica da resiliência de sistemas socioecológicos em regiões semiáridas. Este estudo foi desenvolvido na Caatinga, um bioma rico em biodiversidade que está localizado na porção nordeste do Brasil e engloba as maiores taxas de pobreza do país. Utilizamos questionários semiestruturados para entrevistar 254 informantes residentes em 21 comunidades rurais distribuídas em cinco polígonos previamente selecionados no estado do Rio Grande do Norte. No primeiro capítulo, encontramos que algumas das características socioeconômicas das famílias rurais, juntamente com as condições de inserção urbana às quais as comunidades estão submetidas, direcionaram a frequência de uso dos recursos naturais num contexto local. Os hábitos culturais da população podem explicar porque alguns recursos são continuamente utilizados independentemente das diferenças na renda e influências urbanas entre os entrevistados. No segundo capítulo, estimamos que o valor econômico dos recursos naturais do semiárido supera os US$ 40.000,00, considerando um único uso de um recurso específico por informante dentro de um período de cinco anos, e verificamos que estes recursos contribuem principalmente para a geração de renda de subsistência (23,5% da renda total) das famílias. Observamos também que a renda dos recursos naturais é maior para as famílias com maior renda total, o que pode ser consequência da utilização de produtos com maior valor econômico derivado, como madeira para construção e carne de caça. Por fim, no terceiro capítulo, observamos que as pessoas que perceberam as proibições de acesso aos recursos naturais como um prejuízo às suas famílias tenderam a aceitar cenários de conservação menos restritos, contrariamente àquelas que possuíam um maior nível de educação formal. As políticas ambientais devem ser direcionadas a auxiliar especialmente aquelas pessoas que são mais dependentes dos recursos locais a fim de contribuir para a melhoria do seu processo de adaptação em lidar com os impactos decorrentes das medidas de conservação. Os recursos do semiárido são fundamentais para a manutenção da cultura das populações rurais e como estratégia de subsistência. Devemos, então, garantir que estas populações sejam empoderadas, assistidas e incluídas no processo de decisão sobre a proteção da Caatinga. To date forests remain a source of several goods and services for human groups all over the globe. Dryland forests, for instance, play a crucial role in promoting ecological, social and economic balance, supporting people’s livelihoods. Nevertheless, dryland regions have been imperiled by ineffective environmental policies, droughts that are increasingly more intense and sequential, and adverse human activities, such as intensive land use for agriculture and pasture, rapid urbanization, and population growth. Besides, human populations living in dry landscapes are often some of the poorest and most vulnerable in the world. Poverty is also one of the aspects that lead people to overexploit natural resources to supply their needs, accelerating environmental degradation. This situation claims for effective policies to promote social equality and biodiversity conservation, which could be facilitated through an integrated understanding of: (1) the conditions that drive people to use and depend on local natural resources; (2) the importance of the environment to supply subsistence and financial needs for the poor; and (3) how vulnerable people would respond to strategies to promote local biodiversity conservation that limits the access to the natural resources they depend upon. This research approaches these three points, each one corresponding to a different chapter, with the overall goal of achieving a better understanding of the social, economic, and ecological dimensions of the resilience of semi-arid social-ecological systems. The study was conducted in the Caatinga, a biodiversity rich biome that lies in the northeast portion of Brazil and encompasses the highest rates of poverty in the country. We used semi-structured questionnaires to interview 254 respondents living in 21 rural communities, spread throughout five distinct previously selected polygons in the state of Rio Grande do Norte. In the first chapter, we found that some of the rural households’ socioeconomic characteristics, together with urban insertion conditions that rural communities are submitted to, played a part in driving the frequency of use of natural resources in a local context. Cultural habits may explain why some resources are continuously used regardless of differences in income or of urban influences amongst the respondents. In the second chapter, we estimated that the economic value of semiarid natural resources exceeded US$ 40,000.00, considering a solely use of a specific resource by an informant in the period of five years, and we verified that these resources accounted primarily for the household’s subsistence income (23.5% of the total income). We also noticed that the household income from forestry resources is higher for wealthier households, which may result from the use of high economically valued products, such as timber for construction and game meat. Finally, in the third chapter we found that people who felt that an eventual prohibition to access the resources would harm their families tended to accept less restrictive conservation scenarios, in opposition to those with a higher level of formal education. Thus, we should direct environmental policies to support especially those people that depend the most on local resources in order to enhance their adaptation process to deal with the impacts of promoting conservation efforts. Finally, we verified that semiarid resources are essential to the maintenance of rural population’s culture and as a subsistence strategy. Thus, we should guarantee these populations are empowered, assisted and included in the decision making process regarding the Caatinga conservation. 2021-07-17