Assessores de investimento, ou agentes autônomos de investimento, prestam serviços concomitantemente a instituições de distribuição e investidores, servindo, portanto, a dois “soberanos” cujos interesses podem divergir. Sob perspectiva de custos de agência e custos de transação e considerando o imperativo de proteção dos investidores no mercado de valores mobiliários, o presente trabalho teve o objetivo de responder à seguinte pergunta de pesquisa: quais são as eventuais fragilidades dos regimes jurídicos aplicáveis a assessores de investimento para proteger o investidor de varejo contra conflito de interesses? Após análise de fontes inéditas, como contratos celebrados por assessores de investimento, políticas de compliance aplicáveis a esses agentes e entrevistas com especialistas, este trabalho constatou indícios de potencial de conflito de interesses resultante dos modelos de contratação e remuneração de assessores atualmente praticados no mercado. Analisando regimes jurídicos aplicáveis a esses agentes – regulatório e cível –, identificou-se ferramentas jurídicas para endereçar a hipótese de conflito de interesses, que incluem denúncia ou representação perante a CVM e a BSM, requerimento ao Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos, ajuizamento de ação judicial individual ou coletiva e denúncia ao departamento de ouvidoria da instituição à qual o assessor está vinculado. Essas ferramentas, no entanto, encontram limites à efetiva proteção do investidor, como a inexistência de jurisprudência consolidada na CVM sobre sancionamento de conflito de interesses de assessores de investimento e a complexidade e custos para produção de provas de dano no âmbito judicial, dentre outros. Por isso, ao final, este trabalho propõe sugestões de aprimoramento das normas jurídicas aplicáveis aos assessores de investimento, combinando diferentes estratégias regulatórias (i.e., distintos graus de intervenção e ferramentas jurídicas) que são complementares entre si. Dentre as sugestões, inclui-se as de promulgar normas de incentivo à educação financeira, especificar de forma não taxativa, na regulação da CVM, os deveres do assessor perante o investidor e explicitar a prevalência dos interesses do investidor frente aos demais participantes do mercado de capitais e, ainda, criar um dever de fundamentação de recomendações do assessor ao investidor, a constar no extrato mensal de investimento do cliente, para reduzir assimetria informacional e dificuldades práticas encontradas pelos investidores para aferir a qualidade e fiscalizar os serviços que lhes são prestados. Brazilian investment advisors – or “autonomous investment agents”, as referred in Portuguese – offer their services to both brokerage firms and investors, thus, serving two “sovereign parties” whose interest may diverge. Under the framework of agency and transaction costs and considering the directive of investors’ protection in the securities market, this academic work sought to respond the following research question: what are the possible fragilities in the Brazilian legal frameworks applicable to financial advisors in protecting retail investors against conflicts of interests? After a thorough analysis of unprecedented sources, such as copies of contracts effectively executed by financial advisors, compliance policies applicable to these agents, and interviews with experts, this research found evidence that the current hiring and payments conditions of Brazilian financial advisors have the potential to generate conflict of interests in detriment of investors. By analyzing legal frameworks applicable to these advisors – regulatory and private –, this research concluded that there are legal tools to address financial advisors’ conflict of interests, which include complaint before the Brazilian Securities Market’s Commission and private regulator, plea for the private Mechanism of Investors’ Compensation, filling of individual or class action lawsuits, and report for the brokerage firm’s ombudsman or compliance department. However, these tools face limits to protect investors, such as the incipient case law of the Securities Market’s Commission and the complexity and discovery costs in judicial proceedings borne by investors, among other limits. Due to these limits, this work proposes some legal enhancements to the legal norms and tools at hand, consisting of a combination of regulatory strategies (i.e., different level of intervention and legal tools) that support one another. The proposed enhancements include norms to foster financial education among Brazilian citizens, specify financial advisors’ regulatory duties and explicit the duty to prevail the investor’s interesses in comparison to other participants of the securities’ market, and create a duty to justify investment advices to investors, in order to mitigate investors’ information asymmetry and practical obstacles to evaluate the quality and monitor the services they consume.