Dissertação (mestrado)—Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, 2006. A epidemiologia da infecção urinária na infância varia dependendo da idade e gênero. O diagnóstico e manejo adequados desta patologia previnem seqüelas que levam ao desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica ou insuficiência renal crônica, ambas com alta morbimortalidade. Nessa perspectiva, foi realizado um estudo transversal com o objetivo de analisar as alterações encontradas no diagnóstico e manejo de crianças menores de dois anos de idade, com o primeiro episódio de infecção urinária; identificar os agentes etiológicos mais freqüentes, bem com o perfil de resistência antimicrobiana encontrado e verificar as alterações funcionais e morfológicas do trato urinário detectadas por meio da investigação diagnóstica tendo como campo de estudo o Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) de Porto Alegre/RS. Foram amostradas 92 crianças com idade mediana de 6 meses (3 - 10), 63% eram meninas. Com idade inferior a 3 meses, foram 27 (29%) pacientes, destes, 62% eram meninos. Quanto à análise qualitativa de urina, observou-se a presença de nitrito e leucocitúria, em 37% e 95,6% respectivamente. Na urocultura, o germe mais incidente foi a Escherichia coli, em 87 (94,6%) das amostras, foram encontrados também Proteus mirabilis (1%), Enterococcus (2%), Serratia sp (1%), Klebsiella (1%). Chamou atenção o alto índice de resistência para alguns antimicrobianos: ampicilina 57,6%, cefalosporinas de 1º geração 32,6%, sulfametoxazol/trimetoprim 43,5%; a resistência a cefalosporinas (2º geração), nitrofuratoína e ácido nalidíxico ficaram abaixo de 3,5%. A ecografia abdominal apresentou alterações em 43,5% dos casos, foi observado refluxo vesicoureteral em 34,7% dos pacientes, sendo que apenas 7,6% das crianças tiveram refluxo grau III ou mais. Através da cintilografia com DMSA, realizada entre o primeiro e quarto mês pós-infecção, detectaram-se 23 (25%) pacientes com hipocaptação do radioisótopo pelo parênquima renal, destes, 14 (60,9%) não apresentaram alterações na uretrocistografia. Ocorreram 8 (8,7%) reinfecções num período de 6 meses, o fator que mostrou relação significativa com esta ocorrência foi a presença de refluxo grau III ou mais. Conclusão: a Escherichia coli foi o agente etiológico mais freqüente. Foram encontrados altos índices de resistência bacteriana para antimicrobianos de uso freqüente, indicando a necessidade de um melhor planejamento na escolha da terapia. Ficou sugerida a necessidade de realização de cintilografia com DMSA em todos os casos, mesmo sem outras alterações nos exames de imagem para detectar alterações do parênquima que possam permanecer como cicatriz renal. A presença de refluxo vesicoureteral grau III ou mais aumenta o risco de reinfecção, mesmo com profilaxia antimicrobiana. ________________________________________________________________________________________ ABSTRACT The epidemiology of urinary tract infection during childhood varies depending on age and gender. An adequate diagnostic and treatment of children after a urinary infection is necessary to prevent long-term medical problems, such as hypertension and reduced renal function. The aim of this study is to analyse clinical changes found in children younger than two years which experienced their first urinary infection, to identify the etiology agents and the resistence bacterial characters and the morphology changes followed by the establishment of diagnostics and evaluations in the Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA) in Porto Alegre/RS. The study includes 92 children, with average age of 6 months (3-10) in which 63% were girls. There were 27 (29%) patients younger than 3 months in which 62% were boys. In relation to the urinalysis, there were 37% of positive nitrite and 95,6% of leukocytes in urine specimen. Regarding the urine culture, the most incident microorganism isolated was Escherichia coli, found in 87 (94,6%) of the urine specimens. Also, it was found isolated Proteus mirabilis (1%), Enterococcus (2%), Serratia (1%) and Klebsiella (1%). Through this study it is evident the high bacterial resistance for some of the antimicrobials: ampicillin 57,6%, cephalosporin (first generation) 32,6%, sulfamethoxazole/trimethopim 43,5%. In addition to that, the resistance to cephalosporin (second generation), nitrofuratoin and nalidixic acid were lower than 3,5%. The renal ultrasound has changed in 43,5% of the cases. It was observed vesicoureteral reflux in 34,7% of the patients, although only 7,6% of the children had reflux degree III or more. Throughout the dimercaptossuccinic acid scintilography done between the first and the forth year from infection, it was possible to diagnosed 23 (25%) of patients with renal changes. Fourteen (60,9%) did not show any alteration in the cystourethrography. There were 8 (8,7%) reinfections within a 6 months period, even with prophylaxis, and the presence of reflux degree III or more was the only one with significative relation. Conclusion: the Escherichia coli was the most frequent etiologic agent. There were high levels of bacterial resistance to the antimicrobials used frequently, therefore, it is evidence the need of a better planning before starting the therapy. It has been suggested the importance to accomplish dimercaptossuccinic acid scintilography for all urinary infection in children, even without other changes with the image exams to detect alteration of the parenchyma that could become a renal scar. The existence of vesicoureteral reflux degree III or more increases the risk of reinfection even with prophylaxis.