Atualmente, o número de indivíduos obesos no mundo tem atingido proporções alarmantes, o que tem chamado muita atenção devido às alterações metabólicas, imunológicas e ainda, à maior susceptibilidade a doenças infecciosas que a obesidade pode desencadear. Nos últimos anos tem surgido estudos que buscam esclarecer qual o impacto da adiposidade também nas infecções parasitárias. Entretanto, ainda não existem estudos sobre a associação entre obesidade e giardíase, a parasitose mais frequente em países desenvolvidos e com elevada prevalência em países em desenvolvimento. Como a prevalência de ambas as doenças se sobrepõe em diversas áreas, é importante avaliar se esta parasitose seria influenciada pelas debilidades na resposta imunológica de hospedeiros obesos. Foram utilizados 42 gerbils, machos, com idade média de 25 semanas, distribuídos em 6 grupos, com 7 animais cada: Controle (CT), Controle Infectado por 1 semana (CTIN) e Controle Infectado por 2 semanas (XCTIN), recebendo dieta com 68%, 7% e 20% de calorias provenientes de carboidratos, lipídeos e proteínas, respectivamente; Obeso (OB), Obeso Infectado por 1 semana (OBIN) e Obeso Infectado por 2 semanas (XOBIN), com dieta contendo 42%, 37,5% e 20% de calorias provenientes de carboidratos, lipídeos e proteínas, respectivamente. Na 10ª semana de experimento, os animais dos grupos CTIN, XCTIN, OBIN e XOBIN foram infectados com Giardia lamblia, oralmente, permanecendo infectados por 7 ou 14 dias, conforme o grupo, quando todos animais foram eutanasiados e coletados sangue, intestino delgado, tecido adiposo, fígado, baço e conteúdo fecal. Os animais foram pesados semanalmente utilizando-se balança com escala. A avaliação bioquímica, as dosagens séricas de glicemia, proteínas totais, albumina, colesterol e triglicerídeos foram determinadas por ensaio enzimático. As dosagens de citocinas foram feitas por ELISA. A determinação dos lípides hepáticos e fecais foi realizada conforme descrito por Folch e colaboradores. A avaliação do estresse oxidativo baseou-se na dosagem da concentração de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico, na dosagem de catalase e de superóxido dismutase. Para análise histológica, a porção proximal do intestino delgado, uma fração do fígado e do tecido adiposo epididimal foram coletadas, fixadas e destinadas à obtenção de cortes e coloração com Hematoxilina & Eosina. A altura das vilosidades, profundidade de criptas e área total ocupada por gordura foram calculadas através do software KS300 contido no analisador de imagens Carl Zeiss. Os resultados foram expressos em média±erro padrão, utilizando-se os testes de Shapiro-Wilk, para verificar a normalidade da amostra e a Análise de Variância, seguida do teste de Newman-Keuls ou de Dunn para comparação entre os grupos experimentais. Utilizou-se o programa Prisma versão 6.0, considerando-se um nível de significância de 5%. Observou-se que os gerbils obesos apresentaram maior peso corporal, dos pesos relativos do tecido adiposo e do fígado, dislipidemia, maior deposição hepática de gordura total, colesterol e triglicerídeos, além da alteração da produção de adipocinas, tornando-o bom modelo para o estudo desta patologia associada ou não à infecção parasitária. A infecção por G.lamblia nos animais controle acarretou em lesão nas vilosidades e criptas intestinais, aumento de inflamação na submucosa e maior expressão de citocinas no intestino, principalmente na primeira semana de infecção. Além disso, provocou maior inflamação no tecido adiposo e deposição de lípides no fígado que se reestabeleceram na semana seguinte. Em obesos, não houve aumento de IL-2, 5 e 6 suficientemente permanente para conter a infecção, causando maior lesão no intestino e mais estresse oxidativo no fígado. Os grupos OBIN e XOBIN apresentaram ainda maior excreção de lípides nas fezes e XOBIN menor peso e adiposidade. Gerbils são modelos efetivos para estudo da obesidade induzida pela dieta. Além disso, a obesidade induzida pela dieta ocasionou alterações imunológicas e morfométricas em vários tecidos dos gerbils que prejudicaram a contenção do processo infeccioso por G. lamblia. Nowadays, the number of obese people in the world has reached alarming proportions, which has brought so much attention because of the metabolic, immunological and the increased susceptibility to infectious diseases that obesity can trigger. In recent years, the number of studies that seek to clarify the impact of adiposity also in parasitic infections have been increasing. However, there are no studies on the association between obesity and giardiasis, the most frequent parasitic disease in developed countries with a high prevalence in developing countries. As the prevalence of both diseases overlap in many areas, it is important to evaluate if this parasitosis would be influenced by the weaknesses in the immune response of obese hosts. 42 gerbils, males with a mean age of 25 weeks were used, divided into 6 groups with 7 animals each: control (CT), Infected Control for 1 week (CTIN) and Infected Control for 2 weeks (XCTIN), receiving diet with 68%, 7% and 20% of calories from carbohydrates, lipids and proteins, respectively; Obese (OB), Obeso Infected for 1 week (OBIN) and obese Infected for 2 weeks (XOBIN) with diet containing 42%, 37.5% and 20% of calories from carbohydrates, lipids and proteins, respectively. In the 10th week of the experiment, the animals of the groups CTIN, XCTIN, OBIN and XOBIN were orally infected with Giardia lamblia, and remain infected for 7 or 14 days, according to the group, when all animals were euthanized and collected blood, small intestine, adipose tissue, liver, spleen and fecal contents. The animals were weighed weekly using scale. For biochemical evaluation, serum glucose, total protein, albumin, cholesterol and triglycerides were determined by enzymatic assay. Cytokines dosages were performed by ELISA. The determination of liver and fecal lipids was performed as described by Folch et al. The evaluation of oxidative stress was based on the determination of the concentration of thiobarbituric acid reactive substances and the dosage of catalase and superoxide dismutase. For histological analysis, the proximal portion of the small intestine, a fraction of liver and epididymal adipose tissue were collected, fixed and intended for obteaining sections and staining with Hematoxylin & Eosin. The villus height, crypt depth and the total area occupied by fatty liver were calculated using the KS300 software from the Carl Zeiss image analyzer. The results were expressed in mean ± standard error, using the Shapiro-Wilk test to verify the normality of the sample, and analysis of variance, followed by Newman-Keuls or a Dunn's test for comparisons between experimental groups. We used the Prism version 6.0, considering a 5% significance level. It was observed that obese gerbils showed higher body weight, relative weight of adipose tissue and liver, dyslipidemia, increased hepatic deposition of total fat, cholesterol and triglycerides in addition to changed adipokines production, making it a good experimental model for this disease with or without parasitic infection. G.lamblia infection in control animals resulted in intestinal villi and crypts injury, increase submucosal inflammation and increased expression of cytokines in the intestine, especially in the first week of infection. Furthermore, it caused increased inflammation in adipose tissue and lipid deposition in the liver that reestablished the following week. In obese, there was no permanent increase in IL-2, 5 and 6 sufficiently to contain the infection, causing greater damage in the intestine and more oxidative stress in the liver. The OOBIN and XOBIN groups still showed a higher excretion of lipids in feces and XOBIN lower weight and adiposity. Gerbils are effective models for the study of obesity induced by diet. In addition, the diet-induced obesity caused immunological and histological changes in various tissues of gerbils that impaired the containment of the G. lamblia infection.