Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior A obesidade é um dos principais problemas de saúde pública, sendo geralmente identificada pelo índice de massa corporal (IMC). Apesar do IMC ser uma ferramenta prática e de baixo custo, não diferencia a massa muscular, óssea e gordurosa. Nesse sentido, outros fenótipos da obesidade vêm sendo estudados, como a obesidade de peso normal (OPN) e metabolicamente obeso de peso normal (MOPN), que caracterizam pessoas que possuem IMC adequado, porém excesso de gordura corporal e alterações metabólicas, respectivamente. Poucos estudos examinaram a magnitude desses fenótipos e seus fatores associados, especialmente na adolescência. Portanto, objetivou-se verificar a prevalência e fatores associados a fenótipos da obesidade em adolescentes. Trata-se de um estudo transversal, realizado com 800 adolescentes de 10 a 19 anos, de ambos os sexos, selecionados nas escolas do município de Viçosa, MG. Foram aplicados questionários para obtenção das informações sociodemográficas, história familiar de doenças, estilo de vida e autopercepção corporal. O consumo alimentar foi avaliado pelo Questionário de Frequência de Consumo Alimentar e o nível de atividade pelo Questionário Internacional de Atividade Física. Além disso, foram aferidos pressão arterial, perímetros do pescoço, quadril e da cintura (PC), peso e altura, e a composição corporal foi avaliada pela bioimpedância elétrica e pela densitometria óssea de dupla emissão. Foram calculados índices de composição corporal, IMC, relação cintura/quadril (RCQ) e cintura/estatura (RCE). Determinou-se o perfil lipídico, glicídico, insulinemia, ácido úrico, leucócitos totais e subpopulações, bem como o cálculo dos índices triglicerídeos-glicemia (TyG) e HOMA-IR. Foram aplicados testes de hipótese de acordo com a distribuição das variáveis, além de modelos de regressão brutos e ajustados por potenciais confundidores. Como resultados, observou-se que a prevalência dos fenótipos, avaliada segundo diferentes critérios de diagnóstico, diferiram entre si em magnitude, variando de 0% para a definição de IMC normal e síndrome metabólica a 23,3% (IC95%20,4-26,1) para IMC normal e uma alteração metabólica. A OPN se associou positivamente com PC (OR=1,36; IC95%1,27-1,47), RCE (OR=25,89; IC95%10,43-64,26), gordura androide (OR=1,49; IC95%1,36-1,63), resistência à insulina (OR=4,09; IC95%1,72-9,70), hiperinsulinemia (OR=3,83; IC95%1,50-9,76), maiores valores do TyG (OR=4,28; IC95% 1,21-15,08) e ácido úrico (OR=1,81; IC95%1,29-2,55); bem como a alterações no LDL (OR=3,39; IC95%1,47-7,81), colesterol total (OR=2,77; IC95%1,22-6,29) e em pelo menos dois componentes da síndrome metabólica (OR=6,61; IC95%1,45-30,19). A chance da OPN aumenta com a idade (OR=1,14; IC95%=1,04-1,26), é menor em adolescentes do sexo masculino (OR=0,21; IC95%0,11-0,41) e maior naqueles com histórico de dislipidemia familiar (OR=1,81; IC95%1,01-3,28). Adolescentes satisfeitos com seu corpo (OR=0,30; IC95%0,16-0,56) e fisicamente ativos (OR=0,44; IC95%0,24-0,81) têm menor chance de OPN, além de apresentarem maior chance de uso de adoçantes (OR=3,84; IC95%1,70-8,65). O fenótipo MOPN se associou positivamente com PC (RP=1,05; IC95%1,03-1,08), RCE (RP=1,23; IC95%1,07-1,41), RCQ (RP=1,25; IC95%1,07-1,47), relação das gorduras androide/ginoide (RP=1,34; IC95%1,19-1,51), tronco/perna (RP=2,67; IC95%1,64-4,32) e tronco/braço (RP=1,12; IC95%1,04-1,21), índice de carga e capacidade metabólica regional (RP=11,03; IC95%3,41-35,65) e índice de massa gorda (RP=1,10; IC95%1,02-1,22). Conclui-se que o IMC normal não protege necessariamente contra riscos cardiometabólicos e a inclusão de medidas de gordura corporal em contextos clínicos pode permitir uma identificação mais precisa dos fenótipos OPN e MOPN. Palavras-chave: Obesidade de peso normal. Obeso de peso normal. Metabolicamente obeso de peso normal. Peso normal metabolicamente não saudável. Adiposidade. Síndrome metabólica. Composição corporal. Obesidade. Adolescente. Obesity is one of the main public health problems, being generally identified by the body mass index (BMI). Although BMI is a practical and low-cost tool, it does not differentiate muscle, bone and fat mass. In this sense, other obesity phenotypes have been studied, such as normal weight obesity (NWO) and metabolically obese normal weight (MONW), which characterize people who have adequate BMI, but excess body fat and metabolic changes, respectively. Few studies have examined the magnitude of these phenotypes and their associated factors, especially in adolescence. Therefore, the objective was to verify the prevalence and factors associated with obesity phenotypes in adolescents. This is a cross-sectional study, carried out with 800 adolescents aged 10 to 19 years, of both sexes, selected in schools in the municipality of Viçosa, MG. Questionnaires were applied to obtain sociodemographic information, family history of diseases, lifestyle and body self-perception. Food consumption was assessed by the Food Consumption Frequency Questionnaire and the level of activity by the International Physical Activity Questionnaire. In addition, blood pressure, neck, hip and waist circumference (WC), weight and height were measured, and body composition was assessed by electrical bioimpedance and double emission bone densitometry. Body composition indexes, BMI, waist- hip ratio (WHR) and waist-to-height ratio (WHtR) were calculated. The lipid, glycidic profile, insulinemia, uric acid, total leukocytes and subpopulations were determined, as well as the calculation of triglyceride-glycemia (TyG) and HOMA-IR indices. Hypothesis tests were applied according to the distribution of variables, in addition to crude regression models and adjusted by potential confounders. As a result, it was observed that the prevalence of phenotypes, assessed according to different diagnostic criteria, differed in magnitude, ranging from 0% for the definition of normal BMI and metabolic syndrome to 23.3% (95%CI=20.4- 26.1) for normal BMI and a metabolic alteration. NWO was positively associated with WC (OR=1.36; 95%CI=1.27-1.47), WHtR (OR=25.89; 95%CI=10.43-64.26), android fat (OR=1.49; 95%CI=1.36-1.63), insulin resistance (OR=4.09; 95%CI=1.72-9.70), hyperinsulinemia (OR=3.83; 95%CI=1.50-9.76), higher TyG values (OR=4.28; 95%CI=1.21- 15.08) and uric acid (OR=1.81; 95%CI=1.29-2.55); as well as changes in LDL (OR=3.39; 95%CI=1.47-7.81), total cholesterol (OR=2.77; 95%CI=1.22-6.29) and in at least two components of the metabolic syndrome (OR=6.61; 95%CI=1.45-30.19). The chance of NWO increases with age (OR=1.14; 95%CI=1.04-1.26), is lower in male adolescents (OR=0.21; 95%CI=0.11-0, 41) and higher in those with a family history of dyslipidemia (OR=1.81; 95%CI=1.01-3.28). Adolescents satisfied with their body (OR=0.30; 95%CI=0.16-0.56) and physically active (OR=0.44; 95%CI=0.24-0.81) have a lower chance of NWO, in addition to have a greater chance of using sweeteners (OR=3.84; 95%CI=1.70-8.65). The MONW phenotype was positively associated with WC (PR=1.05; 95%CI=1.03-1.08), WHtR (PR=1.23; 95%CI=1.07-1.41), WHR (PR=1.25; 95%CI=1.07-1.47), android / ginoid fat ratio (PR=1.34; 95%CI=1.19-1.51), trunk/leg (PR=2.67; 95%CI=1.64-4.32) and trunk/arm (PR=1.12; 95%CI=1.04-1.21), load index and regional metabolic capacity (PR=11.03; 95%CI=3.41 35.65) and fat mass index (PR=1.10; 95%CI=1.02-1.22). It is concluded that the normal BMI does not necessarily protect against cardiometabolic risks and the inclusion of body fat measurements in clinical settings may allow a more accurate identification of the NWO and MONW phenotypes. Keywords: Normal weight obesity. Normal weight obese. Metabolically obese normal weight. Metabolically unhealthy normal weight. Adiposity. Metabolic syndrome. Body composition. Obesity. Adolescent.