Diante do contexto social e histórico que tem na construção do adolescente e do jovem pobre e negro o inimigo social a ser perseguido, as políticas públicas de um Estado penal são efetivadas através da punição e do castigo, em vez de fortalecerem a proteção e a garantia de direitos humanos. Esta pesquisa buscou elucidar como essa situação tem trazido graves e danosas consequências sociais relacionadas ao fortalecimento ideológico punitivista, ao extermínio da juventude pobre e às políticas repressivas e de encarceramento. Para tanto, partimos das discussões da criminologia crítica como ferramenta analítica para compreender a criminalização do trabalhador do tráfico varejista de drogas, em um diálogo com a Psicologia do Trabalho para compreendermos o mundo do trabalho precário atual, em que o tráfico de drogas varejista figura, com destaque, como uma atividade econômica que possibilita inclusão, ainda que marginal. Mostramos discursos normativos, jurídicos, da mídia hegemônica, do senso comum e dos saberes psicológicos que, sobretudo, funcionam como saberes à disposição de um poder punitivo que têm fortalecido os estigmas a respeito desses jovens. O objetivo desta pesquisa consistiu em compreender a trajetória de trabalho de um jovem criminalizado pelo Estado Penal. Através de abordagem qualitativa, utilizamos o método biográfico, baseado em entrevistas narrativas. Esta ferramenta privilegiou, em uma perspectiva psicossociológica, o acesso à trajetória de vida do sujeito, que, ao longo da pesquisa de campo, relatou seu percurso de trabalho, narrando de maneira aprofundada sua atividade no tráfico de drogas e seu ofício como florista, passando pelo trabalho realizado durante o cumprimento da medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade. Os resultados evidenciaram que o trabalho, seja em atividades marginais, ilegais e informais ou naquelas circunscritas à legalidade, formais e regulamentadas, é espaço de construção de identidade, reconhecimento e valor, podendo ter valências múltiplas quanto à construção dos sujeitos, a depender das possibilidades concretas encontradas e dos sentidos possíveis de serem produzidos, em um âmbito singular de cada experiência. Chegamos à compreensão de que o tráfico varejista de drogas está fundamentalmente assentado sobre o trabalho de crianças e jovens adolescentes, implicando em risco, violência e morte para essa população, de modo que essa exploração de mão de obra se mostra como uma urgência a ser superada. Quando o trabalho é utilizado como forma de penalização e punição, como a colocação, no cumprimento da medida de prestação de serviços à comunidade, dos jovens em atividades pouco valorizadas, resta comprometida sua possibilidade de promover o desenvolvimento humano, resultando em repercussões psicossociais relacionadas à vergonha e à humilhação, demarcando que o lugar no mundo produtivo reservado a esses jovens é o trabalho invisível e desvalorizado, reforçando seu caráter marginal. Concluímos que o trabalho formal, enquanto direito, pode possibilitar uma travessia identitária e psicossocial, favorecendo a construção de uma identidade revestida de valor, mas que a via profissional não deve ser a única via de superação da situação da exploração da mão de obra de crianças e jovens adolescentes no tráfico varejista de drogas, pois é fundamental o fortalecimento de uma outra via, a da garantia de acesso aos direitos humanos de modo amplo In view of the social and historical context in which the teenager and the poor and black young people are the social enemy to be persecuted, the public politics of a criminal state are carried out in the sense of punishment, instead of strengthening the protection and guarantee of human rights. This research has sought to elucidate how this situation has brought serious and damaging social consequences related to the punitive ideological strengthening, the extermination of poor youth and repressive and imprisoning policies. We started from the theoretical perspective of Critical Criminology as an analytical tool to understand the criminalization of drug traffickers in a dialogue with Labor Psychology to understand the world of precarious work today, where drug trafficking retailer figures with highlighted as an economic activity that allows for inclusion, even if marginal. We also started from theoretical discussions that have in their center the criminalization directly related to the place that occupies in the social division of labor. We show normative and legal discourses of the hegemonic media, of common sense, of psychological knowledge that, above all, function as knowledge at the disposal of a punitive power that strengthens the stigmas about these young people. The objective of the research was to understand the work´s trajectory of a young person criminalized by the Criminal State. In a qualitative approach, the research was based on the biographical method, based on narrative interviews. This tool privileged, in a psychosociological perspective, the access to the life trajectory of the participant, who, throughout the field research, reported his work course. He narrated in depth his activity in drug trafficking and his profession as a florist, going through the work done during the sentence of provision of community services. The results obtained showed that the work, whether in marginal, illegal and informal activities or in those circumscribed to legality, formal and regulated, is a space of construction of identity, recognition and value, being able to have multiple valences regarding the construction of the persons, depending on the concrete possibilities encountered and the possible senses of being produced, within a unique scope of each experience. We come to the realization that drug trafficking retailing is fundamentally based on the work of children and young adolescents, implying risk, violence and death for this population, so that exploitation of labor appears as an urgency to be overcome. When work is used as a form of penalization and punishment, such as the placement of young people in activities that are not valued enough on the sentence of provision of community services to the community, their potential to promote human development is compromised, resulting in psychosocial repercussions related to shame and humiliation, demarcating that the place in the productive world reserved for these young people is the invisible and devalued work, reinforcing its marginal character. We conclude that formal work, as a right, can enable an identity and psychosocial change andcrossing, favoring the construction of an identity clothed in value, but that the professional way should not be the only way to overcome the situation of labor exploitation of children and adolescent youth in drug trafficking, but rather the guarantee and access to human rights in a broad way