PT. O período da Ditadura Militar no Brasil (1964 – 1985) envolve uma série de práticas dentre as quais destaca-se a influência dos Estados Unidos na condenação internacional do uso de substâncias psicoativas, principalmente com o acirramento da Guerra Fria e as repercussões cotidianas do combate ao comunismo. Além disso, uma série de medidas legais e penais oficializaram o usuário de drogas enquanto criminoso, gerando enquadramentos penais ou em tratamentos de saúde, para os sujeitos considerados doentes. Nesse contexto, diversos meios de comunicação e diferentes práticas artísticas passaram a ser considerados pela Escola Superior de Guerra como instrumentos de subversão, ao passo que a imprensa apoiadora do regime divulgava informações sobre os perigos das drogas, alimentando as representações sobre o usuário de drogas. É em tal período que ocorre a ascensão do jornal Folha de S. Paulo, como empresa de mídia aliada do governo ditatorial que logo tornou-se um dos jornais de maior circulação do país. Com isso, identificam-se os enquadramentos do usuário de drogas a partir de matérias nacionais veiculadas na Folha de S. Paulo durante a Ditadura. No acervo virtual do periódico, identificaram-se 325 textos jornalísticos, e após um processo de afunilamento e categorização, elegeram-se algumas para a análise. A partir delas constatou-se os elementos constituintes dos enquadramentos do usuário de drogas como criminoso (geralmente pertencente às camadas mais pobres da população e que além de usuários tornavam-se traficantes, sendo que em casos mais graves envolviam-se em homicídios) ou como doente (indivíduos cujo grau de dependência da substancia comprometia sua vida em sociedade, necessitando de tratamentos em clínicas, grupos de apoio ou comunidades terapêuticas), bem como o destaque dado pelo veículo de comunicação sobre o tema ao longo do período ditatorial. *** EN. The period of military dictatorship in Brazil (1964 - 1985) was shaped by a variety of factors, including the influence of the United States in the international repression of the use of psychoactive substances, which became more pronounced with the intensification of the Cold War and the day-to-day side-effects of the fight against communism. A series of legal and penal measures criminalized this consumption, establishing penal or health care provisions for individuals considered to be ill. Various media and artistic practices were perceived at the time as instruments of subversion by the Military Academy, while pro-regime press outlets disseminated information on the dangers of drugs, constantly fueling representations of drug users. During the same period, the daily Folha de S. Paulo gained traction as a media company backing the dictatorship. It rapidly became one of the country's most widely circulated newspapers. We examine the framing of drug users in articles on national topics published in Folha de S. Paulo during the dictatorship. After extracting 325 journalistic texts from the newspaper's electronic archives, we sorted and classified them to select some for analysis. This corpus enabled us to identify the key elements employed to frame drug users either as criminals (generally from the poorest strata of the population, who, in addition to being consumers, were also traffickers and, in the most serious cases, involved in homicides) or sick persons (individuals whose degree of addiction threatened ability to live in society, in need of medical treatment in a clinic, via a support group or a therapeutic community). It allows to understand the importance given to this topic by this press outlet throughout the dictatorship. *** FR. La période de la dictature militaire au Brésil (1964 - 1985) a été marquée par diverses pratiques, notamment l'influence des États-Unis dans la répression internationale de la consommation de substances psychoactives, qui s'est accentuée avec l'intensification de la guerre froide et les répercussions quotidiennes de la lutte contre le communisme. Un ensemble de mesures légales et pénales a par ailleurs criminalisé cette consommation, établissant des cadres en matière pénale ou de soins de santé pour les individus considérés comme malades. Divers médias et pratiques artistiques ont alors été perçus par l'École supérieure de guerre comme des instruments de subversion, tandis que les organes de presse favorables au régime diffusaient des informations sur les dangers des drogues, alimentant ainsi les représentations du consommateur de stupéfiant. C'est à cette époque que le quotidien Folha de S. Paulo a pris de l'ampleur en tant qu'entreprise de presse alliée à la dictature, se plaçant rapidement parmi les journaux à plus fort tirage du pays. Nous nous sommes intéressés aux cadrages du consommateur de stupéfiant à partir d’articles sur des sujets nationaux publiés dans Folha de S. Paulo pendant la dictature. Après avoir extrait 325 textes journalistiques des archives électroniques de ce journal, nous avons procédé à un travail de tri et de classification afin d'en sélectionner certains pour l'analyse. Sur la base de ce corpus, nous avons pu identifier les éléments constitutifs du cadrage du consommateur de stupéfiant en tant que criminel (généralement issu des couches les plus pauvres de la population et qui, en plus d'être consommateur, se retrouvait trafiquant et dans les cas les plus graves, impliqué dans des homicides) ou en tant que malade (un individu dont le degré d’addiction compromettait la vie en société, ayant besoin d’un traitement dans une clinique, ou via un groupe de soutien ou une communauté thérapeutique), ainsi que la place accordée à ce sujet par cet organe de presse durant toute la dictature. ***