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Este trabalho tem por objetivo apresentar o romance Assombro, de Chuck Palahniuk, como retrato e sintoma do comportamento da sociedade pós-moderna ocidental, cujos valores correspondem, de acordo com palavras do próprio autor, ao “inverso do sonho americano”. A principal característica de tal sociedade é a dificuldade dos indivíduos em lidar com as exigências e constantes mudanças nos âmbitos individual, social e psicológico, o que se configura na obra do escritor estadunidense através de personagens marginais em busca (na maioria das vezes, aparentemente inconsciente) de autoaceitação ou adaptação social. A leitura desenvolvida aqui se baseia principalmente nos escritos do teórico francês Jean Baudrillard, que apresenta o pressuposto de que o mundo contemporâneo encontra-se num estado de “pós-orgia”, assombrado por três fantasmas que o teórico chama de câncer, travesti e terrorismo, os quais simbolizam questões sociais contemporâneas relacionadas à política, sexualidade, comunicação e relacionamentos humanos, entre outros aspectos. Os conceitos de Baudrillard que norteiam a análise são: 'estado de pós-orgia', 'hiperrealidade', 'simulação', 'virulência' e 'sedução' e 'fantasmas'. O trabalho também apresenta as características da literatura de Chuck Palahniuk e sua recém-iniciada fortuna crítica, apontando os principais aspectos da sociedade pós-moderna presentes em suas obras e culminando em um cotejo de Assombro com o gótico e sua vertente pós-moderna, além de uma comparação entre a dinâmica estabelecida entre as personagens do romance e aquela percebida nos reality shows e falsos documentários (mock-documentaries). A conclusão retoma aspectos na estrutura, imaginário e conteúdo do romance, que permitem defini-lo como retrato e sintoma de uma nova configuração social, resultado das inevitáveis mudanças por que o mundo passa. This dissertation aims at presenting Chuck Palahniuk‟s novel Haunted as a portrait and symptom of the behavior perceived in the postmodern Western society, whose values, according to the author himself, correspond to “the opposite of the American Dream”. The main characteristic of such society is the individuals‟ difficulty in dealing with demands and constant changes in the individual, social and psychological spheres, a fact observed in the work of this American writer through the presence of marginal characters in a more often than not apparently unconscious search of self-acceptance or social adaptation. The reading proposed is mainly based on the writings of French theoretician Jean Baudrillard, who presents the assumption that the contemporary world is in a “post-orgy” state, haunted by three phantasies he denominates cancer, transvestitism and terrorism, which symbolize contemporary social issues related to politics, sexuality, communication and human relationships, among other aspects. The concepts by Baudrillard that underlie the analysis are: 'post-orgy state', 'hyperreality', 'simulation', 'virulence', 'seduction' and 'phantasies'. The work also presents the features of the literature produced by Chuck Palahniuk and its newly-started critical fortune, highlighting the main aspects of postmodern society present in his works, culminating with an approximation of Haunted to the postmodern variation of Gothic literature, besides a comparison between the dynamics established among the characters in the novel to the one perceived in reality shows and mock-documentaries. The conclusion strengthens aspects in the structure, imaginary and content of the novel that enable the definition of Haunted as portrait and symptom of a new social organization, resulting from the inevitable changes the world goes through.

Submitted by Mirna CEH/B (mirnalindenbaum@gmail.com) on 2021-11-30T15:37:09Z No. of bitstreams: 1 Tese - Luciano Cabral da Silva - 2021 - Completa.pdf: 1257456 bytes, checksum: 5d4fd340e015a90d417cc10c699e8d26 (MD5) Made available in DSpace on 2021-11-30T15:37:09Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Tese - Luciano Cabral da Silva - 2021 - Completa.pdf: 1257456 bytes, checksum: 5d4fd340e015a90d417cc10c699e8d26 (MD5) Previous issue date: 2021-02-26 This PhD dissertation focuses on four American true crime narratives of the second half of the 20th century about multiple killers: (1) Harold Schechter’s Deviant: the shocking true story of Ed Gein, the original psycho (1989); (2) Don Davis’s The Jeffrey Dahmer Story: an American nightmare (1991); (3) Ann Rule’s The Stranger Beside Me: the shocking inside story of serial killer Ted Bundy (1980); and (4) Truman Capote’s In Cold Blood: a true account of a multiple murder and its consequences (1965). I develop my argument through a discussion of these offenders as they are transformed into monstrous figures to excite the affect of fear in readers. This analysis necessarily brings three elements together: multiple killers, monsters, and the rhetoric of monstrosity. A multiple killer is a person who commits more than one murder, a phenomenon divided into (i) mass killers; (ii) spree killers; and (iii) serial killers. In horror fiction, monsters are scientifically non-explainable beings compounded by three ingredients: (a) abnormality; (b) lethality; (c) impurity. Finally, the rhetoric of monstrosity relies on the narrative strategies true crime authors of multiple killer accounts use to foreground monstrosity, and consequently arouse fear. So far, four strategies have been identified: (1) locus horribilis; (2) gothic qualities; (3) graphic descriptions; and (4) people’s reactions. Noël Carroll (2009, p. 16) defines fictional horror monsters as extraordinary creatures in our ordinary world, powerful enough to affect human characters physically (for being a threat to life) and cognitively (for being made of opposed categories: animal/human, dead/alive, animate/inanimate, etc.). The hypothesis made is that, although not marked by those inexplicable features which shape horror monsters, multiple killers (for they exist in our very real world) are equally monstrous; not for their abnormal bodies, but for their abnormal actions. However, these offenders do not present themselves as naturally horrible; on the contrary, they are as ordinary as any other human being. Thus, to offer readers an entertaining account, true crime authors make use of narrative strategies of the rhetoric of monstrosity, in order to shape an ordinary murderer into an extraordinary figure, as frightening as a fictional horror monster Esta tese de doutorado põe em foco quatro narrativas de true crime estadunidenses da segunda metade do século 20 sobre assassinos múltiplos: (1) Deviant: the shocking true story of Ed Gein, the original psycho, de Harold Schechter (1989); (2) The Jeffrey Dahmer Story: an American nightmare, de Don Davis (1991); (3) The Stranger Beside Me: the shocking inside story of serial killer Ted Bundy, de Ann Rule (1980); e (4) In Cold Blood: a true account of a multiple murder and its consequences, de Truman Capote (1965). Desenvolvo meu argumento através da discussão desses criminosos enquanto figuras monstruosas que suscitam o efeito de medo nos leitores. Minha análise aproxima indispensavelmente três elementos: assassinos múltiplos, monstros e a retórica da monstruosidade. Um assassino múltiplo [multiple killer] é uma pessoa que comete mais de um homicídio, um fenômeno que se divide em: (i) mass killers; (ii) spree killers; e (iii) serial killers. Nas ficções de horror, monstros são seres que a ciência contemporânea não consegue explicar, compostos de três aspectos: (a) anormalidade; (b) letalidade; e (c) impureza. Por fim, a retórica da monstruosidade envolve as estratégias narrativas que escritores de true crime sobre assassinos múltiplos utilizam para trazer à tona a monstruosidade desses criminosos – consequentemente, provocando o medo. Neste trabalho, quatro estratégias são identificadas: (1) locus horribilis; (ii) qualidades góticas [gothic qualities]; (iii) descrições detalhadas [graphic descriptions]; e (iv) reações [people’s reactions]. Noël Carroll (1990, p. 16) define os monstros ficcionais de horror como criaturas extraordinárias em um mundo ordinário, capaz de afetar os personagens humanos física (pois são uma ameaça à vida) e cognitivamente (pois são formados por categorias conflitantes: animal/humano; morto/vivo; animado/inanimado, etc.). A hipótese apresentada é a de que, embora careçam dos atributos inexplicáveis que caracterizam o monstro de horror, assassinos múltiplos (por existirem no nosso mundo real) são também monstruosos; não por seus traços físicos anormais, mas por suas ações anormais. No entanto, esses criminosos não se apresentam como indivíduos naturalmente horríveis. Pelo contrário, eles são tão comuns quanto qualquer outra pessoa. Assim, para que se ofereça um relato que entretenha seus leitores, os escritores de true crime lançam mão das estratégias narrativas da retórica da monstruosidade, a fim de transformarem um assassino comum em um figura extraordinária, tão horrível quanto um monstro ficcional de horror