Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Psicologia na área de especialização de Psicologia Clínica apresentada no ISPA – Instituto Universitário no ano de 2020. A presença de limitações físicas e/ou intelectuais, assim como a idade da vítima, são referidas na literatura internacional como características de especial vulnerabilidade para a vitimação sexual. Contudo, os estudos são escassos no que diz respeito aos fatores motivacionais relacionados com a agressão de pessoas com especial vulnerabilidade. As Teorias/Modelos etiológicos sugerem, como característica comum específica das vítimas, o facto de, na sua maioria, estarem dependentes de terceiros. De acordo com a literatura sobre a agressão sexual perpetrada sobre esta franja populacional, a facilidade de acesso à vítima, representa um importante fator motivacional na passagem ao ato. Contudo, para que esta ocorra, outros fatores terão de estar presentes. As distorções cognitivas reúnem consenso na literatura, suportando a minimização ou legitimação dos comportamentos. Paralelamente, défices ao nível da regulação emocional dos agressores, tendem a ser compensados com recurso a estratégias de coping sexual, contribuindo para o acentuar de comportamentos compulsivos, fortemente associados à agressão sexual. Alicerçadas nas dinâmicas sexuais dos sujeitos, as atitudes sexuais tendem a surgir associadas a práticas impessoais e de instrumentalização, com vista à gratificação sexual. Este estudo teve como objetivo principal consolidar o conhecimento acerca das características associadas à perpetração de violência sexual em grupos com especial vulnerabilidade. Para tal, recorreu-se-se a três amostras de forma a dar resposta aos objetivos específicos. A primeira amostra resultou de 72 processos individuais de reclusos, a cumprir pena de prisão efetiva por crimes de abuso sexual de crianças e menores dependentes e teve como objetivo desenvolver um Modelo exploratório baseado na técnica dos perfis criminais, que permitisse descrever as práticas abusivas, relação com as vítimas e oportunidade, assim como a capacidade de assumir a responsabilidade pelo crime; A segunda amostra foi constituída por quatro abusadores sexuais condenados pelo crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência por razão de anomalia, psíquica ou físicas, aos quais foram realizadas quatro entrevistas visando identificar e descrever o conteúdo das suas narrativas, permitindo assim definir diferenças/especificações em comparação com outras tipologias de agressores; A terceira, e última amostra, foi constituída por 141 sujeitos, sendo que 41.8% (n=59) eram reclusos a cumprir pena de prisão efetiva por crimes de abuso sexual de crianças e menores dependentes e 58.2% (n=82) sujeitos pertencentes à população geral, tendo-se como objetivo analisar diferenças entre abusadores sexuais e a população geral, ao nível das distorções cognitivas, estratégias de coping sexual, e atitudes sexuais. Procurou-se assim estabelecer os pressupostos necessários para desenvolver um Modelo preditivo hierárquico baseado nestas variáveis. Dos resultados obtidos no primeiro estudo, foi possível definir um Modelo com quatro tipologias criminais, sendo que em 78.8% dos casos configuravam agressão ocrrida em contexto intrafamiliar, com um acesso privilegiado às vítimas. Os resultados do segundo estudo revelaram que as cognições formuladas pelos abusadores de pessoa incapaz de resistência, por razão de anomalia psíquica ou física, apresentam contornos de legitimação e/ou minimização das situações de abuso semelhantes aos presentes na literatura, ainda que com uma argumentação específica ao nível da capacidade da vítima consentir nos contactos sexuais. O terceiro estudo permitiu demonstrar que a presença de distorções cognitivas, estratégias de coping sexual e atitudes sexuais, permitem distinguir com uma acuidade 82% entre um grupo de agressores sexuais e a população geral. Em suma, esta investigação consolida o conhecimento existente sobre a agressão sexual e apresenta resultados empíricos que apontam para a relevância das variáveis cognitivas, no comportamento sexual violento. Paralelamente, os resultados obtidos sugerem a necessidade de aprofundar a investigação junto de vítimas especialmente vulneráveis, uma vez que as características dos seus agressores tendem a ser diferenciadas face a outras tipologias, o que poderá ter impacto na definição dos planos de intervenção e na avaliação de risco futuro destes sujeitos. The presence of physical and/or intellectual limitations, such asd age is referred to in the international literature as characteristics of particular vulnerability to sexual victimization. However, studies are scare concerning motivational factors related to aggression of vulnerable victims. Theories / etiological models suggest, as a common characteristic specific to the victims, the fact that most of them are dependent on third parties. According to the literature on sexual assault perpetrated on this population fringe, the ease of access to the victim represents a crucial motivational factor in the passage to the act. However, for this to occur, other factors will have to be present. Cognitive distortions bring together consensus in the literature, supporting the minimization or legitimization of behaviors. At the same time, deficits in terms of the offenders' emotional regulation tend to be compensated with the use of sexual coping strategies, contributing to the accentuation of compulsive behaviors, strongly associated with sexual aggression. Based on the subjects' sexual dynamics, sexual attitudes tend to emerge with impersonal and instrumentalization practices, with a view to sexual gratification. This study aimed to consolidate knowledge about the characteristics associated with the perpetration of sexual violence in groups with particular vulnerability. For this, three samples were used in order to meet specific objectives. The first sample resulted from 72 individual cases of inmates, serving an effective prison sentence for crimes of sexual abuse of children and dependent minors and aimed to develop an exploratory model based on the technique of criminal profiles, which would allow describing the abusive practices, relationship with victims and opportunity, as well as the ability to take responsibility for the crime; The second sample consisted of four sex offenders convicted of the crime of sexual abuse of a person unable to resist due to anomaly, psychic or physical, to which four interviews were conducted in order to identify and describe the content of their narratives, thus allowing to define differences / specifications compared to other types of aggressors; The third, and last sample, consisted of 141 subjects, 41.8% (n = 59) being inmates serving an effective prison sentence for crimes of sexual abuse of children and dependent minors and 58.2% (n = 82) subjects belonging to the general population, aiming to analyze differences between sexual abusers and the general population, based on the presence of cognitive distortions, sexual coping strategies, and sexual attitudes. Thus, we sought to establish the necessary assumptions to develop a hierarchical predictive model based on these variables. From the results obtained in the first study, it was possible to define a Model with four criminal typologies, and in 78.8% of the cases, it was aggression from within the family context, with privileged access to the victims. Second study results revealed that the cognitions formulated by the abusers of people unable to resist, due to psychic or physical anomalies, present contours of legitimation and/or minimization of abuse situations similar to those found in the literature, although with a specific argument in terms of the victim's ability to consent to sexual contacts. The third study showed that cognitive distortions, sexual coping strategies, and sexual attitudes, allow an 82% accuracy to be distinguished between a group of sexual aggressors and the general population. In short, this investigation consolidates the existing knowledge about sexual aggression and presents empirical results that point to the relevance of cognitive variables in violent sexual behavior. At the same time, it presents results that suggest the need to deepen the investigation of especially vulnerable victims, since the characteristics of their offenders tend to be differentiated from other types, which may have an impact on the definition of intervention guidelines and the assessment of the future risk of these individuals.