Um retalho vem de uma peça de tecido que, outrora, compunha um todo e tinha uma outra utilidade. É um fragmento, uma parte extraída de um outro contexto. Retalhos podem ser remodelados, justapostos, costurados, para formar uma nova configuração, uma nova peça: uma colcha de retalhos, por exemplo. Em cada retalho, uma história latente. Usamos esta imagem para nos aproximarmos da microssérie Hoje é Dia de Maria 1ª Jornada. Exibida em 2005 pela Rede Globo, escrita por Luis Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho, dirigida por este último, a microssérie se constrói a partir da reciclagem intensa de referências, citando e aludindo a outras imagens e cenas do cinema, da literatura, das artes visuais, da própria televisão brasileiros, com destaque especial para outras narrativas em que a problemática nacional esteve em jogo. Além disso, Hoje é Dia de Maria 1ª Jornada explicita seus artifícios narrativos: seja pela presença de personagens que se dirigem diretamente ao telespectador, seja pela artificialidade do cenário em domo e pela presença de objetos animados. Nesse processo, a produção se mostra intensamente metaficcional: tanto por expor sua construção e seu trabalho de linguagem, como por compor uma ficção que remete a outras ficções. Investigamos, nesta pesquisa, a possibilidade de atribuir a esta segunda dimensão metaficcional uma interpretação alegórica, entendida a alegoria como estratégia de escritura e leitura de textos que lança mão de uma série de fragmentos (incluídas intertextualidades), de modo a fazer emergir a crise entre experiência e linguagem. Nossa pesquisa pretende, em resumo, investigar como são mobilizados e a que servem os elementos metaficcionais de Hoje é Dia de Maria 1ª Jornada, bem como identificar que significações a microssérie engendra a partir da costura de variadas referências, destacando-se aquelas que tematizam, de diferentes maneiras e em diferentes contextos, uma presumida brasilidade. De forma mais precisa, perguntamos: o uso peculiar desses elementos pode ser interpretado como uma estratégia alegórica? A scrap is a piece of cloth which once comprised a whole unit and had a different utility. It is a fragment, a part taken from a different context. Scraps can be reworked, juxtaposed, stitched to form a new configuration, a new piece: a patchwork quilt, for example. In each scrap, there may be a latent history. We use this image to approach the micro-series Today is Marys Day 1st Day. Broadcasted in 2005 by Rede Globo, written by Luis Alberto de Abreu and Luiz Fernando Carvalho and directed by the latter, the micro-series is constructed from intense recycled references, quoting and alluding to other images and scenes from audiovisual, literature, visual arts, and to Brazilian television itself with particular attention to other narratives in which the national problematic was at stake. Also, Today is Mary´s Day - 1st Day makes explicit its narrative devices by the presence of characters that directly address the viewers, by the artificiality of the circular setting and by the presence of animated objects. In this process, the production proves to be highly metafictional as it exposes its own construction and working of language, as well as it writes a fiction which refers to other fictions. In this research, we investigate the possibility of assigning an allegorical reading to this second metafictional dimension. In this sense, allegory is understood as a strategy for writing and reading texts that make use of a variety of fragments (including intertextuality), so as to emerge the crisis between experience and language. In sum, our research aims to investigate how the metafictional elements of Today is Mary´s Day - 1st Day are mobilized and what its functions are. It also aims to identify the micro-series meanings it engenders from the sewing of various references, and highlight those that thematise in different ways and in different contexts, a presumed Brazilianness. More precisely we ask: can the peculiar use of these elements be interpreted as an allegorical strategy?