Introdução: A dependência de smartphone (DS) tem causado consequências negativas na sociedade atual, mas ainda não foi reconhecida como uma doença, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento dos indivíduos afetados. O reconhecimento dos fatores associados, das características neuropsicológicas e das características fisiológicas pode constituir evidencia empírica da validade do constructo como um transtorno. A DS foi associada ao fato de ser estudante, sexo feminino, idade jovem, renda familiar alta, alta impulsividade, baixo autocontrole e dificuldade de adiar recompensas. Ainda não foram estudados os fatores associados à DS na população brasileira e não foi pesquisada a associação entre a DS, a satisfação com o suporte social e a qualidade de vida, fatores esses que impactam a funcionalidade e podem contribuir para a diferenciação entre o uso funcional e a dependência de smartphone. Estudos prévios também demonstraram que os indivíduos com as síndromes de dependências já reconhecidas como doenças apresentam um viés no processo de tomada de decisão, pois preferem escolhas vantajosas a curto prazo, mesmo que gerem prejuízos a longo prazo. Esse viés pode contribuir para o início e para a manutenção das dependências, mas ele ainda não foi analisado na DS. Objetivos: analisar os fatores associados à DS em estudantes universitários e na população geral; avaliar o processo de tomada de decisão sob risco e sob ambiguidade na DS e mensurar os parâmetros fisiológicos durante os testes de tomada de decisão. Método: no primeiro estudo, foram entrevistados 415 estudantes universitários por um questionário que analisou a DS, a dependência de Facebook, a impulsividade, o suporte social, a busca de sensações e transtornos psiquiátricos. No segundo estudo, 3399 indivíduos da população geral foram entrevistados por um questionário que analisou a DS, a qualidade de vida e transtornos psiquiátricos. O terceiro estudo analisou 100 estudantes universitários que foram submetidos ao Iowa Gambling Test (IGT) e ao Game of Dice Task (GDT) concomitantemente à mensuração da condutância galvânica da pele (CGP). Resultados: A prevalência da DS foi de 44% em estudantes universitários e 25% na população geral. Em estudantes universitários, a DS foi associada ao sexo feminino, idades jovens, dependência de Facebook, Transtornos por Uso de Substâncias, Transtornos de Ansiedade, alta impulsividade e baixa satisfação com o suporte social. A sobreposição da DS e dependência de Facebook foi de 30%. Os indivíduos com ambos os transtornos apresentaram maior prevalência de transtornos por uso de substancias, depressão e transtornos ansiosos; menor satisfação com o suporte social; e maior impulsividade. Na população geral, a DS foi associada a idades jovens, estado civil não casado, raça branca, renda familiar mensal média ou alta, TDAH, baixa qualidade de vida física e psicológica. A associação entre o sexo feminino e a DS foi moderada pela baixa qualidade de vida psicológica. Os dependentes de smartphone apresentaram um prejuízo na tomada de decisão sob ambiguidade, sem prejuízo na tomada de decisão sob risco. As alterações dos parâmetros fisiológicos foram caracterizadas pela diminuição da CGP antes de decisões desvantajosas e após punições, e aumento da CGP após recompensas. Essas alterações sugerem dificuldade em reconhecer alternativas desvantajosas, alta sensibilidade a recompensas e baixa sensibilidade a punições. Conclusão: A DS é quase duas vezes mais prevalente em estudantes universitários quando comparada a população geral. Ela é mais comum em mulheres jovens, tanto na população geral quanto em estudantes universitários. A melhora da qualidade de vida psicológica de o aumento do suporte social em mulheres podem ser estratégias de prevenção da DS. O prejuízo na tomada de decisão na DS é semelhante ao encontrado em outras dependências químicas e comportamentais e pode contribuir para o desenvolvimento e para a manutenção do comportamento aditivo. Portanto, os fatores associados, as características neuropsicológicas e as características fisiológicas da DS sugerem que ela é uma síndrome de dependência comportamental semelhante às que já foram reconhecidas como doenças. Introduction: The Smartphone Addiction (SA) has caused negative consequences in today's society, but has not yet been recognized as a disease, which hinders the diagnostic and treatment of affected individuals. The recognition of associated factors, neuropsychological characteristics and physiological characteristics may constitute empirical evidence of the validity of the construct as a disorder. SA was associated with being a student, female gender, young age, high household income, high impulsiveness, low self-control, and difficulty in postponing rewards. The factors associated with SA in the Brazilian population have not yet been studied and the association between SA, satisfaction with social support and quality of life has not been investigated. Those are factors that impact in functionality and may contribute to the differentiation between functional use and dependence on smartphones. Previous studies have also shown that individuals with dependency syndromes have a bias in the decision-making process because they prefer short-term advantageous choices, even if they cause long-term harm. This bias may contribute to the onset and maintenance of dependencies, but it has not yet been analyzed in SA. Objectives: To analyze the factors associated with SA in university students and in the general population; to evaluate the decision-making process under risk and under ambiguity in SA and to measure physiological parameters during the decision-making tests. Methods: In the first study, 415 university students were interviewed through a questionnaire that analyzed SA, Facebook addiction, impulsivity, social support, sensation- seeking and psychiatric disorders. In the second study, 3399 individuals from the general population were interviewed by a questionnaire that analyzed SA, quality of life, and psychiatric disorders. The third study examined 100 university students who underwent the Iowa Gambling Test (IGT) and the Game of Dice Task (GDT) concurrent with the measurement of skin conductance response (SCR). Results: The prevalence of SA was 44% in university students and 25% in the general population. In college students, SA was associated with female gender, young age, Facebook addiction, Substance Use Disorders, Anxiety Disorders, high impulsiveness and low satisfaction with social support. The overlap between SA and Facebook addiction was 30%. Individuals with both disorders had a higher prevalence of substance use disorders, depression and anxiety disorders; less satisfaction with social support; and greater impulsivity. In the general population, SA was associated with young ages, unmarried marital status, white race, average or high monthly family income, ADHD, low physical and psychological quality of life. The association between female gender and SA was moderated by the low psychological quality of life. The smartphone dependents presented an impairment in decision making under ambiguity, without prejudice in decision making under risk. Changes in physiological parameters were characterized by decreased SCR before disadvantageous decisions and after punishment, and increased SCR after rewards. These changes suggest difficulty in recognizing disadvantageous alternatives, high sensitivity to rewards, and low sensitivity to punishments. Conclusions: SA is almost twice as prevalent in college students when compared to the general population. It is more common in young women, both in the general population and in college students. The improvement of psychological quality of life and the increase of social support in women can be strategies of prevention of SA. The impairment in decision making in SA is similar to that found in other chemical and behavioral dependencies and may contribute to the development and maintenance of additive behavior. Therefore, the associated factors, neuropsychological characteristics and physiological characteristics of SA suggest that it is a syndrome of behavioral dependence similar to those that have already been recognized as diseases.