Este estudo busca refletir sobre o tema do horror pós-colonial na região amazônica e entendê-lo como uma categoria estético-política fundamental nos quatro romances iniciais de Milton Hatoum, Relato de um Certo Oriente (2014), Dois Irmãos (2007), Órfãos do Eldorado (2008) e Cinzas do Norte (2012). O objetivo principal desta pesquisa é analisar de que maneira a impressão do horror se torna indissociável das mazelas do mundo amazônico contemporâneo. De acordo com Luiz Costa Lima (2003), a origem do horror moderno remete à expansão colonial europeia nos continentes africanos e asiáticos desde o século XVI até atingir as margens do continente americano, precipitando o homem moderno, vítima da exploração colonial e pós-colonial, para o abismo do qual não poderá retornar. O horror se constituiria, nesse caso, numa parte inseparável da experiência do homem que nasce nas regiões marginalizadas do mundo, incluindo o próprio Ocidente. Analisamos nesta tese três aspectos fundamentais do horror moderno considerado fundamental e que se conectam na formação do ritornelo, seja em termos de território, desterritorialização e reterritorialização, física ou em termos existenciais: as ressonâncias da aventura colonial no continente africano refletidas nas obras de Joseph Conrad, especialmente o romance No Coração das Trevas (2010), que prefigura as bases do horror de extração pós-colonial que se refletirá nas obras de autores surgidos nas regiões periféricas do mundo ocidental, como nos parece o caso do escritor amazonense Milton Hatoum; também se discute o papel do “escritor menor”, termo cunhado por Gilles Deleuze (2014) e que diz respeito ao estatuto político do escritor que deve assumir o papel na resistência contra a imagem petrificada das formas autoritárias de dominação através da linguagem oficial, caberia ao escritor das margens sabotar e desestabilizar o discurso do colonizador, rompendo com seus preceitos culturais, políticas e culturais. Por fim, reflete-se sobre a figura extrema do horror, a saber, a imagem do narrador que deve resgatar o passado e a memória através do recurso da testemunha, figura intervalar, presente e ausente ao mesmo tempo, aquele que cabe relatar o que, no entanto, pertence ao indizível, a experiência do inaudito e do silêncio, a exigência suprema dos narradores em Milton Hatoum residem nesta tarefa ambígua, a obrigação de relatar o que não pode de forma alguma ser dito, a memória dos narradores se torna insuficiente na tarefa de resgatas dos escombros do passado o mundo amazônico que desapareceu. Tal ideia remete ao conceito de ritornelo proposto por Deleuze e Guattari (2011) um retorno sem retorno de um ciclo arruinado que, no entanto, não chega a seu termo. Como metodologia , servimo-nos de pesquisa bibliográfica, especialmente a corrente epistemológica que se insere na chamada filosofia da diferença, como Jacques Derrida (2005), Edward W. Said (2009), Michel Foucault (2010), Giorgio Agamben (2008), Gilles Deleuze e Félix Guattari (2011). Entre as conclusões possíveis, observamos que nestes quatro romances que tratam de um período histórico recente na história do Amazonas, constituem uma verdadeira cartografia da violência física e psíquica perpetradas pelas sucessivas ondas de colonização e exploração europeias na região. Pôde-se concluir também que a forma como a região se posicionou contra a opressão foi pela via do silêncio, instrumento de resistência capaz de transformar até mesmo a memória em um intrigado sistema de ruínas. A última conclusão é de os narradores não são capazes levar a termo a forma final do testemunho de destruição e violência do horror. Testemunhar, nesse caso, significa dar testemunho da experiência limite do indizível. This study seeks to reflect on the theme of postcolonial horror in the Amazon region and understand it as a fundamental aesthetic-political category in Milton Hatoum's four early novels as a crucial category in the early four novels of Milton Hatoum, Relato de um Certo Oriente (2014), Dois Irmãos (2007), Órfãos do Eldorado (2008) e Cinzas do Norte (2012). The main goal of this research is to understand how the impression of horror becomes inseparable from the ills of the contemporary Amazonian world. According to Luiz Costa Lima (2003), the origin of modern horror refers to the European colonial expansion in the African and Asian continents from the sixteenth century until it reached the shores of the American continent, precipitating to the modern man, victim of colonial and postcolonial exploitation, into the abyss from which he can not return anymore. Epistemologically the horror could be considered an inseparable part of the experience of mankind born in the marginalized regions of the world, including the marginalized of the West itself. We analyze in this thesis three fundamental aspects of modern horror considered fundamental and that are connected in the formation of the ritornello, be it in terms of territory, deterritorialization and reterritorialization, physical or in existential terms: the resonances of the colonial adventure on the African continent reflected in the works of Joseph Conrad, especially the novel In the Heart of Darkness (2010), which prefigures the foundations of the horror of postcolonial extraction that will be reflected in the works of authors appearing in the peripheral regions of the Western world, as seems to be the case of the Amazonian writer Milton Hatoum; the role of the "minor writer", a term coined by Gilles Deleuze (2014), and which concerns the political status of the writer who must assume the role in resisting the petrified image of authoritarian forms of domination through official language, is also discussed to the writer of the margins to sabotage and to destabilize the discourse of the colonizer, breaking with its political and cultural precepts. Finally, it is reflected on the extreme figure of the horror, namely, the image of the narrator who must rescue the past and the memory through the use of the witness, an interval figure, present and absent at the same time, the one who has to report what , however, belongs to the unspeakable, the experience of the unheard and silence, the supreme requirement of the narrators in Milton Hatoum reside in this ambiguous task, the obligation to report what can not in any way be said, the memory of the narrators becomes insufficient in the task of salvaging the debris of the past the Amazonian world that disappeared. This idea refers to the concept of ritornello proposed by Gilles Deleuze and Félix Guattari (2011) and meaning a return without return of a ruined cycle that, however, does not come to an end. As a methodology, we use bibliographical research, especially the epistemological current that is part of the so-called philosophy of the difference, such as Jacques Derrida (2005), Edward W. Said (2009), Michel Foucault (2010), Giorgio Agamben (2008), Gilles Deleuze and Félix Guattari (2011). Among the possible conclusions, we observe that in these four novels dealing with a recent historical period in the history of the Amazon, they constitute a true cartography of the physical and psychic violence perpetrated by the successive waves of European colonization and exploration in the region. It was also possible to conclude that the way the region stood against oppression was by way of silence, an instrument of resistance capable of transforming even memory into an intriguing system of ruins. The last conclusion is that the narrators are not able to carry through to the final form of the testimony of destruction and violence of the horror. Witnessing in this case means witnessing to the limitless experience of the unspeakable. Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq