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Texto de apresentação do dossiê Cultura é Trabalho, oganizado por Adriana Facina, João Domingues e Kyoma Oliveira.

O artigo aborda aspectos do Sistema Nacional de Cultura, considerando que as mobilizações pelas Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, iniciadas em 2020, reativaram um sentido utópico e impulsionaram certa retomada institucional da cultura no Brasil. Além de dados secundários, são utilizadas entrevistas semiestruturadas realizadas como parte de uma pesquisa de pós-doutorado, financiada pela FAPESP, que visa a investigar a participação da sociedade civil nos processos de elaboração e implementação das novas leis. Aspectos históricos são apontados para contextualizar os debates. Conclui-se que dificuldades estruturais, embates políticos e entraves burocrático podem diluir a utopia dos projetos de institucionalização. As lacunas entre o que se imagina e o que é possível são abordadas a partir do conceito de “iminência”, proposto por García Canclini (2012).

No contexto do poder hegemônico do capital e do enfraquecimento da vida pública, Víctor Vich afirma que as políticas culturais são decisivas para propor formas que alterem a percepção do que existe. Este livro comenta um conjunto de iniciativas que, utilizando diferentes estratégias simbólicas, têm intervindo nas ruas de Lima, no Peru, para tornar visíveis diversas relações de poder. Tais intervenções contribuem para direcionar uma ação pública diferenciada e podem ser apropriadas pelas políticas culturais a fim de contribuir para a produção de uma nova sociedade.

Resenha do livro Políticas culturales y ciudadanía. Estrategias simbólicas para tomar las calles, publicado em 2021 pelo pesquisador peruano Víctor Vich. A obra aborda uma série de intervenções artísticas realizadas nos espaços públicos de Lima como exemplos eloquentes do ativismo artístico no país e do potencial das políticas culturais para intervir na mudança social e no enfrentamento de padrões culturais excludentes e discriminatórios.

Apresentação do dossiê Políticas culturais e utopias. O conjunto de textos é composto pelas traduções de dois capítulos, quatro artigos e uma resenha.

Beirak, Jazmín. Cultura ingobernable. In: ______. Cultura ingobernable. Ensayo Ariel, 2022, p. 83-132. Traduzido por Emiliano Fuentes Firmani e Renata Rocha.

Resenha crítica do livro Criatividade e emancipação nas comunidades-rede: contribuições para uma economia criativa brasileira.

Os anos 1990 e 2000 viram emergir no Brasil um vasto circuito e movimento que reuniam artistas, brincantes, devotos, pesquisadores, músicos etc. sob a égide das categorias culturas populares e tradicionais – algo que não se via desde a experiência do movimento folclórico e seus desdobramentos. Esse circuito mais contemporâneo era constituído por instituições, festivais, encontros, centros culturais e iniciativas diversas que trouxeram e reuniram, principalmente nos grandes centros urbanos brasileiros, a diversidade de experiências nomeadas agora não mais como folclore, mas culturas populares e tradicionais. Neste artigo, a proposta se volta para mapear parte desse contexto, atores sociais e instituições que permitiram a emergência do que entendo como um novo circuito das culturas populares e tradicionais.

A gastronomia é parte integrante da cultura e identidade de uma nação e contribui para a sua reputação e prestígio no plano internacional. Em um contexto de expansão das oportunidades de mobilidade internacional e desejo de entrar em contato com culturas locais, por meio da alimentação, floresce um cosmopolitismo culinário capaz de dar visibilidade à gastronomia dos países não centrais. Esta abertura para a alteridade gastronômica deu força à noção de gastrodiplomacia entre os governos nos últimos anos. Componente da diplomacia cultural e da diplomacia pública, ela vem sendo utilizada como estratégia governamental de reconhecimento e inserção na cena internacional. No entanto, o tema permanece ainda pouco estudado no Brasil. Este artigo propõe lançar luz sobre o crescente interesse por cozinhas de todo o mundo e as políticas culturais de gastrodiplomacia, tratando o tema da comida sob o ângulo das relações internacionais.

O artigo analisa o Plano Municipal de Cultura (PMC) do município de Itabirito, em Minas Gerais, enquanto coadjuvante para o desenvolvimento de políticas públicas no setor cultural nos últimos anos (2016-2020). Como desenvolvimento metodológico, é abordado como os Planos Municipais de Cultura atuam no fortalecimento das políticas públicas para o desenvolvimento da cultura, assim como na preservação do Patrimônio Cultural. Entende-se que os planos de cultura são as “engrenagens” que fazem funcionar o sistema cultural, sem os quais esse motor não funciona, não gira e o sistema não “anda”. Conclui-se que o Plano Municipal de Cultura de Itabirito é um documento participativo, técnico e planejado que busca alinhar os anseios da população aos interesses e possibilidades do Poder Público local.

O presente artigo realiza uma análise comparada dos investimentos em cultura da Secretaria de Cultura de Araraquara, entre os anos de 2014-2015 e 2017-2018. Trata-se, portanto, de um estudo de dois casos, que remetem à gestão do PMDB (2014-2015) e do PT (2017-2018) à frente da administração araraquarense. Para tanto, utilizou-se de uma revisão bibliográfica sobre políticas públicas, cultura e políticas culturais, a fim de subsidiar as análises dos investimentos realizados no setor por parte da secretaria. Para além da análise dos recursos gastos, o presente estudo também desenvolve uma regionalização (por bairros) dos investimentos e, também, a comparação dos recursos despendidos para a área. Por fim, o artigo traz informações relevantes sobre as disparidades regionais dentro do município, comparativamente, sobretudo quanto ao volume de recursos investidos e sua regionalização.

Apresentação do dossiê.

temática das políticas culturais tem sido alvo de debate entre pesquisadores da área. Apesar da existência de leis e políticas públicas de incentivo à cultura, seu verdadeiro papel vem sendo questionado, sobretudo diante da urgência em se transformar as estruturas sociais hegemônicas, por um movimento de descolonização dos saberes permitido pela própria ação das políticas culturais. Nesta direção, a emergência da ideia de diáspora africana – debate histórico que insurge em plena segunda década do século XXI – direciona os olhares para trilhar novos caminhos para as políticas culturais na contemporaneidade.

O que pensam os mestres sobre as políticas públicas de cultura desenvolvidas para a capoeira no Brasil? Uma extensa pesquisa de campo buscou conhecer a avaliação que os mestres de capoeira fazem das ações do Estado para a área a partir de suas diferentes condições de participação nas políticas culturais: proponentes de projetos, colaboradores da gestão e participantes de debates públicos. Os resultados mostraram que os mestres de capoeira reconhecem como importantes e necessárias as políticas culturais desenvolvidas para o campo – especialmente as do período entre 2003 e 2010 –, assim como a presença da comunidade da capoeira nos espaços de participação social. Os mestres apontaram ainda a instabilidade e a descontinuidade das políticas, além da falta de efetividade dos resultados da participação social nas ações, como desafios ainda latentes.