Sousa, Joel, Oliveira-Pinto, José, Almeida-Lopes, José, Ferreira, Joana, Barreto, Paulo, Brandão, Daniel, and Mansilha, Armando
Introdução: Lesões vasculares iatrogénicas são complicações potenciais de qualquer intervenção cirúrgica a nível cervical e com consequências dramáticas quando não controladas eficazmente. Apesar da importância das estruturas vasculares localizadas a este nível, a literatura sobre este tipo de lesões é escassa, facto que reforça a sua raridade. Numa época em que o tratamento endovascular se tornou o método de eleição em numerosas patologias, um bom domínio da técnica cirúrgica clássica continua a ser essencial para a resolução de quadros deste tipo. Métodos: Os autores apresentam um case report de uma laceração iatrogénica do tronco braquiocefálico e artéria carótida comum direita durante um procedimento de linfadenectomia cervical, tratados com sucesso por via cirúrgica clássica. Resultados: Sexo feminino, 49 anos de idade, com antecedentes tiroidectomia total e linfadenectomia cervical direita em 2011 por carcinoma papilar da tiróide, e em acompanhamento regular em consulta de Cirurgia Geral. Pelo aparecimento de nódulos cervicais de novo aos 5 anos de follow-up, foi submetida a angioTC que confirmou a presença de metastização ganglionar profunda bilateral, e proposta para re-intervenção. Durante a dissecção cervical direita para excisão de gânglios metastizados, constatou-se hemorragia arterial abundante com origem no eixo carotideo. Por falta de acesso para controlo vascular e identificação do tipo de lesão, procedeu-se a esternotomia do manúbrio esternal e acesso ao mediastino superior. Observou-se laceração do tronco braquiocefálico e origem da artéria subclávia direita, assim como do segmento proximal da carótida comum ipsilateral. Dissecção, isolamento e controlo vascular foram rapidamente assegurados. Pela natureza da lesão e atendendo à história de radioterapia e cirurgia prévia, determinou-se que não existiam condições para rafia arterial directa, pelo que houve necessidade de reconstrução dos eixos arteriais lesados. Procedeu-se assim a enxerto de interposição entre o tronco braquiocefálico e artéria subclávia direita com prótese de PTFE, com realização de nova interposição entre esta e a artéria carótida comum. Findo o procedimento, foi efetuada a excisão do tecido ganglionar metastizado. No pós-operatório imediato a doente apresentou-se clinicamente bem, com pulso radial direito palpável e sem quaisquer défices neurológicos a reportar. A reavaliação ultrassonográfica ao 1º mês confirmou total integridade dos enxertos, sem evidência de estenoses anastomóticas. Conclusão: As lesões vasculares iatrogénicas constituem importantes desafios cirúrgicos, atendendo à sua gravidade, imprevisibilidade e necessidade de intervenção imediata. Na era endovascular, o domínio apropriado de técnicas cirúrgicas clássicas mantem-se assim essencial à pratica diária de qualquer cirurgião vascular. Introduction: Iatrogenic vascular lesions are rare but potential complications of any surgical intervention at cervical level, with catastrophic consequences when not properly contained. Despite the importance of the vascular structures located at this level, literature on this subject is scarce, fact which reinforces its rarity. In a decade in which endovascular options became the standard treatment modalities in a wide range of pathologies, proper open surgical skills are still essential for the resolution of this type of problems. Methods: The authors present a case report of iatrogenic laceration of the brachiocephalic, right subclavian and common carotid arteries during a cervical lymphadenectomy, successfully controlled and corrected by means of open surgery. Results: Female patient, 49 years old, with previous medical history of total thyroidectomy and right cervical lymphadenectomy due to thyroid papillary carcinoma. Regular assessment in outpatient consultation was maintained, and at 5 years' follow-up, bilateral profound lymph node metastasis was diagnosed, and re-intervention was planned. During the right cervical surgical dissection, heavy arterial hemorrhage from the carotid sheath was noted, with no possibility for proper vascular control. Due to lack of access for tissue dissection and vascular control, sternotomy of the sternal manubrium was performed, and access to the upper mediastinum was granted. Laceration of the brachiocephalic trunk, and proximal segments of both the right subclavian and common carotid arteries were noted. Vascular dissection, isolation and control were rapidly assured. Taking into account nature of the lesion and the fibrosis and the frailty of the surrounding tissues, direct suture was not possible, and so vascular reconstruction was performed by means of prosthetic grafts. In order to do so, interposition graft between the brachiocephalic trunk and the right subclavian artery was performed, after which new interposition graft was sutured between the right common carotid artery and the previous one. In both cases, PTFE grafts were used. Once arterial flow was restored, lymph node excision was performed as planned. Post-operation evolution was favorable, with no neurological deficits to report nor right arm ischemia, as the right radial pulse was present and strong. Doppler ultrasound evaluation performed at one-month follow-up revealed total integrity of the vascular grafts, with no anastomotic stenosis. Conclusion: Iatrogenic vascular lesions are important surgical challenges, due to their seriousness, unpredictability, and need for quick intervention and control. In this endovascular era, proper domain of open classic surgical techniques is still essential to the daily practice of any vascular surgeon.