Introdução: O carcinoma espinocelular (CEC) anal é um tumor relativamente raro mas de incidência crescente. O tratamento padrão com quimiorradioterapia (QRT) concomitante permite que muitos pacientes evitem a amputação abdominoperineal de reto e a colostomia definitiva. No entanto, tumores avançados podem se apresentar com complicações locais que requerem uma derivação intestinal previamente ao início da QRT. O desfecho destes estomas é incerto e pouco estudado na literatura. O objetivo deste estudo é avaliar os pacientes com CEC anal submetidos à derivação intestinal previamente à QRT em relação ao desfecho do estoma e aos fatores de risco associados à sua permanência definitiva. Métodos: Foi realizado estudo de coorte retrospectivo através de análise de prontuários de pacientes tratados no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP-HCFMUSP) entre janeiro de 2008 e dezembro de 2020, diagnosticados com CEC anal e submetidos à derivação intestinal previamente ao início da QRT com intuito curativo. Foram excluídos pacientes tratados com intuito paliativo. Foram avaliados dados demográficos, clínicos, do estadiamento do tumor, do tratamento oncológico, sobre o desfecho do estoma e as suas complicações a curto e longo prazo. Foram analisados a taxa de reversão dos estomas pré-QRT e os fatores de risco relacionados à sua permanência definitiva. Resultados: No período estudado foram tratados 651 pacientes com CEC anal no ICESP-HCFMUSP. Destes, 82 foram submetidos à derivação intestinal previamente à QRT, mas 17 foram excluídos deste estudo, sendo 11 por doença metastática ao diagnóstico e 6 por óbito antes de iniciar o tratamento oncológico. Ao final, 65 pacientes foram avaliados. Os motivos para confecção da colostomia foram obstrução intestinal (n=28, 43,1%), fístula retovaginal (n=13, 20%) e infecção perianal (n=24, 36,9%). Após seguimento médio de 35,8 ± 27,6 meses, 9 pacientes (13,8%) reconstruíram o trânsito intestinal. Em análise univariada, sexo masculino (p=0,013), baixo status funcional (ECOG 2) (p=0,023), tumores volumosos (p=0,045), infecção perianal (p=0,010), QT com cisplatina (p=0,047) e interrupções na RT por período maior que sete dias (p=0,010) foram fatores de risco de permanência definitiva do estoma. Conclusão: A maioria das colostomias realizadas pré-QRT nos pacientes com CEC anal são definitivas. Os fatores de risco associados à sua permanência são: sexo masculino, baixo status funcional (ECOG 2), tumores volumosos, derivação intestinal por infecção perianal, QT com cisplatina e interrupções na RT por período maior que 7 dias Introduction: Squamous cell anal cancer (SCC) is a relatively rare gastrointestinal tumor although the incidence has increased over the last decades. The current standard of care is concurrent chemoradiation (CRT), which allows for tumor eradication while preserving the anal sphincter and possibly avoiding a definitive stoma. However, advanced tumors with local complications, such as intestinal obstruction, rectovaginal fistulas or perianal sepsis, may require pretreatment stomas in order to alleviate symptoms and avoid interruptions during CRT. The fate of pretreatment stomas is uncertain and limited data exist in the literature. The aim of this study is to evaluate the reversal rate of pretreatment stomas and the risk factors associated with a definitive stoma. Methods: This was a retrospective cohort study, which included patients treated at the Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP-HCFMUSP) from January 2008 to December 2020, diagnosed with anal SCC, in whom a stoma was formed before CRT. Palliative patients were excluded. Demographic data, reason for stoma creation, tumor-related characteristics, chemotherapy regimen, radiotherapy dose and interruptions, reversal of the stoma, short- and long-term complications, and the risk factors associated with a definitive stoma were evaluated. Results: 651 patients with anal SCC were identified and 82 required pretreatment stomas. 17 were excluded, either due to metastatic disease (n=11) or death prior to initiating CRT (n=6). Finally, 65 patients were included. A stoma was needed for intestinal obstruction (n=28, 43.1%), rectovaginal fistula (n=13, 20%) and perianal sepsis (n=24, 36.9%). A total of 9 patients (13.8%) reversed their stomas after a mean follow-up of 35.8 ± 27.6 months. In univariate analysis, male gender (p=0.013), low performance status (ECOG 2) (p=0.023), large tumors (p=0.045), perianal sepsis (p=0.010), cisplatin-based chemotherapy (p=0.047) and interruptions during RT for more than 7 days (p=0.010) were associated with a definitive stoma. Conclusion: Pretreatment stomas are unlikely to be reversed and the risk factors for a definitive stoma are: male gender, perianal sepsis, low performance status (ECOG 2), large tumors, cisplatin-based chemotherapy and interruptions during radiotherapy for more than 7 days