Orientador: Prof. Dr. Aloísio Leoni Schmid Tese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Defesa : Curitiba, 28/08/2020 Inclui referências Resumo: Desde os anos 90, teorias sobre a evolução começaram a se tornar mais frequente como forma de estudar o design de elementos naturais e artificias de uma forma interdisciplinar. O entendimento de como a natreza gera formas vivas e inanimadas permitiu que os processos de projeto imitiassem ou simulação um processo evolutivo de design em coisas desenvolvidas pelo ser humano, como processos, sistemas, configurações e objetos, ou seja, artefatos. Este trabalho pretende discutir como o design evolutivo pode melhorar o desempenho de edifícios. Para detalhar e explorar este tema, o escopo é focado no problema da iluminação natural baseada em desempenho. Através da linguagem visual de programação, este trabalho busca elaborar um esquema que trata de otimizar sistemas modulares de sombreamento de fachadas, buscando potencializar o desempenho quanto à iluminação natural. O método consiste em condicionar uma geometria a funções associativas, estabelecendo parâmetros, métricas de desempenho quanto a iluminação natural, simulação de performance e otimização por meio de algoritmo genético. A intenção é criar um código flexível e genérico que possa ser aplicado para desenhar diferentes elementos de fachada, variando a orientação, a geometria dos elementos e os materiais. O elemento construtivo explorado aqui é o cobogó, um elemento vazado que permite ventilação natural, sombreamento e distribuição da luz solar quando aplicado numa fachada. Esse elemento é uma típica solução da arquitetura brasileira. Os cobogós irão melhorados em termos de Exposição Solar Anual (ESA), coeficiente de distribuição de iluminância (CDI) e economia de material. A abordagem prática desta pesquisa é discutida no contexto do projeto arquitetônico, do paradigma da Design Science Research (DSR), design evolutivo, desenho e modelagem paramétrica, gramática da forma, design thinking e Lei Constructal. O objetivo é criar um códico como artefato, que permita uma multiplicidade de possibilidades em plataforma validada de simulação. Os resultados demonstraram que o desenho tradicional do cobogó já é uma boa solução de sombreamento de fachadas quando comparado a outras soluções típicas. E através dos estudos, o artefato apresentado aqui pode melhorar o desempenho do cobogó em até 6,6% em termos de distribuição da iluminância. Diferentes graus de liberdade são estudados aqui, aumentando a possibilidade de novos designs serem testados. O processo de design evolutivo é também analisado, e seus parâmetros são avaliados quanto aos requisitos de performance de suas configurações. O uso do Radiance junto com o Daysim para realizar a simulação anual impôs limitações na tarefa de buscar objetos otimizados, pois a resolução do modelo para captar pequenas mudanças na geometria deveria utilizar outros métodos para resentar a distribuição da luz de forma mais precisa. Esta conclusão é discutida ao final deste trabalho. Abstract: Since the 1990's theories of evolution in the design of natural and artificial things start to become clearer as an interdisciplinary way of thinking in the development of things. Understanding how nature shapes animate and inanimate things allowed design processes to imitate and simulate the evolutionary process in the design of human-made processes, systems, configurations, and objects, i. e. artifacts. This work aims to discuss how evolutionary design may enhance the performance of buildings. The scope focuses on the daylighting performance-based design problem in detail and explores this theme. Through the visual programming language, this work looks for a schema that deals with optimal modular shading elements and seeks to enhance daylighting performance. The method consists of conditioning the geometry to associative functions, setting the parameters, establishing the daylighting metrics, simulating the performance, and optimizing it through a genetic algorithm. The intention is to create a generic and flexible script that can be applied to the task of designing different façade elements by varying orientations, the geometry of the elements, and the materials. The building element explored here is the cobogó, a hollowed element that allows natural ventilation, shading, and natural light distribution when applied to façades. It is a typical solution for Brazilian tropical architecture. The cobogós will be improved in terms of shading performance (ASE), luminous distribution (UDI), and economy of material. The practical approach of this research is discussed in the context of architectural design, Design Science Research (DSR) paradigm, evolutionary design, parametric design, shape grammar, design thinking, and Constructal Law, and has the aim of building a script as an artifact that allows a multiplicity of possibilities in a validated platform. Results have shown that the traditional design of the cobogó is already a good solution to be applied in façades if compared with other solutions. Additionally, the artifact presented here improved the performance of these elements by 6.6 % in terms of illuminance distribution when the script is applied. Different degrees of freedom are studied here, enhancing the possibility of new designs to be tested. Evolutionary design is studied, and as it is intended to support designs that search for performance requirements, some exploration of its parameters is also explored. The use of Radiance with Daysim to perform annual analysis imposed limitations in the task of searching for optimized objects since the resolution needed for daylight simulations to capture small changes in the geometry requires the use of more refined methods to represent the light distribution correctly. This is addressed at the end of this work. Resumo expandido: Neste trabalho, apresentado em língua estrangeira por incentivo do Programa de Pós- Graduação da UFPR e, que também é uma sequência de intercâmbio de um ano realizado junto ao Instituto de Ciências Aplicadas de Toulouse, França através do Programa CAPESCOFECUB, o objetivo é estudar como os modelos paramétricos e sua lógica de processo podem influenciar no melhor desempenho de edifícios. O recorte da pesquisa é para o campo da iluminação natural. Além da importante necessidade de se pensar os edifícios quanto a questões de orientação, distribuição da geometria e da relação com contexto urbano em busca de edifícios mais inteligentes e integrados com o contexto, elementos construtivos de menor escala têm, da mesma forma, potencial de contribuir para melhorar a performance da iluminação natural em edifícios. Ao mesmo tempo em que são representativos da paisagem construída, seja ela urbana ou não. Neste trabalho o elemento escolhido é o cobogó. Este elemento tem longa tradição na história da arquitetura moderna e contemporânea brasileira. É também um elemento construtivo presente em grandes obras da arquitetura e, ao mesmo tempo, distribuído por diversas construções vernáculas. A modularização deste elemento potencializa sua pré-fabricação, contribuindo de antemão para uma produção racionalizada e mais limpa. Além disso, ele pode tanto ser produzido de forma escalada atendendo às demandas mercadológicas por produtos de baixo custo, quanto mesmo de forma mais individualizada e adaptada a uma situação específica, já que as novas tecnologias de fabricação auxiliadas por computador tendem a facilitar esse tipo de processo. A intenção deste trabalho é a discussão sobre as potencialidades e a viabilidade da aplicação deste tipo de método durante o desenvolvimento do projeto ou do elemento de fachada em si, e não um cobogó otimizado como resultado. O método aplicado é o script associativo, ou modelo paramétrico, criado a partir da linguagem de programação visual. O modelo associativo será avaliado através de algoritmo genético quanto aos requisitos de iluminação, insolação direta e economia de material. Todos estes conceitos são pontuados e contextualizados durante o texto deste trabalho assim como as condicionantes que compõe o método. Uma parte introdutória compõe os capítulos de 1 a 4, falando do contexto da pesquisa, do tratamento da iluminação natural na arquitetura, as representações e métodos de cálculo para iluminação natural, a interpretação das formas para o ambiente da programação visual e o paradigma de pensamento em projeto paramétrico, além do modelo paramétrico sujeito ao algoritmo genético. No capítulo 5, a estrutura do método é apresentada e as ferramentas utilizadas são detalhadas, enquanto que o capítulo 6 apresenta os resultados e discussões do trabalho. Finalizando com uma discussão mais ampla nas conclusões, onde também são sugeridos temas para trabalhos futuros e aprofundamentos desta pesquisa. Este trabalho é fundamentado em técnicas de simulação computacional e buscou utilizar plataformas validadas e amplamente utilizadas em outros trabalhos científicos similares que são apresentados ao longo da revisão bibliográfica. A base da modelagem tridimensional acontece no programa Rhinoceros 3D em conjunto com o plug-in Grassshopper, nativo nesta versão do software, onde a modelagem é então baseada na linguagem de programa visual e torna-se associativa/ paramétrica. Este conjunto permite flexibilidade de forma e desenho aos elementos estudados. As simulações de iluminação acontecem no Radiance, software validado e amplamente utilizado para fins profissionais e acadêmicos, assim como no Daysim, para simulações anuais baseadas em dados climáticos. Ao longo do trabalho essas ferramentas são devidamente detalhadas. Como o trabalho foi desenvolvido na Universidde Federal do Paraná, a cidade escolhida para validar o uso do artefato é a cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná. Os resultados deste trabalho demonstram que o formato mais simples e comum na paisagem urbana, que aqui é chamado de o cobogó padrão (the standard cobogó) apresenta excelentes resultados como elemento de proteção solar e de distribuição da iluminação no interior dos ambientes construídos. Ele é comparado aqui a outras soluções padrão aplicadas a fachadas de edifícios, como janelas comuns, fachada envidraçada, brises comerciais, e prateleira de luz. O cobogó teve um bom desempenho se comparado a estas outras situações. O cobogó padrão é também testado em função de outras orientações, e se mostra uma solução consistente quando aplicado em diferentes fachadas, se demonstrando um elemento construtivo versátil, que pode manter uma unidade estética na composição de fachadas em edifícios e ter um bom desempenho na relação proteção solar x distribuição da iluminação. Neste trabalho, diferentes graus de liberdade para a adaptação da forma dos cobogós são definidas e chamadas de graus de adaptação (degrees of adaptation). Um primeiro grau de adaptação se refere a mudanças nas proporções da topologia inicial; um segundo grau de adaptação se refere a acrescentar ao anterior a possibilidade de distorção do perímetro interior do cobogó; e um terceiro permitindo uma distorção tridimensional das peças. O esquema paramétrico e suas possibilidades de geração de formas associado ao uso do algoritmo genético também é explorado e relatado, sendo o foco principal desta tese. O dimensionamento de uma população inicial e alguns critérios para conduzir uma simulação evolutiva com o uso deste artefato são aqui discutidos. O uso do algoritmo genético com fins de otimizar o desempenho destes elementos se mostrou uma ferramenta com potencial, visto que o cobogó já apresentou bons resultados iniciais quanto ao aproveitamento da iluminação natural. A técnica de modelo evolutivo tem sido aplicada a algumas décadas no campo da arquitetura, em pesquisas acadêmicas e na produção de edifícios icônicos, como explorado durante o trabalho. Associar as propriedades de geração de formas inovadoras com a análise da performance dessas formas, a fim de buscar soluções otimizadas dentro de um contexto, é uma possibilidade que vai de encontro com as necessidades de edifícios mais eficientes e com melhor aproveitamento dos recursos naturais, dessa forma, este trabalho tenta explorar esse potencial permitido pelas ferramentas e conceitos através dos modelos evolutivos. Os resultados demonstraram que o cobogó pode ter seu desempenho melhorado em até 6,6 % para distribuição da iluminação no ambiente quando sujeitado ao processo de projeto evolutivo, se compaado a solução padrão de cobogó. Porém, o uso da simulação computacional com Radiance e Daysim para o estudo anual da iluminância no ambiente impôs certas limitações quando utilizado com geometrias pequenas fazendo a transição entre a porção externa e interna da cena, como uma veneziana ou um cobogó. Para uma representação ainda mais refinada da distribuição luminosa e da percepção de pequenas modificações nas formas dos cobogós, métodos de simulação em fases podem ser considerados em futuros trabalhos. Esses métodos têm sido desenvolvidos nos últimos anos e aplicados de maneira mais efetiva no Radiance mais recentemente.