Orientador: Luciana de Lione Melo Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Enfermagem Resumo: De que maneira a participação das crianças em sala de aula pode contribuir para a produção e reprodução das desigualdades educacionais? Buscando responder a esta pergunta, a presente pesquisa analisou as interações de alunos de quarto e quinto ano com suas professoras em duas escolas, uma pública e outra privada, que atendem famílias de grupos sociais distintos.. A pesquisa baseou-se em múltiplas sessões de observação das interações , registradas em cadernos de campo e em uma planilha. Em todas as classes observadas, tanto na escola pública quanto na privada, o trabalho pedagógico baseava-se na pedagogia Freinet, que estimula a participação ativa dos alunos na construção da aprendizagem.. Os resultados indicaram que o número de crianças que buscava a interação com a professora na escola particular era mais alto do que na escola pública, os pedidos de ajuda mais frequentes e mais variados. Nessa escola, as crianças buscavam respostas para suas perguntas com maior empenho, chegando em algumas situações a exigir a ajuda ou a atenção das professoras, levantando-se e indo até onde essa se encontrava ou interrompendo o trabalho até serem atendidas. Dois tipos de ajuda foram frequentes. No primeiro, as crianças pediam ajuda para confirmar algo que já sabiam. No segundo, procuravam compreender as razões associadas às explicações dadas por suas professoras. Parte importante das perguntas surgiam depois de alguma reflexão sobre o assunto em discussão, o que permitia aumentar a complexidade das mesmas. As respostas da professora frequentemente davam origem a réplicas ou mesmo tréplicas, o que, em vários casos, estendia a profundidade do tratamento dado ao conteúdo. Na escola pública, por sua vez, uma proporção menor de alunos buscava interação com a professora e os pedidos de ajuda eram menos frequentes e menos variados. Além disso, as perguntas dos alunos eram mais curtas e mais diretas. Na maioria dos casos, os alunos iniciavam a interação em busca de orientação sobre aspectos operacionais da resolução de um problema ou da realização de uma atividade, em geral aceitando sem maiores questionamentos as respostas ou orientações das professoras. Poucas vezes os alunos buscavam por explicações para aspectos do conteúdo ou requeriam explicações adicionais. Os alunos costumavam pedir a atenção das professoras levantando o braço ou falando do lugar em que estavam sentados. Nas duas escolas, alguns alunos que aparentavam maior timidez ou maior dificuldade para desenvolver alguma atividade, não chegavam a pedir a ajuda ou desistiam depois da primeira tentativa de pedir ajuda às professoras. A proporção de alunos que vivenciaram essa situação ao longo dos períodos em que se desenrolou a observação nas duas escolas era nitidamente maior na escola pública do que na escola privada. Assim, mesmo levando em consideração as semelhanças e diferenças no planejamento das atividades nos dois ambientes, assim como no número de alunos presente em cada classe, as diferenças percebidas nas interações estabelecidas pelas crianças com suas professoras são bastante substantivas entre uma escola e outra. Isso parece indicar que a participação das crianças pode ser considerada como uma das maneiras pelas quais as crianças agem para construir suas próprias oportunidades educacionais. Diante desses resultados, acreditamos que a pesquisa sustenta a hipótese de que as interações iniciadas pelas crianças na sala de aula constituem um aspecto importante a ser considerado nos debates sobre a organização do trabalho pedagógico em diferentes contextos sociais, ainda que mais estudos sejam necessários para verificar a reprodutibilidade desses resultados em diferentes contextos sociais e pedagógicos Abstract: How the participation of children in the classroom can contribute to the production and reproduction of educational inequalities? Aiming to answer this question, the present study analyzed the interactions of fourth and fifth year students with their teachers in two schools, one public and one private, that serve families of different social groups .. The research was based on multiple observation sessions of the interactions, recorded in field notebooks and in a spreadsheet. In all classes observed, both in the public and private schools, the pedagogical work was based on Freinet pedagogy, which stimulates the active participation of students in the construction of learning .. The results indicated that the number of children who sought interaction with the teacher in the private school was higher than in the public school, the requests for help more frequent and more varied. In this school, the children sought answers to their questions with greater commitment, in some situations, demanding the help or attention of the teachers, getting up and going as far as they were or interrupting the work until they were answered. Two types of help were frequent. In the first, the children asked for help to confirm something they already knew. In the second, they sought to understand the reasons associated to the explanations given by their teachers. An important part of the questions arose after some reflection on the subject under discussion, which allowed to increase the complexity of the same ones. The teacher's responses often gave rise to replicas, which in many cases extended the depth of the treatment given to the content. In the public school, in turn, a smaller proportion of students sought interaction with the teacher and requests for help were less frequent and less varied. In addition, the students' questions were shorter and more direct. In most cases, students began to interact in search of guidance on operational aspects of solving a problem or performing an activity, generally accepting without question the answers or orientations of the teachers. Students rarely sought explanations for aspects of content or required further explanation. The students used to ask for attention of the teachers by raising their arm or talking from where they were sitting. In both schools, some students who appeared more shy or more difficult to develop some activity, did not come to ask for the help or they gave up after the first attempt to ask for help to the teachers. The proportion of students experiencing this situation during the periods of observation in both schools was markedly higher in the public school than in the private school. Thus, even considering the similarities and differences in the planning of activities in both environments, as well as the number of students present in each class, the perceived differences in the interactions established by the children with their teachers are quite substantive between one school and another. This seems to indicate that the participation of children can be considered as one of the ways in which children act to build their own educational opportunities. Given these results, we believe that the research supports the hypothesis that interactions initiated by children in the classroom are an important aspect to be considered in the debates about the organization of pedagogical work in different social contexts, although more studies are necessary to verify the reproducibility of these results in different social and pedagogical contexts Mestrado Enfermagem e Trabalho Mestra em Ciências da Saúde CAPES