Introdução: A síndrome pré-menstrual (SPM) acomete parcela significativa de mulheres e caracteriza-se pela ocorrência, nos dias que antecedem a menstruação, de sintomas afetivos e somáticos, sofrimento significativo e prejuízo do funcionamento global. Evidências de estudos em ratas sugerem a implicação da allopregnanolona (ALLO), o principal metabólito ativo da progesterona, na neurobiologia da SPM. Objetivos: avaliar se a administração de fluoxetina em dose e tempo insuficientes para ativação do sistema serotoninérgico, mas suficientes para retardar a cinética do metabolismo da progesterona/alopregnanolona no sistema nervoso central seriam capazes de prevenir ou atenuar os sintomas da SPM. Especificamente, pretendeu-se: a) verificar o efeito da fluoxetina, em baixas doses diárias (2 mg, 5mg e 10 mg), comparada com placebo e de uso restrito ao final da fase lútea do ciclo menstrual, na prevenção e/ou atenuação de sintomas de SPM; b) estabelecer a menor dose eficaz de fluoxetina para prevenção/atenuação de sintomas de SPM; c) verificar a ocorrência de efeitos colaterais nas diferentes doses de fluoxetina em comparação com o placebo. Métodos: Trata-se de ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo. A amostra foi composta por 40 mulheres com idade entre 18 e 40 anos, com diagnóstico de SPM, segundo os critérios diagnósticos do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia. Foram excluídas mulheres com diagnóstico psiquiátrico ou outra condição médica. A avaliação da gravidade de sintomas na SPM foi realizada por meio da Daily Record of Severity of Problems, Short Form, 11-items version - DRSP, traduzida para o português. Participantes preencheram a DRSP diariamente, durante dois ciclos menstruais (ciclo 1 = sem intervenção farmacológica, ciclo 2 = com intervenção farmacológica). No ciclo de intervenção, as voluntárias foram orientadas a tomar as cápsulas durante os sete dias que antecederiam a data provável da menstruação e a interromper esse uso tão logo tivesse início a menstruação. O desfecho primário do estudo foi o escore total da DRSP. Como desfechos secundários, foram considerados: sintomas físicos e psicológicos (itens 1 a 11 da DRSP), impacto funcional global (itens 12 a 14 da DRSP), irritabilidade (item 4 da DRSP) e sintomas físicos (item 11 da DRSP). Resultados: Independente do grupo de tratamento, houve redução significativa de todos os parâmetros no ciclo 2, em comparação com o ciclo 1. Nenhuma das doses de fluoxetina demonstrou superioridade ao placebo nos desfechos primário ou secundários, exceto na irritabilidade (item 4 da DRSP), em que houve redução significativa no grupo de voluntárias que fizeram uso diário de 10 mg de fluoxetina. Conclusões: A hipótese inicial de que doses baixas de fluoxetina administradas por poucos dias seriam capazes de retardar a velocidade da queda da ALLO, e consequentemente levar a atenuação de sintomas de SPM não se confirmou, com exceção da irritabilidade, um sintoma cardinal da SPM, que pode envolver processos biológicos distintos. O mecanismo fisiopatológico da SPM é provavelmente complexo, com envolvimento de diversas vias de ação, e mais estudos são necessários, com especial atenção ao efeito placebo na SPM. Introduction: The premenstrual syndrome (PMS) affects a significant number of women, with somatic symptoms, pronounced psychological distress and loss of global function. Evidence from studies in rats suggested association of allopregnanolona (ALLO), the main active metabolite of progesterone, with the neurobiology of PMS. Objectives: To evaluate whether the use of fluoxetine, with insufficient dose and duration to activate the serotoninergic system, but enough dose to delay the kinetics of the progesterone/ALLO in the central nervous system, would be able to prevent or attenuate the symptoms of PMS. Specifically, we aimed: a) to evaluate the effect of low daily doses of fluoxetine (2 mg, 5mg e 10 mg) with restrict intake at the end of the luteal phase of the menstrual cycle, in comparison with placebo, for the prevention and/or attenuation of symptoms of PMS; b) to establish the lower effective dose of fluoxetine to prevent/attenuate symptoms of PMS; c) to verify the development of collateral effects of different doses of fluoxetine in comparison of placebo. Methods: We performed a randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial. The sample comprised 40 women aged from 18 to 40 years, with diagnosis of PMS according to the diagnostic criteria of the American College of Obstetrics and Gynecology. We excluded women with psychiatric or other medical conditions. The severity of PMS symptoms was assessed by the Daily Record of Severity of Problems, Short Form, 11-items version - DRSP, translated to the Brazilian Portuguese. Participants filled the DRSP at a daily routine during two menstrual cycles (cycle 1 = no pharmacological intervention, cycle 2 = pharmacological intervention). Within the intervention cycle, the volunteers were asked to take the capsules during the seven days that preceded the expected date of menstruation, and to interrupt the capsule intake as soon as the period began. The primary study endpoint was the total DRSP score. Secondary endpoints were physical e psychological symptoms (DRSP items, 1 to 11), global function repercussion (DRSP, items 12 to 14), irritability (DRSP, item 4) and physical symptoms (DRSP, item 11). Results: For all the intervention groups, we observed a significant reduction of all parameters at cycle 2, in comparison with cycle 1. None of the fluoxetine doses showed superiority in the primary or secondary endpoints compared to placebo, with exception to irritability (DSRP, item 4), in which we observed significant reduction in the volunteer\'s group that used 10 mg of fluoxetine daily. Conclusions: The initial hypothesis that low doses of fluoxetine administrated for a few days would be able to decelerate the sharp fall of ALLO levels, and consequently attenuate the symptoms of PMS, could not be confirmed, with exception to irritability, a cardinal symptom of PMS, that could involve distinct biological processes. The physiopathologic mechanism of PMS is likely complex, with involvement of several action pathways, and further studies are needed, with especial attention to the placebo effect in PMS.