JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A incidência de cirurgias não obstétricas em pacientes gestantes é de 0,36% a 2%. No entanto, cirurgias visando o tratamento cirúrgico de aneurisma cerebral em gestantes são extremamente raras. A doença hipertensiva específica da gestação, apresenta prevalência clínica de 10% na população gestante. Trata-se de uma doença de elevada complexidade clínica, acometendo múltiplos órgãos e sistemas. A dexmedetomidina, fármaco agonista alfa2, apresenta importante seletividade para estes receptores, quando utilizada em doses clínicas terapêuticas e promove adequada estabilidade hemodinâmica, se empregada no período peri-operatório. O objetivo deste relato foi apresentar uma técnica com a qual fosse possível a manutenção da homeostase materna, preservando ao máximo o fluxo sangüíneo útero-placentário e a vitalidade fetal, sem deixar de lado aspectos fundamentais relativos à otimização da relação oferta/demanda de oxigênio cerebral e adequação das condições do tecido cerebral propícias ao manuseio cirúrgico. RELATO DO CASO: Gestante com 19 anos encaminhada para tratamento cirúrgico de aneurisma cerebral, estando na vigésima sétima semana de gestação. No pré-operatório, apresentava-se consciente, orientada, com presença de déficit à esquerda e quadro clínico compatível com toxemia gravídica. Foi administrada dexmedetomidina (1 µg.kg-1) em 20 minutos, seguida de indução anestésica com propofol (2,5 mg.kg-1), fentanil (7,5 µg.kg-1), lidocaína (1 mg.kg-1) e rocurônio (2 mg.kg-1) em seqüência rápida. A manutenção da anestesia foi obtida com propofol (50 µg.kg-1.min-1), alfentanil (1 µg.kg-1.min-1) e dexmedetomidina (0,7 µg.kg-1.min-1). A cirurgia foi realizada sem qualquer intercorrência, não havendo seqüela neurológica subjacente. CONCLUSÕES: Neste caso o uso da dexmedetomidina tornou possível um adequado manuseio hemodinâmico, mantendo otimizado o fluxo sangüíneo útero-placentário e a vitalidade fetal. Ressaltam-se, ainda, as condições adequadas de manuseio cirúrgico do tecido cerebral, assim como a ausência de influência na morbidade após o procedimento anestésico-cirúrgico.JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: La incidencia de cirugías no obstétricas en pacientes embarazadas es del 0,36% a 2%. Sin embargo, cirugías con la finalidad de tratamiento quirúrgico de aneurisma cerebral en embarazadas son extremadamente raras. La enfermedad hipertensiva específica de la gestación, presenta superioridad clínica del 10% en la población gestante. Se trata de una enfermedad de elevada complejidad clínica, acometiendo múltiples órganos y sistemas. La dexmedetomi- dina, fármaco agonista alfa-2, presenta importante selectividad para estos receptores cuando utilizada en dosis clínicas terapéuticas y promueve adecuada estabilidad hemodinámica cuando empleada en el período peri-operatorio. El objetivo de este relato fue presentar una técnica con la cual hubiera sido posible el mantenimiento de la homeostasis materna, preservando al máximo el flujo sanguíneo útero-placentario y la vitalidad fetal, sin dejar de lado aspectos fundamentales relativos a la optimización de la relación oferta/demanda de oxígeno cerebral y adecuación de las condiciones del tejido cerebral propicias al manoseo quirúrgico. RELATO DEL CASO: Embarazada con 19 años encaminada para tratamiento quirúrgico de aneurisma cerebral, en la vigésima séptima semana de embarazo. En el pre-operatorio, se presentaba consciente, orientada, con presencia de déficit a la izquierda y cuadro clínico compatible con toxemia gravídica. Fue administrada dexmedetomidina (1 µg.kg-1) en 20 minutos, seguida de inducción anestésica con propofol (2,5 mg.kg-1), fentanil (7,5 µg.kg-1), lidocaína (1 mg.kg-1) y rocurônio (2 mg.kg-1) en secuencia rápida. El mantenimiento de la anestesia fue lograda con propofol (50 µg.kg-1.min-1), alfentanil (1 µg.kg-1.min-1) y dexmedetomidina (0,7 µg.kg-1.min-1). La cirugía fue realizada sin cualquier acontecimiento, no habiendo secuela neurológica subyacente. CONCLUSIONES: El presente caso mostró que el uso de la dexmedetomidina posibilitó un adecuado manoseo hemodinámico, manteniendo optimizado el flujo sanguíneo útero-placentario y la vitalidad fetal. Se resaltan aún las condiciones adecuadas de manipulación quirúrgica del tejido cerebral, así como la ausencia de influencia en la morbidad después del procedimiento anestésico-quirúrgico.BACKGROUND AND OBJECTIVES: The incidence of non-obstetrical surgeries in pregnant patients is about 0.36% to 2%. However, surgeries aiming at surgical treatment of cerebral aneurysm in pregnant women are extremely rare. Specific hypertensive disease of pregnancy, shows clinical prevalence of 10%. It is a disease with high clinical complexity compromising multiple organs and systems. Dexmedetomidine, alpha2-adrenoceptor agonist drug, in therapeutic clinical doses has major selectivity for these receptors and promotes suitable hemodynamic stability if used in the preoperative period. The purpose of this report was to present an anesthetic technique able to provide adequate maintenance of maternal homeostasis, preserving to the highest level uterus-placental blood flow and fetal vitality, without neglecting fundamental aspects regarding the optimization of brain oxygen supply/demand ratio and favorable brain tissue conditions for surgical management. CASE REPORT: Pregnant patient, 19 years old, 27 weeks of gestation, was referred to the operating room for surgical treatment of cerebral aneurysm. In the preoperative period she was conscious, oriented, eupneic but with left side motor deficit and clinical signs compatible with toxemia of pregnancy. Dexmedetomidine (1 µg.kg-1.h-1) was administered in 20 minutes, followed by anesthetic induction with propofol (2.5 mg.kg-1), fentanyl (7.5 µg.kg-1), lidocaine (1 mg.kg-1) and rocuronium (1.2 mg.kg-1) in rapid sequence. Anesthesia was maintained with propofol (50 µg.kg-1.min-1), alfentanil (1 µg.kg-1.min-1) and dexmedetomi- dine (0.7 µg.kg-1.h-1). Surgical procedure went on with no complications, including brain sequelae. CONCLUSIONS: This case report has shown that dexmedetomidine made possible the handling of hemodynamic responses, keeping optimized uterus-placental blood flow and fetal vitality. Adequate conditions of surgical brain tissue manipulation and the absence of influence in postoperative morbidity are also emphasized.