A fenilcetonúria (PKU) é uma doença genética, autossômica recessiva, ocasionada pela ausência ou deficiência da enzima hepática fenilalanina hidroxilase, que aumenta os níveis de fenilalanina (phe) sanguínea, provocando efeitos tóxicos no sistema nervoso central. Elevações persistentes das concentrações de phe no sangue e dos metabólitos ácidos ocasionam lesões neurológicas que se manifestam, em sua forma mais grave, por retardo mental irreversível. O teste de triagem neonatal, realizado do terceiro ao quinto dia de vida, permite o diagnóstico precoce e a realização do tratamento para evitar os sintomas. O tratamento consiste numa dieta restrita em proteínas associada a um substituto protéico, isento de phe, e que deverá ser mantida por toda a vida. Assim, a partir do diagnóstico, todas as atividades da família ficam centradas na existência da doença que exige além da dieta, dosagens sanguíneas contínuas e deslocamentos frequentes dos pacientes e familiares do município de origem para as consultas no Serviço de Referência. Ao mesmo tempo, por ser uma doença crônica que exige adesão a uma dieta tão especial, o tratamento desses pacientes continua sendo um desafio para a equipe de saúde. Objetivos: Compreender a percepção materna sobre as repercussões da PKU na dinâmica familiar e a percepção da equipe multiprofissional sobre o cuidado e o tratamento da doença. Método: Trata-se de um estudo qualitativo desenvolvido em duas etapas. Na primeira, a percepção materna foi investigada por meio de entrevistas semiestruturadas com mães de crianças afetadas de dois a seis anos de idade. Na segunda, elegeu-se o Grupo Focal para compreender a percepção da equipe multiprofissional sobre o cuidado e o tratamento da PKU. Os dados foram analisados pela técnica da Análise de Conteúdo. Resultados: Foram entrevistadas catorze mães de crianças com PKU e identificadas três categorias temáticas: Revelação do diagnóstico; Aprendendo a lidar com a doença; Implicações da doença crônica na família e no círculo social. Ao iniciar o tratamento, as mães experimentaram sentimentos descritos no processo de adaptação a uma doença crônica grave. Os deslocamentos frequentes para o Serviço de Referência potencializam as dificuldades reveladas pelas mães, alterando significativamente a estrutura familiar. A adesão à dieta é o ponto crucial do tratamento e a sua manutenção torna-se mais difícil com o avanço da idade. O ingresso na escola é mais um momento de tensão para as mães que temem pelas transgressões dietéticas e a exclusão social. Na segunda etapa do estudo, oito profissionais da equipe participaram do Grupo Focal e a análise da discussão entre eles permitiu a identificação das principais categorias temáticas: O início do tratamento; Atuação da equipe multiprofissional; Dificuldades vivenciadas. A discussão revelou a importância do trabalho multidisciplinar e o sentimento de impotência dos profissionais, em especial, quando não ocorre a adesão esperada ao tratamento. A adolescência e a PKU materna são preocupações constantes, exigindo esforços adicionais para o controle do tratamento. Conclusão: O tratamento da PKU é complexo, influenciado por vários fatores e produz alterações significativas na dinâmica familiar. Representa um desafio para os profissionais, uma vez que o conhecimento puramente biológico não é suficiente para o seu enfrentamento. O diálogo entre as duas etapas do estudo enfatizou as dificuldades do tratamento, não só em relação à dieta restritiva, mas também em relação aos aspectos emocionais, sociais, econômicos e culturais. Esse estudo forneceu subsídios para melhorar a compreensão sobre o convívio com a doença na dinâmica familiar e contribuiu para a abordagem mais humanizada e integrada no tratamento da PKU. Phenylketonuria (PKU) is a genetic disorder, autosomal recessive, caused by absence or deficiency of the hepatic enzyme phenylalanine hydroxylase, it increases levels of blood phenylalanine, causing toxic effects on the central nervous system. Persistent elevations of blood concentrations of phe and its acidic metabolites cause neurologic injury manifested, in its most severe form, by irreversible mental retardation. The newborn screening carried out the third to fifth day of life, allows the early diagnosis and the treatment to avoid the symptoms. The treatment consists in a restricted protein diet associated a protein substitute, free phe, which should be kept for a lifetime. Thus, from the diagnostic, all family activities are centered on the existence of the disease that demands, besides the diet, continuous blood dosages and frequent displacements of the patients and their relatives from municipality of origin for searches in the Reference Service. At the same time, since it is a chronic disease which demands the compliance to such special diet, the treatment of these patients is still a challenge to the health care team. Objectives: To understand the maternal perception about the repercussions of the PKU in the family dynamic and the perception of the multidisciplinary team on the care and treatment of the disease. Methods: This is a qualitative study conducted in two stages. At first, maternal perception was investigated by means of semi-structured interviews with mothers of affected children from two to six years old. In the second, the Focus Group was elected to comprehend the perception of the multidisciplinary team concerning the caretaking and treatment of PKU. Data were analyzed using the method Content Analysis. Results: Fourteen mothers of children with PKU were interviewed and three thematic categories were identified: Revelation of diagnosis; Learning to cope with the disease; Implications of the chronic disease in the family and social circle. In the start of the treatment, the mothers experienced feelings described to an adaptation process to a serious chronic disease. The frequent displacements to the Reference Service potentiate the difficulties reveled by the mothers, changing significantly the family structure. The adherence to the diet is a crucial point of the treatment and its maintenance becomes more difficulty with the aging. The entrance in the school is another moment of tension for the mothers who fear the diet transgressions and social exclusion. In the second stage of this study, eight professionals participated in the Focus Group, and the analysis of their discussion allowed the identification of the following thematic categories: the start of the treatment; the performance of the multiprofessional team; the experienced difficulties. The discussion revealed the importance of the multidisciplinary work and the feeling of impotence of the professionals, especially when the expected compliance to the treatment. The adolescence and the maternal PKU are constant concerns, which demand additional efforts to the treatment monitoring. Conclusion: The treatment of PKU is complex, influenced by many aspects, producing significant changes in the family dynamic. It represents a challenge to the professionals, since its biological knowledge is not enough to its coping. The dialogue between the two stages of the research emphasized the difficulties of the treatment, not only regarding the restrictive diet, but also regarding emotional, social, economic and cultural aspects. This study provided subsides to improve the comprehension about living with the disease in the family dynamic, and contributed to more humanized and integrated approach in the treatment of the PKU.