This dissertation aimed to investigate the mother-baby relationship when the baby presents orofacial cleft. Birth is an unmatched moment for the relationship between mother and child, being characterized by the confrontation of the idealized baby psychically with the real baby. When the child is born with a malformation, the mother may experience a deep crisis as far as her emotional balance. Orofacial clefts are congenital malformations of variable presentation, which are formed by an non-closing in the lip and palate region, with aesthetic and functional implications. Winnicott accounts that the primary experience in the context of the mother-baby relationship, lay the foundation for the individual's emotional development. When the mother is identified with her baby, she is able to provide good enough maternal care ensuring the conditions of the newborn development. Maternal care at this stage also represents emotional support that promotes the development of the individual's self. We performed a theoretical-empirical study in order to investigate the experience of the mother when her baby is born with orofacial cleft. Specifically, we seek to know the maternal perceptions and feelings about an orofacial cleft baby. Considering repercussions for the affective bond with the baby and for the maternal capacity to offer sufficiently good care. The study was fulfilled through semi-structured interviews with six mothers assisted in a public hospital whose babies were between 05 days to 06 months of birth. In four of the six dyads, the diagnosis was post childbirth, with two cases of cleft lip and four cases of cleft lip and palate. The interviews were recorded in audio and later transcribed in full. The moment of the interview was considered privileged to perceive the interaction between the dyad and the maternal care offered to the baby. We prick down in the field diary the verbal and non-verbal aspects of the mother-infant interaction observed during the interview. The systematization of the interview transcripts in articulation with the field diary data originated the individual narratives. To analyze the data, we opted for a qualitative method that valorized the subjective aspects implicit in the speeches and attitudes of the mothers. Like this, the narratives were analyzed according to the Content Analysis method and the systematized data for discussion. From the summary of each interview, we identified the emerging issues of maternal reports and group these themes into five axes of analysis to know: a) Psychosocial environment; b) Maternal feelings about the baby; c) The look of the mother for her baby; d) Maternal feelings compared of the other's gaze; e) Maternal care. The interviews reveal that the socioeconomic context of poverty in which the participants are inserted and affects directly the environmental provision of mothers and their children, mainly in nutritional provision that is essential for the success of the first surgical corrections. The female family network provides the support (holding) necessary for mothers to develop the skills that are adaptive to the needs of the children. The impact of the diagnosis after birth is marked by initial feelings of disappointment, sadness and rejection. The guilty feeling propelled the search for an explanation for the malformation, while hope was propelling the investments in search of treatment. Concern about the social effects of malformation and expectations of facing prejudice appear in speech as a source of suffering and anxiety. The shame goes through the maternal search for the acceptance of the other's gaze but does not incapacitate mothers to seek the treatment of children. Privileging the case-by-case singularity, we sought to understand how this kind of malformation affects the mother's feelings and the mother-baby relationship, articulating the reports from Winnicott concepts of primary maternal concern and the specular role of the mother's face. We realized primary maternal preoccupation through reports of empathic and creative adaptations in the mothers' routines to the special needs of these infants. Despite the initial disappointment, the mothers interviewed saw their babies beyond the orofacial cleft. Babies, mindful of the reflection of themselves provided by the mothers' gaze, become active individuals on the scene, trying to talk, smile, and play From this study, we launched a reflection on the possible contributions of multidisciplinary dialogue in the care of mothers of children with congenital malformations, considering the relevance of the psychological conditions for the provision of the maternal care indispensable to the survival and development of the human being in the beginning of life. This research may also help to reflections in other contexts of congenital conditions that is reflected in the mother-baby relationship, and may thus affect maternal identification and / or the provision of a good enough mothering. Esta dissertação teve como objetivo principal investigar a relação mãe-bebê quando o bebê apresenta fenda orofacial. O nascimento constitui um momento ímpar para a relação da mãe com o filho, sendo caracterizado pela confrontação do bebê idealizado psiquicamente com o bebê real. Quando a criança nasce com uma malformação, a mãe pode experimentar uma profunda crise no que tange o seu equilíbrio emocional. As fendas orofaciais são malformações congênitas, de apresentação variável, que se configuram por um não-fechamento na região do lábio e/ou do palato com implicações estéticas e/ou funcionais. Winnicott afirma que as experiências primárias, no contexto da relação mãe-bebê, estabelecem as bases para o desenvolvimento emocional do indivíduo. Quando a mãe está identificada com seu bebê, ela é capaz de oferecer cuidados maternos suficientemente bons, garantindo as condições para o desenvolvimento do recém-nascido. Os cuidados maternos, nessa fase, também representam uma sustentação emocional que promove o desenvolvimento do self do indivíduo. Realizamos um estudo teórico-empírico, a fim de investigarmos a experiência da mãe quando seu bebê nasce com fenda orofacial. Especificamente, buscamos conhecer as percepções e sentimentos maternos acerca do bebê com fenda orofacial, considerando repercussões para o vínculo afetivo com o bebê e para a capacidade materna de oferecer cuidados suficientemente bons. O estudo foi realizado através de entrevistas semiestruturadas com seis mães assistidas num hospital público, cujos bebês tinham entre 05 dias a 06 meses de nascidos. Em quatro, das seis díades, o diagnóstico foi pós-parto, apresentando-se dois casos de fenda labial e quatro casos de fenda labiopalatal. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas na íntegra. O momento da entrevista foi considerado privilegiado para observação da interação entre a díade e dos cuidados maternos oferecidos ao bebê. Registramos em diário de campo os aspectos verbais e não-verbais da interação mãe-bebê observados durante a entrevista. A sistematização das transcrições das entrevistas em articulação com os dados do diário de campo originou as narrativas individuais. Para análise dos dados, optamos por um método qualitativo que valorizasse os aspectos subjetivos implícitos nas falas e atitudes das mães. Assim, as narrativas foram analisadas conforme o método de Análise de Conteúdo e os dados sistematizados para discussão. A partir da síntese de cada entrevista, identificamos os temas emergentes dos relatos maternos e agrupamos essas temáticas em cinco eixos de análise, a saber: a) ambiente psicossocial; b) sentimentos maternos em relação ao bebê; c) o olhar da mãe para seu bebê; d) sentimentos maternos frente ao olhar do outro; e) cuidados maternos. As entrevistas revelam que o contexto socioeconômico de pobreza no qual as participantes estão inseridas repercute diretamente na provisão ambiental das mães e de suas crianças, principalmente na provisão nutricional que é essencial para o sucesso das primeiras correções cirúrgicas. A rede familiar feminina oferece o suporte (holding) necessário para que as mães desenvolvam as habilidades adaptativas às necessidades das crianças. O impacto do diagnóstico após o nascimento é marcado por sentimentos iniciais de decepção, tristeza e rejeição. O sentimento de culpa foi impulsionador da busca de explicação para a malformação, enquanto a esperança foi propulsora de investimentos em busca de tratamento. A preocupação com os efeitos sociais da malformação e expectativas de enfrentar preconceito aparecem nas falas como fonte de sofrimento e ansiedade. Além disso, a vergonha atravessa a busca materna pela aceitação do olhar do outro, porém, não incapacita as mães de buscarem o tratamento das crianças. Privilegiando a singularidade do caso a caso, buscamos compreender como esse tipo de malformação afeta os sentimentos da mãe e a relação mãe-bebê, articulando os relatos aos conceitos winnicottianos de preocupação materna primária e papel especular do rosto da mãe. Percebemos indícios de preocupação materna primária, através de relatos de adaptações empáticas e criativas nas rotinas das mães às necessidades especiais desses bebês. Apesar do desapontamento inicial, as mães entrevistadas viram seus bebês para além da fenda orofacial. Os bebês, atentos ao reflexo de si mesmos proporcionado pelo olhar das mães, tornam-se indivíduos ativos na cena, tentando falar, sorrir e brincar. A partir deste estudo lançamos uma reflexão acerca das possíveis contribuições do diálogo multidisciplinar no atendimento às mães de crianças com malformações congênitas, considerando a relevância das condições psicológicas para a oferta dos cuidados maternos indispensáveis à sobrevivência e o desenvolvimento do ser humano no início da vida. Esta pesquisa pode contribuir, ainda, para reflexões em outros contextos de condições congênitas que reverberem na relação mãe-bebê, podendo, assim, afetar a identificação materna e/ou o oferecimento de uma maternagem suficientemente boa.