A ocorrência de condições hidrodinâmicas extremas em zonas ribeirinhas de estuários e lagunas, ambientes privilegiados para a ocupação humana, pode conduzir a avultados prejuízos materiais e humanos. Revela-se prioritário o desenvolvimento de ferramentas de avaliação da vulnerabilidade destas regiões para apoio ao seu planeamento. Neste estudo é proposta uma metodologia de base para a previsão de níveis extremos de inundação das zonas ribeirinhas de ambientes estuarinos resultantes da acção combinada de vários fenómenos hidrodinâmicos. Esta metodologia é aplicada ao estuário interno do Tejo, numa área cuja morfologia se tem mantido estável à mesoescala (década) e à escala anual: a restinga do Alfeite, na margem Sul do estuário. Os resultados desta aplicação foram integrados num MDT (Modelo Digital de Terreno), para facilitar a análise de vulnerabilidade da área em estudo aos fenómenos simulados. A metodologia proposta tem em conta os fenómenos indutores de inundação em zonas estuarinas e costeiras: i) elevados níveis de maré, ii) sobreelevação meteorológica, iii) sobreelevação associada a cheia, iv) subida do NMM (nível médio do mar) e v) agitação marítima em situação de tempestade. Trata-se de uma metodologia robusta que integra modelos amplamente divulgados e aplicados para estes fenómenos: modelo hidrodinâmico de ondas longas, modelo de geração – propagação de ondas pelo vento, e modelo morfodinâmico que simula o impacte da hidrodinâmica no perfil de praia. A futura substituição de cada um dos modelos aplicados por novos, mais avançados, permitirá, melhorar a precisão das previsões. A previsão do impacte das condições hidrodinâmicas extremas verificadas no dia 29/01/06 no Alfeite permitiu avaliar a precisão da metodologia proposta por comparação do limite superior da escarpa (marca de limite de inundação) simulado e registado após a tempestade. A subavaliação em cerca de 40cm relativamente ao limite registado dever-se-á à não consideração do processo de espraio, às incertezas relativas às condições de vento, à falta de dados de agitação marítima extrema para calibrar o modelo de ondas, entre outros factores de menor peso. A análise dos resultados de simulação de cenários de níveis extremos de água em frente à restinga do Alfeite permitiu concluir que extremos de agitação marítima, sobreelevação meteorológica e níveis excepcionais de maré astronómica são os fenómenos que mais contribuem para os níveis de inundação nesta zona do estuário. A subida do NMM agrava o impacte desses fenómenos a médio e longo prazo. A análise do MDT permite prever que a inundação da restinga terá início pelo seu extremo Este, estendendo-se o alagamento para o seu interior, ocorrendo, numa situação mais extrema, galgamento da duna primária com alagamento quase total da restinga. A alteração morfológica da praia, a destruição das dunas e do ecossistema de sapal, o assoreamento da baía do Seixal e a destruição de infraestruturas são alguns dos impactes possíveis da conjugação destes fenómenos. 8/1: 25-43