Introdução O diabetes tipo 2 é uma das principais causas de morte e incapacidade, e devido ao expressivo número de pessoas com diabetes e projeções que sugerem um aumento significativo nos casos nos próximos anos, é importante entender os mecanismos que levam ao desenvolvimento do diabetes, bem como formas de prevenção. Dos fatores de risco, o excesso de peso costuma ser destacado como o mais importante. Abordagens tradicionais em estudos longitudinais, que geralmente utilizam a alteração de peso entre dois pontos fixos no tempo são limitadas, pois ignoram variações do peso ao longo do período de seguimento. A análise de trajetória permite identificação de diferentes perfis de trajetória ao longo do tempo e possibilita uma avaliação mais detalhada da evolução para sobrepeso ou obesidade, e posterior associação com desenvolvimento de diabetes. Objetivo Identificar e estimar grupos de trajetórias de peso corporal ao longo da infância, adolescência e início da vida adulta utilizando dados do ELSA-Brasil, e avaliar associação entre esses grupos de trajetórias de peso corporal e incidência de diabetes na vida adulta. Métodos Foram utilizados dados do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSABrasil), um estudo de coorte que arrolou 15.105 funcionários públicos de seis estados do Brasil, com idades entre 35 e 74 anos na linha de base (2008-2010). As imagens de Stunkard foram utilizadas para aferir a percepção do peso corporal aos 5, 10, 20, 30 e 40 anos. O diabetes na vida adulta foi aferido em dois momentos, na linha de base e em uma segunda visita, aproximadamente 4 anos mais tarde, e o diagnóstico foi feito com base no autorrelato de diagnóstico médico, uso de medicamentos para diabetes autorreferido ou alteração laboratorial (glicemia de jejum, glicemia pós 2 horas de sobrecarga ou hemoglobina glicada). Foi feita análise de trajetória baseada em grupos para identificação de trajetórias de peso corporal da infância ao início da vida adulta, separadamente para homens e mulheres. Regressão de Poisson com variância robusta foi utilizada para estimar a associação dessas trajetórias com diabetes na vida adulta. Resultados Foram incluídos na análise 11.923 participantes, sendo 5.382 homens e 6.541 mulheres. Para os homens, foram identificadas 6 trajetórias de peso, sendo que a maior parte dos homens foram classificados em uma trajetória com ganho de peso constante ao longo do período analisado (N=4120). A trajetória de referência representa o grupo de homens com peso aproximadamente constante, em uma silhueta intermediária. Comparadas a trajetória de referência, foi encontrado um aumento de risco para diabetes na vida adulta em homens com baixo peso na infância e com um rápido aumento de peso entre os 5 e 20 anos (RR=1,44; IC95%: 1,05-1,98) e em homens com peso baixo na infância até os 20 anos, seguido de um um rápido aumento de peso (RR=1,39; IC95%: 1,07-1,82). Para as mulheres, foram identificadas 5 trajetórias de peso, mas não foram encontradas associações estatisticamente significativas com diabetes. Conclusão Para homens, ter um baixo peso na infância seguido por um rápido aumento de peso, tanto na infância quanto na vida adulta, apresenta aumentos de risco para diabetes. Introduction Type 2 diabetes is one of the main causes of death and disability. Due to the significant number of people with diabetes and projections suggesting a significant increase in cases in the coming years, it is important to understand the mechanisms that lead to the development of diabetes, as well as forms of prevention. Being overweight is often highlighted as the most important of the risk factors. Traditional approaches in longitudinal studies, which generally use a change in weight between two fixed points in time, are limited, as they ignore variations in weight over the follow-up period. A trajectory analysis allows the identification of different trajectory profiles over time and allows a more detailed assessment of the evolution of overweight or obesity, and subsequent association with the development of diabetes. Aims Identify trajectories of body weight throughout childhood, adolescence and early adulthood among participants of ELSA-Brasil, and evaluate the association of these trajectories with the presence of diabetes in adults. Mehods We used data from the Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil), a cohort study that enrolled 15,105 civil servants from six states in Brazil, aged between 35 and 74 years at the baseline (2008-2010). Stunkard silhouettes were used to measure the perception of body weight at 5, 10, 20, 30 and 40 years old. Diabetes in adulthood was measured at baseline and at a second visit, approximately 4 years later, and the diagnosis was made based on self-reported medical diagnosis, use of self-reported diabetes medications or laboratory alterations (fasting glucose, 2-hour glucose, or glycated hemoglobin). Groupbased trajectory analysis was performed to identify body weight trajectories from childhood to early adulthood, separately for men and women, and Poisson regression with robust variance was used to estimate the association of the trajectories with diabetes in adulthood. Results A total of 11,923 participants were included in the analysis, 5,382 men and 6,541 women. For men, 6 weight trajectories were identified, and most men were classified in a trajectory with constant weight gain over the analyzed period (N = 4120). The reference trajectory represents the group of men with approximately constant weight, in an intermediate silhouette. Compared to the reference trajectory, an increased risk of diabetes in adult life was found in men with low weight in childhood and with a rapid increase in weight between 5 and 20 years (RR = 1.44; 95% CI: 1, 05-1.98) and in men with low weight in childhood up to the age of 20, followed by a rapid increase in weight (RR = 1.39; 95% CI: 1.07-1.82). For women, 5 weight trajectories were identified, but no statistically significant associations were found with diabetes. Conclusion For men, being lean at age 5 followed by rapid increases of weight in early childhood or early/mid adult life conferred increased risk of diabetes.