Contexto: A doença arterial periférica tem uma alta prevalência na população mundial e acomete principalmente os idosos. O sintoma mais comum é a claudicação intermitente e, com a progressão da doença, evolui com dor em repouso e lesões teciduais. Consequentemente, nos casos mais graves, pode ocorrer a amputação do membro. Os Guidelines atuais recomendam a realização da Ultrassonografia Vascular com Doppler como exame complementar inicial para confirmação e localização da doença. Objetivo: Avaliar a acurácia diagnóstica da Ultrassonografia Vascular com Doppler para estenoses e oclusões arteriais em pacientes com doença arterial periférica em membros inferiores. Métodos: Nós pesquisamos as bases eletrônicas, sem qualquer tipo de restrição ou filtro, com avaliação da MEDLINE, Embase, LILACS, IBECS, CENTRAL, Web of Science, World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform, ClincalTrials e literatura cinzenta. As buscas aconteceram em dezembro de 2018 e foram atualizadas em outubro de 2021. Os estudos selecionados avaliaram a acurácia diagnóstica da Ultrassonografia Vascular com Doppler para estenoses e/ou oclusões arteriais em pacientes com doença arterial periférica em comparação com a arteriografia, o padrão referência. As artérias avaliadas foram a aorta abdominal infrarrenal; artéria ilíaca (abrangendo ilíaca comum e externa); artéria ilíaca comum individualmente; artéria ilíaca externa individualmente; artéria femoral comum; artéria femoral (em todo o seu trajeto); artéria femoral em seus terços proximal, médio e distal; artéria poplíteas supra e infra-articulares; tronco tibiofibular; artéria tibial anterior; artéria tibial posterior e artéria fibular. Além disso, analisamos o agrupamento das artérias localizadas acima do joelho, abaixo do joelho e todas as artérias do membro inferior. As análises realizadas foram para estenoses maiores e iguais a 50%; oclusões; e estenoses (maiores e iguais a 50%) e oclusões associadamente. Os trabalhos incluídos utilizaram a Análise Espectral com medidas de velocidade para confirmação desses diagnósticos. Por fim, realizamos metanálise para estimar a sensibilidade, especificidade e valores de verossimilhança para cada uma das artérias propostas. Resultados: Foram incluídos 16 estudos, com um total de 9.811 segmentos arteriais comparados, possibilitando a análise de 38 cenários para metanálise. Seis estudos fizeram análises independentes para estenoses e oclusões separadamente. Encontramos que a sensibilidade para o diagnóstico de estenoses arteriais do membro inferior foi de 0,85 (IC95%: 0,67-0,93), a especificidade mostrou-se mais elevada, sendo de 0,96 (IC95%: 0,92-0,98). Para o diagnóstico das oclusões arteriais do membro inferior a sensibilidade foi de 0,90 (IC95%: 0,84-0,94) e a especificidade de 0,98 (IC95%: 0,96-0,99). Quando separamos as artérias em grupos acima e abaixo do joelho, observamos maior sensibilidade para a região acima do joelho (82% a 91%) do que abaixo do joelho (41% a 87%), já a especificidade mostrou-se muito semelhante, sendo de 94% a 98% para a região acima do joelho e de 90% a 98% para a região abaixo do joelho. Ao considerarmos as artérias individualmente, encontramos que as melhores sensibilidades e especificidades foram para oclusões das artérias poplítea supra-articular (0,93 [IC95%: 0,80-0,97] e 0,99 [IC95%: 0,95-0,99], respectivamente) e poplítea infra-articular (0,90 [IC95%: 0,70-0,97] e 0,99 [IC95%: 0,95-0,99], respectivamente). Já a menor sensibilidade foi para avaliação de estenose ou oclusão do tronco tibiofibular (0,41 [IC95%: 0,21-0,63]), e a menor especificidade foi para estenose ou oclusão da artéria fibular (0,64 [IC95%: 0,17-0,63]). Conclusões: Com esta revisão, definimos as acurácias diagnósticas da UVD para cada artéria do membro inferior. O exame é mais específico do que sensível para os diagnósticos de estenoses e oclusões arteriais, com resultados mais relevantes para as oclusões. Os segmentos com melhores acurácias foram para os compreendidos entre ilíaca e tronco tibiofibular, com destaque para poplítea supra-articular. Para as artérias com menores acurácias, como as localizadas abaixo do joelho, deve-se ponderar a realização de exames seriados ou a realização de outros exames como a angiotomografia e angiorressonância, ou a arteriografia para os casos de necessidade imperativa de revascularização. Context: Peripheral artery disease has a high prevalence in the world population and mainly affects the elderly. The most common symptom is intermittent claudication, and as the disease progresses, it evolves with rest pain and tissue damage. Consequently, in most severe cases, limb amputation occurs. The current guidelines recommend Doppler ultrasound as an initial complementary exam for confirmation and location of the disease. Objective: To evaluate the diagnostic accuracy of Doppler ultrasound for arterial stenosis and occlusions in patients with peripheral artery disease in the lower limbs. Methods: We searched electronic databases, without any restriction or filter, with MEDLINE, Embase, LILACS, IBECS, CENTRAL, Web of Science, World Health Organization International Clinical Trials Registry Platform, ClincalTrials evaluation, and grey literature. Searches occurred in December 2018 and were updated in Octuber 2021. The selected studies evaluated the diagnostic accuracy of Doppler ultrasound for arterial stenosis and/or occlusions in patients with peripheral arterial disease compared with arteriography, the reference standard. The arteries evaluated were the infrarenal abdominal aorta; the common and external iliac arteries together; the common iliac artery alone; the external iliac alone; the common femoral artery; the femoral artery (throughout its course); the femoral artery in its proximal, middle, and distal thirds; the supra- and infra-articular popliteal arteries; the tibiofibular trunk; the anterior tibial artery; the posterior tibial artery; and the fibular artery. The analyses performed were for stenosis greater than and equal to 50%; occlusions; and stenosis (greater than and equal to 50%) and associated occlusions. The studies included used spectral analysis with velocity measurements to confirm these diagnoses. Finally, we performed a meta-analysis to estimate the sensitivity, specificity and likelihood values for each proposed artery. Results: 16 studies were included, with 9811 arterial segments compared, making it possible to analyze 38 scenarios for meta-analysis. Six studies performed independent analysis for stenosis and occlusions separately. We found that sensibility for diagnosing lower limb arterial stenosis was 0,85 (95% CI: 0,67-0,93), specificity was more accurate, being 0,96 (95% CI: 0,92-0,98). For the diagnosis of lower limb arterial occlusions, the sensibility was 0,90 (95% CI: 0,84-0,94) and the specificity was 0,98 (95% CI: 0,96-0,99). When considering the arteries individually, we found that the best sensibilities and specificity were for occlusions of the supra-articular popliteal arteries (0,93 [95% CI: 0,80-0,97] and 0,99 [95% CI: 0,95-0,99], respectively) and infra-articular popliteal (0,90 [95% CI: 0,70-0,97] and 0,99 [95% CI: 0,95-0,99], respectively). The lowest sensibility was for assessing stenosis or occlusion of the tibiofibular trunk (0,41 [95% CI: 0,21-0,63]), and the lowest specificity was for stenosis or occlusion of the fibular artery (0,64 [95% CI: 0,17-0,63]). Conclusions: With this review, we defined the diagnostic accuracies of UVD for each artery of the lower limb. The test is more specific than sensitive for diagnosing arterial stenoses and occlusions, with more relevant results for occlusions. The segments with the best accuracy were those between the iliac and tibiofibular trunk, with emphasis on the supra-articular popliteal. For arteries with lower accuracy, such as those located below the knee, one should consider performing serial exams or performing other exams such as angiotomography and angioresonance, or arteriography in cases of imperative need for revascularization.