Como distintas pedagogias entram em funcionamento nos espaços-tempos noturnos da metrópole? Para responder tal questão, o objetivo principal desta tese consistiu em dar visibilidade às pedagogias que se configuram e operam na noite da cidade de Porto Alegre, RS, Brasil. Para tanto, a pesquisa tratou de investigar como determinados lugares públicos noturnos proporcionam condições que ensejam experiências de aprendizagem implicadas com o que denomino pedagogias da noite. Posicionada no campo dos Estudos Culturais em Educação e partindo de pressupostos teóricos acerca das transformações culturais destacadas por S. Hall, T. Eagleton, Z. Bauman e R. Williams, a pesquisa se insere nas discussões levantadas por autores como H. Giroux, S. Steinberg, E. Ellsworth, M. V. Costa. V. C. Camozzato e P. D. Andrade em torno da pluralização do conceito de pedagogia e de seus espaços de atuação. O primeiro movimento da pesquisa procurou mapear representações da noite no campo das Artes, bem como nas produções das Ciências Humanas e Sociais em que o tema tem sido objeto de estudo. Tal levantamento evidenciou diferentes olhares, tanto para a formação de imaginários noturnos quanto para a diversidade de experiências vividas na noite, sugerindo distintos modos de condução em seus espaços-tempos. O segundo movimento consistiu nas saídas de campo em que o pesquisador-flâneur traçou rotas noturnas na região central de Porto Alegre. Os lugares noturnos selecionados foram três viadutos, duas ruas de um bairro boêmio e um grande parque da cidade. A pesquisa fez uso de uma metodologia de investigação híbrida, utilizando procedimentos inspirados na “etnografia pós-moderna” praticada por S. Gottshalk, na técnica da “observação casual” descrita por Lorite García e na “metodologia polifônica” adotada por M. Canevacci. O corpus de análise foi composto a partir das observações e registros das práticas sociais noturnas e dos relatos de sujeitos abordados nos lugares investigados. Viver na solidão, apegar-se aos pertences pessoais e protegê-los, assim como a desconfiança, resultam de aprendizagens daqueles que habitam nos viadutos à noite. Nas ruas boêmias, a adoção de formas estéticas, os encontros e a busca de relacionamentos afetivos são comportamentos aprendidos nas pedagogias da noite. Aprender a conhecer as intenções do outro pelo uso de “táticas” e “habilidades” realçaram-se como experiências no convívio laboral noturno. Comum a todos os lugares e relatos, evidenciaram-se experiências em que o medo e a insegurança promovem aprendizagens para a proteção na vida urbana noturna. Autores como R. Sennett, M. Canevacci, M. Maffesoli, Yi Fu-Tuan, M. Certeau, J. Larrosa e D. W. Winnicott embasaram as discussões analíticas. A relação do “eu” com o outro e com o lugar foi identificada como linha mestra das experiências de aprendizagem desenvolvidas por meio das condições exteriores e de como são interiorizadas pelos sujeitos. Intrínsecos aos modos de viver e aprender, esses movimentos de “exteriorização” e “interiorização” permitiram visualizar como as pedagogias se configuram e operam na noite. Funcionando como movimentos de articulação, as pedagogias da noite ensejam experiências em que os sujeitos aprendem tanto a conduzir quanto a conduzir-se e serem conduzidos nas situações e condições que determinados lugares noturnos da metrópole proporcionam. How different pedagogies work in the metropolis nocturnal time space? In order to answer this question, the main objective of this thesis consists of give visibility to the pedagogies that are configured and operate in the night of Porto Alegre city, RS, Brazil. Therefore, the research sought to investigate how certain nocturnal public places provide conditions that entice learning experiences implied with what I call pedagogies of the night. Inscribed in the field of Cultural Studies in Education and based on theoretical assumptions about the cultural transformations highlighted by S. Hall, T. Eagleton, Z. Bauman and R. Williams, the research is inserted in the discussions raised by authors such as H. Giroux, S Steinberg, E. Ellsworth, MV Costa. V. C. Camozzato and P. D. Andrade around the pluralization of pedagogy concept and its spaces of acting. The first research movement pursued to map the representations of the night in the Arts field, as well as in the productions of Social and Human Sciences in which the subject has been object of study. This collection evidenced the different views, both for the nocturnal imaginaries formation and for the diversity of experiences lived at night, suggesting different modes of conduction in their time-spaces. The second movement consisted of field outing in which the researcher-flâneur traced nocturnal routes in the central region of Porto Alegre. The selected night spots were three viaducts, two streets of a bohemian neighborhood and a large city park. The research used a hybrid research methodology, utilizing procedures inspired by the "postmodern ethnography" practiced by S. Gottschalk, by the "casual observation" technique described by Lorite García and by "polyphonic methodology" adopted by M. Canevacci (2005). The corpus of analysis was composed from the observations and records of the nocturnal social practices and the subject’s reports approached in the investigated places. Living in solitude, clinging to personal belongings and protecting them, as well as the distrust, result as learnings of those who inhabit viaducts at night. In the bohemian streets, the adoption of aesthetic forms, the encounters and the search for affective relationships are behaviors learned in the pedagogies of the night. Learning to know each other's intentions through the use of "tactics" and "abilities" have been emphasized as experiences in the life at night. Common to all places and reports, there have been experiences in which fear and insecurity promote learning for protection in the urban night life. Authors like R. Sennett, M. Canevacci, M. Maffesoli, Yi Fu-Tuan, M. Certeau, J. Larrosa and D. W. Winnicott supported the analytical discussions. The relation of the "self" to the other and with the place was identified as the main line of learning experiences developed through external conditions and how they are internalized by the subjects. Intrinsic to the ways of living and learning, these movements of "exteriorization" and "interiorization" allowed to visualize how the pedagogies are configured and operate at night. Functioning as articulation movements, the pedagogies of the night provide experiences in which the subjects learn to drive and conduct themselves as well as to be conducted in the situations and conditions that certain metropolis nocturnal places provide.