Projeto de Pós-Graduação/Dissertação apresentado à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas A introdução de agentes antimicrobianos na terapêutica representou um grande progresso para a Saúde Pública, possibilitando uma evidente redução das taxas de morbilidade e mortalidade associadas a doenças infeciosas. No entanto, a emergência e disseminação de resistência bacteriana face à ação dos antibióticos tem, nos últimos anos, vindo a constituir um fenómeno preocupante, representando um desafio constante à escala mundial. Diversos são os fatores que contribuem para a manifestação e disseminação de resistência, estando entre eles o uso irracional de antibióticos, a eliminação descontrolada de resíduos para o ambiente e a transmissão de genes de resistência intra e inter-espécie. O ambiente hospitalar representa o nicho ecológico mais importante, promotor do crescimento de elevados níveis de resistência, devido à pressão seletiva exercida pelo uso constante de antibióticos durante o tratamento de doenças infeciosas. Ainda que com menos frequência, mas com igual importância, a agricultura, a produção intensiva, a aquacultura, a veterinária e as zonas urbanas constituem exemplo de ambientes onde a utilização descontrolada de antibióticos parece favorecer a seleção de estirpes resistentes. Permanece, contudo, pouco esclarecida a origem de alguns dos mecanismos de resistência adquiridos, com maior relevância clínica, bem como a sua associação a bactérias de nichos ecológicos extra-hospitalares. Recentemente, tem sido dada atenção ao papel de outros ambientes não-clínicos, como áreas remotas do Globo, afastadas da elevada pressão antropogénica, como fonte e/ou reservatório de bactérias resistentes. O aparecimento de características de multirresistência a antibióticos, na ausência de exposição a estas moléculas, em isolados de animais selvagens provenientes de áreas remotas, levanta importantes questões sobre o papel deste nicho ecológico como reservatório e fonte de bactérias resistentes fora do ambiente hospitalar conduzindo à necessidade de esclarecimento da dinâmica deste preocupante fenómeno, bem como das implicações para as estratégias de controlo da resistência. The introduction of antimicrobial agents in the therapy represented a major step forward for public health, enabling a clear reduction in morbidity and mortality rates associated with infectious diseases. However, the emergence and spread of bacterial resistance to antibiotics has been, in recent years, a serious concern representing a constant worldwide challenge. There are several factors that contribute to the manifestation and dissemination of resistance, among them being the irrational use of antibiotics, uncontrolled waste disposal on the environment and the transmission of resistance genes intra and inter-species. The hospital environment is the most important ecological niche, promoting growth of high levels of resistance, due to selective pressure by the constant use of antibiotics for the treatment of infectious diseases. Although less frequently, but with equal importance, agriculture, intensive farming, aquaculture, veterinary and urban areas constitute environments where uncontrolled use of antibiotics seems to favor the selection of resistant strains. Remains, however, poorly understood the origin of some of the mechanisms of acquired resistance, with clinical relevance, as well as their association with bacteria outside hospitals ecological niches. Recently, attention has been given to the role of other non-clinical settings, such as remote areas of the globe, away from high anthropogenic pressure, as source and /or reservoir of resistant bacteria. The emergence of multidrug resistance characteristics of the antibiotics in the absence of exposure to these molecules in isolated wildlife from remote areas, raises important questions about the role of this ecological niche as a reservoir and source of resistant bacteria outside the hospital leading to the need of clarification about the dynamics of this worrying phenomenon and the implications for control strategies of resistance.