O estudo da personalidade em animais é relativamente recente. Até pouco tempo atrás, na Ecologia Comportamental, as diferenças individuais consistentes eram consideradas ruído em torno à estratégia ótima. Na Psicologia, evitava-se falar de personalidade em animais por temor à antropomorfização. As pesquisas têm mostrado que diferenças de personalidade se manifestam em inúmeras espécies, como formas diferentes de lidar com as pressões seletivas, com consequências para a aptidão, sendo assim uma variável muito importante em ambientes que mudam. Temperamento, Personalidade, Síndrome Comportamental ou Estilo de Enfrentamento são nomes que têm sido usados para se referir ao fenômeno dos animais exibirem diferenças interindividuais consistentes ao longo do tempo e das situações. Porém, esses termos não são exatamente sinônimos. Ao longo desta tese, primeiro revisei o percurso histórico do estudo da personalidade em animais a partir das perspectivas da Psicologia e da Ecologia Comportamental, buscando os pontos em comum e as possibilidades de unificação das duas escolas. No segundo capítulo, avaliei se houve diferenças de personalidade, mediante a codificação do comportamento, em doze macacos-prego selvagens observados dentre 0 e 3 anos de idade. Para tanto, verificamos, usando uma análise de repetibilidade, se as diferenças individuais foram consistentes ao longo de 10 pontos de desenvolvimento, para conferir se as características de personalidade estavam já presentes logo ao nascimento ou se sofreram modificações ao longo x do desenvolvimento. Mediante análise dos componentes principais obtivemos quatro traços de personalidade: Sociabilidade-Atratividade, Ansiedade, Apertura e Atividade, achando um efeito do desenvolvimento em Sociabilidade (que diminuiu com a idade) e Ansiedade (que aumentou). Contudo, não foi possível verificar consistência intra-individual nos traços ao longo do tempo analisado. Em consonância com a literatura de personalidade e temperamento em humanos, os resultados indicaram que a estrutura da personalidade não está ainda estabelecida no começo do desenvolvimento The study of animal personality is relatively new. Until recently, in Behavioral Ecology, consistent individual differences were considered \'noise\' around an optimal strategy. In Psychology, animal personality was avoided as a consequence of the fear of anthropomorphization. Research has shown that personality differences are manifest in many species, evident from different forms of dealing with selective pressures, with consequences for fitness, thus, being an important variable in changing environments. Temperament, Personality, Behavioral Syndrome, or Coping Style are names that have been used to refer to the phenomenon of animals exhibiting \"consistent interindividual differences over time and across situations. However, these terms are not exactly synonyms. Throughout this thesis, I first reviewed the historical course of the study of personality in animals, from the perspectives of Psychology and Behavioral Ecology, looking for points in common and possibilities of unification of the two schools. In the second chapter, I evaluated, through behavioral coding, if there were personality differences in twelve young wild capuchin monkeys, between 0 and 3 years-old. Then, we verified using a repeatability analysis whether the individual differences were consistent across 10 developmental points, to find out if the personality traits were already present at birth or if they were acquired during development. By means of principal component analysis, we obtained four personality traits: Sociability-Attractiveness, Anxiety, Openness and Activity, finding an effect of development on Sociability (which decreased xii with age) and Anxiety (which increased). However, it was not possible to verify intra-individual consistency in the traits throughout the analyzed time. Consistent with the literature on personality and temperament in humans, the results indicated that personality structure is not yet established at the beginning of development