Introdução: o câncer de rim corresponde a aproximadamente 3% de todos os casos novos de câncer no mundo, sendo o carcinoma de células renais o tipo histológico mais frequente nos Estados Unidos da América, correspondendo a 85% das neoplasias renais malignas. A nefrectomia é o tratamento cirúrgico padrão para os pacientes diagnosticados com neoplasias renais e pode ser utilizada de forma radical ou parcial, dependendo do tamanho e localização do tumor. Alguns estudos recentes têm tentado demonstrar que diferenças no acesso ao tratamento entre pacientes com classes socioeconômicas díspares podem agravar a evolução da doença e até mesmo a sobrevida de pacientes menos favorecidos. No entanto esses dados ainda são controversos e não existem números concretos definindo qual a influência real da classe socioeconômica na evolução dos pacientes com neoplasias renais. Objetivos: 1) Verificar as chances de recorrência da neoplasia e mortalidade câncer-específica dos pacientes tratados cirurgicamente com carcinoma de células renais em instituições com perfis de pacientes socioeconômico diferentes, sendo uma pública, que atende pacientes com níveis socioeconômicos inferiores e outra privada, que atende pacientes com níveis socioeconômicos mais elevados. 2) Verificar também as características da neoplasia e as formas de tratamento de pacientes tratados em instituições públicas e privadas, supostamente influenciadas pelos diferentes níveis socioeconômicos. Métodos: foi realizado estudo retrospectivo não controlado com 398 pacientes portadores de neoplasia de rim, que foram tratados com nefrectomia radical ou parcial e acompanhados por pelo menos 5 anos. Os pacientes foram divididos em dois grupos de acordo com as instituições nas quais foram submetidos ao tratamento, sendo 300 pacientes de instituição pública (ICESP) e 98 pacientes de instituição privada (Hospital SírioLibanês). Foram realizadas comparações entre os dois grupos, incluindo as seguintes variáveis: recorrência local tumoral, mortalidade câncer-específica, dados demográficos como sexo, tipo de cirurgia realizada e aspectos anátomo-clínicos como estadiamento tumoral, tipo histológico, grau de Fuhrman e tamanho do tumor. Resultados: o tipo de cirurgia, tanto nefrectomia radical como parcial, realizada em ambas as instituições foi numericamente semelhante (p = 0,782). No que tange ao tipo histológico, houve diferença estatística significativa entre os grupos, sendo que, em ambas as instituições houve predominância do carcinoma de células claras, entretanto, com número mais elevado na instituição pública do que na instituição privada, respectivamente, 83,0% e 56,1%, observando-se, contudo, maior prevalência de tumores com componente sarcomatoide na instituição privada (6,1% versus 1%, p < 0,001). Em relação ao estágio patológico da neoplasia houve uma maior frequência de casos avançados pT3-pT4 na instituição pública, comparada à privada, respectivamente, 26,0% e 14,3% (p < 0,001). O grau de Fuhrman e o volume tumoral foram mais elevados nos pacientes submetidos ao tratamento na instituição pública, quando comparada à privada, respectivamente, 28,0% versus 24% em relação ao grau de Fuhrman (p = 0,048) e 6,7 cm versus 5,8 cm em relação ao volume tumoral (p = 0,016). Com respeito a mortalidade câncerespecífica (públicas 10,4% versus privadas 8,2%, p = 0,4250) e recorrência tumoral (públicas 15,0% versus privadas 11,2%, p = 0,304), os resultados foram semelhantes nas duas instituições estudadas. Conclusões: os riscos de recorrência tumoral e mortalidade câncer-específica foram semelhantes em pacientes tratados em instituição pública e privada no Brasil, indicando que diferentes níveis socioeconômicos não influenciam a evolução oncológica de pacientes com câncer renal localizado tratados cirurgicamente. Os resultados do presente estudo demonstraram também que pacientes tratados em instituição pública e possivelmente de nível socioeconômico mais baixo, são diagnosticados com carcinoma de células renais mais avançado, quando comparados aos pacientes tratados em hospital privado, supostamente de nível socioeconômico mais alto Introduction: kidney cancer corresponds to approximately 3% of all new cancer cases in the world, and kidney cell carcinoma being the most frequent histological type in the United States of America, corresponding to 85% of the malignant kidney cancer. More than 60% of kidney tumors have been incidentally diagnosed between the sixth and seventh decade of life with predominance for the male gender, and the proportion of patients under 65 had varied in the last few years. Nephrectomy has been the standard surgical treatment for patients diagnosed with kidney cancer, and it can be used in a radical or partial manner, depending on the size and the location of the tumor. Some worldwide studies have attempted to demonstrate that differences in the access to the treatment among different socioeconomic classes can contribute to the outcome of the disease, leading to a worse survival rate of the less privileged patients. However, studies are still controversial, and in fact there is no firm knowledge as to the real influence of the socioeconomic class in the evolution of patients affected by kidney cancer. Objectives: 1) to evaluate the chances of local disease local recurrence and cancer specific mortality of the patients with renal cancer treated surgically in institutions with different socioeconomic patients\' profile, one public institution attending lower socioeconomic levels, and another private taking care of higher socioeconomic level patients. 2) In addition we evaluated disease characteristics and forms of treatment of patients dealt with in both public and private institutions. Methods: a non-controlled retrospective study was carried out involving 398 patients treated with radical or partial nephrectomy for kidney cancer treatment. All patients were followed for at least 5 years and were divided in two groups in accordance with the institutions where treatment was provided, 300 of whom in a public institution and 98 in a private one. Comparisons between the two groups included the following data: tumor recurrence, cancer-specific mortality, sex, type of surgery performed, tumor staging, histologic type, Fuhrman grade and size of the tumor. Results: The type of surgery performed in both institutions was similar, showing no statistical difference (p = 0.782). Regarding the histological type, there was a statistically significant difference between the groups, and in both institutions there was a predominance of clear cell carcinoma, however, with a higher number in the public institution than in the private institution, respectively, 83.0% and 56.1%. Sarcomatoid features were prevalent in the private institution (6,1% versus 1%, p < 0,001). There was a higher frequency of pT3-pT4 advanced cases in the public institution, compared to the private one, respectively, 26.0% and 14.3% (p < 0.001). Fuhrman grade and tumor volume were higher in patients submitted to treatment at the public institution and in both variables there was a significant statistical difference (tumor grade, respectively, 28.0% and 20.4%, p = 0.048 and tumor volume, respectively, 6.7 cm and 5.8 cm, p = 0.016). In relation to cancer-specific mortality (public 10.4% and private 8.2%, p = 0.4250) and tumor recurrence (public 15.0% and private 11.2%, p = 0.304), the results were similar in the two studied institutions. Conclusions: the risks of tumor recurrence and cancer specific mortality were similar in patients treated in a public and private institution in Brazil. The results of the present study also demonstrated that patients treated at a public institution and possibly of a lower socioeconomic level are diagnosed with higher volume renal cell carcinoma and with a more advanced nuclear grade when compared to patients treated at a private hospital, supposedly of a higher socioeconomic level