A posição de Antonio Labriola na tradição do marxismo é sem dúvida extraordinária. Ele se forma filosoficamente nos anos Sessenta do século XIX na escola hegeliana de Nápoles, politicamente ligada à «direita histórica», a classe intelectual que conduziu a unificação italiana, e que trazia inspiração da concepção do Estado ético. No fim dos anos Setenta, Labriola abandona o hegelismo e se aproxima do realismo de Herbart, ao mesmo tempo em que abandona as posições da direita moderada para se aproximar antes da democracia radical, e, depois, da democracia social, isto é do socialismo; é só depois de ter passado por essa experiência que ele estuda os textos dos autores do materialismo histórico. A forma desse estudo é também extraordinária, pela capacidade que o autor tem de se apropriar dos textos maiores e menores do marxismo, até daqueles comumente não disponíveis na época, também através dos textos que diretamente ele recebe por Engels, e incorpo-los na sua reflexão ao mesmo tempo originalmente e sem desnatura-los. Isso faz com que Labriola tenha outra formação marxista que aquela própria da tradição do marxismo italiano, o marxismo, entre outros, de Mondolfo e Gramsci. O caráter do pensamento de Antonio Labriola o qual se exprime nos Saggi sul materialismo storico é o de uma explicação do materialismo histórico que enfrenta todas as questões fundamentais ao centro do debate sobre o marxismo da sua época, e que comporta uma exigência crítica de reformulação teórica do marxismo, salvando a unidade de sua concepção teórica na sua pluralidade de componentes. Trata-se de uma obra cuja dificuldade consiste na pluralidade de questões tratadas e no peculiar ponto de vista de Labriola, cuja posição é tanto distante do assim chamado «marxismo ortodoxo» quanto do revisionismo do marxismo da «crise do marxismo» da Segunda Internacional. É fundamental para entender essa posição ter em mente a precedente reflexão de Labriola sobre a «filosofia da história» que faz com que ele enxerte o materialismo histórico, que encontrará só na maturidade de sua produção intelectual, numa concepção genético-crítica já bem aprofundada da natureza do desenvolvimento histórico. O materialismo histórico proporcionará porém a Labriola os meios para o acabamento de sua pesquisa sobre a história e será o elemento unificante de uma concepção não mais idealista na medida em que lhe permitirá superar a ausência de capacidade de determinação das «teoria dos fatores». Só o materialismo histórico permitirá, com efeito a Labriola alcançar aquela visão unitária da história, integralmente realista que, desde o começo, constituia o alvo de sua reflexão (por isso Labriola é muito atento em superar o esquematismo da relação estrutura-superestrutura). Para Labriola, com efeito, graças ao materialismo histórico, o comunismo se tornou crítico, se tornou objetivo, em suma se tornou ciência. Serão certamente os efeitos da oposição-combinação da operação revisionista e da persistência da ortodoxia marxista que determinerão o caráter do marxismo da Terceira Internacional, todavia, nessa apresentação entende-se mostrar como o marxismo de Labriola continue sendo uma lição que precisa ser levada em conta para refletir sobre a natureza científica do materialismo histórico.