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Este artigo discute como a obra literária e dramática de Samuel Beckett pode dialogar com o imaginário do cerrado goiano, analisando as performances do Máskara – Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas em Teatro, Dança e Performance, grupo fundado em 2002 na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás. Em 20 anos de existência o coletivo já encenou 5 espetáculos tendo como base os textos do escritor irlandês, trazendo em sua composição elementos do imaginário da cidade de Goiânia e as cores e referências visuais do Cerrado. Partindo de reflexões do encenador brasileiro Robson Corrêa de Camargo e do filósofo e liderança indígena brasileira Ailton Krenak, o artigo reflete sobre como as particularidades da obra de Beckett encontra terreno fértil para fincar suas raízes em solo goiano.

Desde Diferencia y repetición, Deleuze quiere liberar al espíritu de su relación con la representación. Sin embargo, este programa contenía una formulación paradójica. Deleuze propone una nueva imagen del pensamiento, la cual no es otra que la de un pensamiento sin imagen. Todo el combate en contra de “la filosofía de la representación” nos obligaba a pensar el pensamiento sin representar nada, a buscar una imagen del pensamiento que, en tanto pensamiento sin imagen, no fuera ella misma una imagen. Esta ceguera atraviesa todo el trabajo de Deleuze en los años 70, donde no encontramos ninguna teoría de la imagen, ni ninguna tentativa de construir cualquier imagen de un pensamiento sin imagen. Podríamos decir que aquello que fascinó a Deleuze en la experiencia del cine, a comienzos de los años 80, fue precisamente la posibilidad de producir imágenes del pensamiento, e imágenes de un pensamiento sin imagen. Recién en El agotado la actividad del espíritu es presentada como la creación de imágenes. Mientras que en los libros sobre cine el espíritu está sobre la pantalla, es decir, que él es el movimiento y el tiempo de las imágenes, en el análisis de las piezas para televisión de Beckett, sin embargo, el espíritu es más bien algo que se cumple en la cabeza de personajes agotados.

O artigo discute afinidades e relações oblíquas entre Henri Meschonnic e Samuel Beckett, a partir de um percurso analítico por textos da coletânea Têtes-mortes (1972) representativa da ficção beckettiana tardia. Para tanto, mobiliza discussões de Meschonnic em torno das questões do ritmo, da significância, do sujeito e da “modernidade da modernidade” e aponta diálogos e contrastes entre leituras de obras de Beckett por Meschonnic, Wolfgang Iser e Theodor Adorno.

The emergence of Samuel Beckett's theatre in the London theatre scene in the 1950s has become a turning point in the history of British theatre. Having written plays whose then innovative dramatic language comprises verbal, visual and performative elements which at first caused great estrangement among directors, actors and spectators, Beckett remarkably reconfigured what theatre can mean. In this article, I will discuss distinctive features of Beckett's theatre that have given rise to an absurdist aesthetics whose meta-theatricality subverts key principles of theatrical naturalism. Looking at Beckettian dramaturgy and performance, I will examine different ways in which plays like Waiting for Godot, Endgame and Happy Days declare their own theatricality, thus preventing the creation of dramatic illusion characteristic of naturalistic theatre. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

Our main hypothesis is: in order to understand the singular trembling of Derrida’s philosophical work, and with it, the philosophic-political significance of it, one has to examine not only Derrida’s own conception of writing and, specifically of literature, but also the resonance of his work with that of an author who appears as his own writerly ghost: Samuel Beckett. This examination will follow the trembling between the two authors up to its utmost conclusion, where not only the limits of language, but also those of any kind of sovereignty are effaced through this quake.

O artigo situa as peças televisivas de Samuel Beckett em relação à questão da autonomia dos meios artísticos. Aponta-se uma forma de trabalho com o meio televisivo semelhante àquele desenvolvida por Beckett em outros meios (teatro, prosa, rádio): a crítica às convenções de cada gênero (drama, romance, filme televisivo) e o desenvolvimento dos meios de produção. Nesse contexto, o artigo destaca as condições de trabalho disponíveis ao artista nos estúdios da Süddeutscher Rundfunk, em Stuttgart, e, por fim, propõe uma análise de duas das peças televisivas: Eh Joe e … só as nuvens….

¿Es posible que un movimiento tan corrosivo y evanescente como el trazado por Beckett haya podido devenir en canon? ¿Qué significa eso? ¿Es deseable que así lo sea? Si es un canon, ¿qué tipo de fidelidad solicita? ¿A qué paradigma o valor debe su potestad? ¿Qué constituye su traición y desde dónde es juzgada como tal? La posibilidad de que la transmutación en lenguaje escénico de un texto pueda o deba ser considerada como una traición al material original cobra, en la obra de Beckett, un interés particular en virtud de la enorme tensión que este tópico ha generado, tanto de carácter teórico como en el marco del quehacer teatral, a raíz del celo exacerbado de parte de los detentores de los correspondientes derechos. Mediante el análisis puntual de las peculiaridades estilísticas y las tesis filosóficas de Samuel Beckett se reflexiona sobre la legitimidad de dicho celo y se cuestiona su pertinencia contrastándolo, a manera de ejemplo, con un montaje particular del relato “Primer amor”. Este artículo es una llamada de atención hacia las distorsiones que se generan al acatar irrestrictamente un canon estético. Es, también, un relato detallado de algunos de los procesos implicados en un montaje escénico.

El fin es un motivo que cruza prácticamente toda la obra de Samuel Beckett. En este artículo propongo, con especial atención a su novela Cómo es, que el agotamiento de la significación en la escritura de Beckett no constituye propiamente una tesis o una posición acerca de la “condición humana” (no sirve como ilustración de perspectivas filosóficas de tipo existencialistas), sino que es una exploración de los límites del lenguaje, paradójicamente inagotables.

Por meio de análise das obras Descrição de imagem, de Heiner Müller e “L’image” [A imagem], de Samuel Beckett, o presente artigo analisa a complexa relação entre imagem e linguagem, buscando compreender possíveis imbricamentos dessas duas instâncias nas referidas obras. Não parece mais viável - ou até mesmo possível - pensar a literatura e as artes visuais como domínios absolutamente distintos, com limites claramente estabelecidos. Os textos de Müller e de Beckett justamente propõe novos modos de compreensão das instâncias do visível e do invisível, do sonoro e do silêncio, do quadro e a da escrita, enfim, da imagem e da linguagem.

Esse artigo é uma réplica ao texto de Luciano Gatti intitulado “Samuel Beckett e o minimalismo”.

Esse artigo é uma réplica ao texto de Luciano Gatti intitulado “Samuel Beckett e o minimalismo”.

O artigo propõe uma aproximação entre Samuel Beckett e um conjunto de artistas visuais, em particular escultores, associados ao Minimalismo norte-americano e à sua imediata posteridade, artistas como Donald Judd, Robert Morris, Sol LeWitt e Bruce Nauman. Essa aproximação tem por base dois elementos: 1) a utilização de procedimentos artísticos comuns a todos esses artistas, ou seja, o emprego de esquemas seriais e repetitivos na produção das obras; 2) uma análise do ensaio de Rosalind Krauss, “LeWitt in Progress”, que defende a proximidade entre tais artistas por meio de uma forma de racionalidade própria ao esquema das séries. Com base nisso, o artigo interroga se tais artistas teriam sido levados aos esquemas seriais pelo enfrentamento de problemas semelhantes em cada um de seus meios artísticos. Em outras palavras, pergunta-se qual a especificidade do recurso ao serialismo em cada meio artístico empregado por eles, da prosa às artes visuais.

En este ensayo presentamos un recorrido sobre diversos materiales de la obra de Samuel Beckett, con especial énfasis en su única película llamada Film, para señalar, con la ayuda de diversos autores y pensadores (Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Jorge Luis Borges y Emmanuele Coccia, entre otros), cómo en algunas obstinaciones beckettianas es pensable algo así como una imagen imperceptible.

Pesquisa centrada no campo do teatro com interlocução com as Artes Visuais, tendo como objetivo pensar os escritos do autor irlandês Samuel Beckett em que estes remetem à pintura, especificamente a dois pintores holandeses e questões relacionadas à representação e a conceitos desenvolvidos pelo autor de referência. Agrega-se a esta o termo disability, escolhido para propor um desdobramento da presença do corpo mutilado ou portador de próteses seguindo o princípio conceitual já mencionado. Tanto na pintura quanto nos escritos e no teatro, ocorre de pensar até onde o autor problematizou questões cuja contemporaneidade postula e desborda através de sua complexidade. O estudo desenvolve-se através de pesquisa bibliográfica, além de pesquisa de imagens e escritos, tendo como resultado final texto em formato de tese de doutorado cujas conclusões, assim como as origens da mesma, centram sua abordagem na reflexão acerca das relações em arte contemporânea em diálogo com os conceitos apresentados pelo autor em seu tempo.

Stage productions of 'King Lear' at the Royal Shakespeare Company (RSC) have played a key role in reinventing the play for each new generation. Every production finds unique ways of presenting 'Lear', each of which adds new layers of meanings that can potentially shape our understanding of the play. In the 1960s, romanticized and naturalistic approaches that had governed the staging of the play were displaced by a modern conception of 'King Lear' as Shakespeare’s 'Endgame'. This article examines comparatively how dramatic forms emblematic of Samuel Beckett’s theatre were assimilated into three distinct RSC productions of 'King Lear', directed by Peter Brook (1962), Adrian Noble (1982) and Gregory Doran (2016). Beckett’s enduring influence on the play’s afterlife foregrounds both the practices of appropriation and transformation of previous texts that shape contemporary Shakespearean performance, and the dialogic interplay of textual and non-textual elements through which Shakespeare’s play has acquired meaning on the RSC stage. The appropriations of Beckettian patterns were shaped by the tensions between text and performance, and the battle between centripetal and centrifugal forces that intersect dialogically in the processes of meaning-making within Shakespearean performance.

This short article suggests that Samuel Beckett’s Film (written in 1963), and its film adaptation directed by Alain Schneider (shot in 1964, in the USA, and shown at the Venice and New York Film Festivals, in 1965), shares a common interest with the realms of utopia and dystopia regarding the power of gaze. Indeed, when gaze acquires surveillance purposes, it inevitably intersects with power tools that may lead to the suspension of individual and collective freedoms by those who hold such power instruments, a situation mirrored in many 20th century dystopias. On the other hand, in contemporary times, individuals are the ones seeking visibility and exposure: for causes, specific groups - often oppressed or marginalised -, but also purely for the sphere of their private life, a display of intimacy enhanced by the advent of social media. Film, in turn, focuses very concretely on the (im)possibility of escaping perception (extraneous or self-) and on the emotions aroused in individuals by such contingency, thus resuming some of the issues debated in utopian studies regarding the power of gaze and anticipating contemporary anxieties on the same subject. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

Our aim is to analyze the idea of language exhaustion in Gilles Deleuze and to evaluate the way the philosopher approaches literature and takes up the work of Samuel Beckett to reflect on the potentialities of literature. This article is divided into three parts: it probes the role played by literature in Deleuze's thought; it takes up Beckett's work to understand its content; it analyzes the text The Exhausted, which Deleuze wrote in 1992 as an afterword to Beckett's television plays broadcast by the BBC in London between 1975 and 1982. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

O ensaio busca destacar a qualidade metalinguística do romance Molloy, de Samuel Beckett, aliando-a a um procedimento discursivo que é, ao mesmo tempo, paródia e crítica ao método cartesiano.

The present article explores an unusual meeting (1940) between the French artist Marcel Duchamp and the Irish writer Samuel Beckett at Arcachon, southwest region of France. This meeting is only possible because of the Nazi invasion of Paris, as well as the interest both manifested for the game of chess. First of all, we briefly make allusion to the relation of the game with literature and philosophy, then we read the Beckett`s piece Endgame, a fundamental work in his poetics – taking into account it was written and staged after the Second World War – from some chess assumptions referred to the third moment of a game of chess (namely the endgame) of Duchamp.

Esta análise busca evidenciar, nas obras Molloy, Malone morre e O inominável, a trajetória traçada por Samuel Beckett na composição de uma narrativa conhecida por desafiar os limites da representação, destacando a precariedade do pensamento e da linguagem, que fracassam em suas tentativas de apreender o real ser das coisas. Nesse contexto, considerando a representatividade um jogo que surge a partir do caos inarticulável da realidade, lançamos mão da filosofia cartesiana e do pensamento do filósofo checo-brasileiro Vilém Flusser a respeito da realidade e da linguagem, no intento de evidenciar, diante da palavra que silencia, o caráter impreciso do romance beckettiano.

The article approaches Samuel Beckett's Watt as a reflection on the paths of the modern novel. Three elements are highlighted: the literary and philosophical parody in the author's early work; the difficulty in determining the narrative focus; and the use of series and combinations to question the organization of romanesque time in the form of action. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

This article focuses on self-translation and bilingualism as an essential characteristic to understand Samuel Beckett’s and Nancy Huston’s works and their literary projects. This analysis leads us to think in terms of a broader perspective of the term translation, which psychoanalysis and contemporary literary studies have addressed. Beckett had a literary project, which included a subversion of language that he aimed at through the process of self-translation. More than an activity, the process of translation and the manipulation of two languages is part of his poetic inspiration. When Huston makes an explicit homage to Beckett and puts herself in the same experience of writing in a foreign language and translating her own texts, she gives a testimony, and also provides a key for reading Beckett from a contemporary perspective. Despite the remarkable differences between these two authors, we claim that self-translation is part of their literary project, and is more than a random event for both of them.

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Presente em toda a obra de Samuel Beckett, o cômico torna-se mais radical a cada etapa de sua narrativa. Partindo dos procedimentos paródicos nos textos dos anos 30, o cômico corrói as estruturas do gênero nos romances dos anos 50 e avança, por fim, sobre a própria linguagem por volta dos anos 70. Este artigo estabelece uma relação entre a teoria do riso de Henri Bergson e o romance Molloy (1951). A partir desta análise, podemos perceber como as ideias de Bergson sobre a rigidez (de corpo, de caráter, de linguagem) ajudam a explicar os efeitos metanarrativos do cômico desta segunda fase. This work is licensed under a Creative Commons Attribution 3.0 License.

Ao deslocar a questão da monstruosidade do domínio da temática para o domínio da estética voltada para a relação de fruição, este artigo debruça-se sobre o tédio enquanto uma componente do efeito da leitura. Descrito por Baudelaire como um “monstro delicado”, o tédio, de fato, revela um forte potencial de tolher a configuração da forma. Frequentemente comparado à névoa, à poeira e à lama, fenômenos muito diferentes da tradicional hibridação formal associada à noção de monstruosidade, o tédio remete à informidade. Ele se deixa experimentar na leitura de narrativas de Beckett por meio de um ritmo que não culmina, impedindo a formação de representações, e suscitando uma reação ambivalente de repulsa e de atração.

O artigo discute a questão da voz narrativa no romance O inominável de Samuel Beckett. Com base em estudos genéticos da composição do romance, discute-se a função literária de temas como a crítica à linguagem e à consciência, assim como suas consequências para se pensar o gênero do romance. O artigo retoma então uma discussão sobre realismo em textos de Adorno e Lukács com o intuito de debater a centralidade da fábula, sua estrutura temporal e a relação da forma com a experiência histórica. Por fim, tentaremos retomar essas questões a partir da análise de um momento específico do romance de Beckett. Com isso, as questões teóricas anteriormente expostas deverão ganhar concretude no esforço de elucidar problemas da composição do romance, como o feitio episódico do conjunto, a identidade da voz narrativa, a especificidade do monólogo interior e a confluência entre narrativa e reflexão.

Abstract – Samuel Beckett's interest in St. Augustine is manifest throughout his oeuvre, both in terms of content and style, and can be traced from his very first works, such as Whoroscope, to his last plays and short stories. Although this interplay has been touched upon in the critical discourse on Beckett, a systematic analysis is still to be done. This paper represents a preliminary investigation into the Augustinian influence in the early Beckett, in particular Dream of Fair to Middling Women and Murphy. By considering the presence of the Confessions in these two novels I intend to show how St. Augustine's work played a significant role in the development of the young author, offering him the occasion to overcome his theory of habit as outlined in his early essay, Proust. In this text, Beckett posits habit as merely “the generic name for the countless treaties concluded between the countless subjects that constitute the individual and their countless correlative objects”. Dream still endorses this perspective, but already suggests a different dialectic of memory, will, and habit. This shift, I argue, can be connected to Beckett’s reading of Augustine's meditations, in book VIII of the Confessions, on the cleavage between the spirit and the flesh. In Murphy, we see Beckett’s 'Augustinian dialectic' fully formed: habit is no longer a veil of Maya that hides the real essence of the individual, but the condition of possibility for the subject's flight from the “mercantile Gehenna” world towards the truth of the inner self.Riassunto – L'interesse di Samuel Beckett per Sant'Agostino è evidente nell'intero corpus dell'autore – a partire dai suoi primissimi lavori, in particolare la poesia Whoroscope, fino agli ultimi drammi e racconti – e si manifesta sia sul piano del contenuto che dello stile. Nonostante il rapporto tra i due autori sia già stato oggetto dell'attenzione dei critici, una sua analisi sistematica deve essere ancora compiuta. Nel presente saggio si offre una proposta di lettura della presenza agostiniana nel primo Beckett, in particolare Dream of Fair to Middling Women e Murphy. Considerando la presenza delle Confessioni in questi due romanzi intendo mostrare come i lavori di Sant'Agostino abbino giocato un ruolo fondamentale nello sviluppo del giovane autore, offrendogli l'occasione di superare la sua teoria dell'abitudine così come l'aveva rappresentata nel saggio giovanile Proust. In questo testo, Beckett descrive l'abitudine come “il nome generico per gli innumerevoli accordi stipulati fra gli innumerevoli soggetti che costituiscono l'individuo e i rispettivi innumerevoli oggetti”. In Dream si presenta la stessa prospettiva, ma già si intravedono i segni di una differente dialettica fra memoria, volontà e abitudine. Tale slittamento può essere ricondotto alla lettura delle meditazioni agostiniane nel libro VIII delle Confessioni, nelle quali si tematizza la scissione fra la volontà dello spirito e quella del corpo. In Murphy la dialettica agostiniana di Beckett giunge a compimento: l'abitudine non è più il velo di Maya che nascone l'essenza reale dell'individuo, ma la condizione di possibilità per la fuga del soggetto dalla “mercantile Gehenna” verso la verità dell'interiorità.

O trabalho propõe uma análise da peça teatral Fim de Partida, do autor irlandês Samuel Beckett, a partir da perspectiva da inserção da obra de arte em seu contexto histórico-filosófico. Assim, proponho uma leitura da obra como uma resposta aos procedimentos técnicos da ordem social capitalista da época e à proximidade da destruição causada pela Segunda Guerra Mundial. Essas condições históricas não necessariamente serão desenvolvidas como um tema na produção artística de Beckett, mas se refletem em sua obra a partir da elaboração de técnicas dramatúrgicas e de um esforço linguístico de criação voltados para a expressão de uma ordem social e política nova, na qual muitos dos pressupostos dramatúrgicos legados pela tradição precisam ser contestados e reformulados. Assim, nas construções dialógicas novas, na ideia de natureza como história e como decadência, na deformação física e espiritual das personagens, na violência anônima e indizível que cerca todo o palco, etc, o que se tenta expressar é um novo estatuto da linguagem e da racionalidade que não pode mais se apresentar dentro das convenções de uma construção dramática tradicional. Neste artigo, pretendo apresentar as novas possibilidades de expressão de uma condição histórica da humanidade através da obra beckettiana, assim como as eventuais limitações de ação e criação que foram colocadas por ela.

Tomando como ponto de partida comentários de tradutores de Samuel Beckett, o artigo se debruça sobre a noção do translinguismo enquanto produção de sentido entre línguas. O tradutor polonês do breve texto Sans/Lessness, Antoni Libera, e a tradutora brasileira do How it is, Ana Helena Souza, frisam, de fato, a importância da presença de dois textos e de duas línguas como pontos de partida da tradução para a terceira língua. Com isso, ambos tradutores insistem na subversão da noção de “original” e afi rmam o processo da autotradução beckettiana, no qual uma língua constantemente comenta a outra, como inerente e indispensável ao processo criativo.

“As personagens de Beckett em Fim de Partida comportam-se de maneira tão primitiva e behaviorista em conformidade com as circunstâncias pós-catastróficas; e essa catástro-fe as mutilou tanto que elas não podem reagir de outra maneira; são moscas em agonia, após terem sido mutiladas pelo mata-mosca” (Adorno). Este ensaio se propõe a analisar duas características das personagens de Beckett, o non-sens de cada uma delas e, ao mesmo tempo, a mútua dependência como condição de uma fugidia sobrevivência; e pretende fazê-lo tendo como luzes o texto de Theodor Adorno sobre essa peça teatral. O elenco beckettiano conta com apenas quatro cabeças, os anti-heróis, Hamm e Clov, e duas personagens subalternas, os velhos Nagg e Nell, pais de Hamm. Hamm, cego e paralítico, é o rei em torno do qual tudo gira, mas que, em sua impotência, depende sempre do outro para realizar algo. Clov, coxo e criado, gostaria de acabar com Hamm ou ao menos abandoná-lo, mas não se anima a fazer nem uma e nem outra coisa. Os dois velhos, mutilados, sobrevivem no limite do instinto de auto-conservação, jogados em latões de lixo, e se confortam mutuamente. Quatro seres em degenerescência, lidan-do o tempo todo com a tarefa de existir; vivem como se fossem os últimos sobreviven-tes de uma humanidade devastada. De um lado, o absurdo, enquanto manifestação con-sequente da razão tornada completamente instrumental e que clama pelo sentido que ela mesma aniquilou; de outro lado, a trama das personagens, privadas de individuação e de autonomia, que não conseguem, mesmo odiando-se reciprocamente, viver uma sem a outra. Para Adorno, os arquétipos de Beckett são históricos pelo fato de que ele apresen-ta como coisas tipicamente humanas as deformações infligidas aos homens pela forma de organização da sociedade.

Este artigo discute, a partir de alguns aspectos históricoestéticos da noção de trágico, o teatro de Samuel Beckett. Trata-se de uma confrontação entre a concepção tradicional de tragédia e a idéia de desencanto do teatro do absurdo.

O artigo procura situar a interpretação proposta por Theodor W. Adorno para a peça "Fim de partida", de Samuel Beckett, no contexto de sua concepção de autonomia da arte. Segundo a hipótese do trabalho, o conceito de autonomia subjaz ao diagnóstico histórico de Adorno a respeito do gênero dramático, o qual justifica sua leitura da peça como uma paródia do drama. O artigo busca mostrar os acertos dessa leitura perante a recepção inicial da peça, e também seus limites, uma vez que resulta em uma abordagem da experiência teatral focada primordialmente na consideração do texto teatral, em detrimento da encenação.

A tradução dos textos tardios de Samuel Beckett, Companhia (1980) e Worstward Ho (1983), suscitou reflexões e, quando de sua publicação, críticas, que serão comentadas neste artigo. Vão ser abordadas não só a justificativa de escolhas de tradução, mas a análise do que, na leitura dos textos e na consideração do português do Brasil, levou a tais escolhas. Referências a outras traduções dos mesmos textos – a francesa, a portuguesa e a italiana – aparecerão em comentários específicos. Nosso objetivo é destacar a complexidade e beleza desses textos beckettianos, do ponto de vista de um trabalho feito numa proximidade tão grande deles, como o trabalho de tradução.

Neste trabalho exporemos aspectos da poética de Samuel Beckett que serão projetados para um teatro onde o silêncio é provavelmente o fator mais importante da representação. A impossibilidade de dizer e a representação de uma realidade mental de natureza linguistíca levarão o seu teatro a expor uma série de situações onde os personagens se encontrarão quase imóveis, colocando a ação nas palavras que constroem imagens mentais centradas de diferentes maneiras no silêncio.

Este ensaio tem como objetivo discutir a construção das personagens emEsperando Godot, de Samuel Beckett, apoiando-se nos estudos de Martin Esslin sobre o Teatro do Absurdo, uma forma de drama que enfatiza o absurdo da existência humana, empregando fragmentação, repetição e ininteligibilidade, como reação artística à Segunda Guerra Mundial.This essay discusses the construction of the characters in Waiting for Godot by Samuel Beckett, based on Martin Esslin’s studies on the Theatre of the Absurd, a form of drama that emphasizes the absurdity of human existence by employing split subjects, repetitions and meaninglessness as artistic reactions to World War II.

Neste ensaio, abordaremos aspectos da performatividade da escrita beckttiana a partir de interpretações de Gerd Bornheim. O autor de Esperando Godot ao procurar uma nova gesticulação para sua linguagem, recoloca questões estéticas importantes, tais como: a percepção das intuições de espaço e tempo, a (i)mobilidade corporal e a (in)comunicabilidade nas artes. Dessa forma, buscamos compreender as reverberações culturais dessa experiência dramatúrgica, mediante análise de um datiloscrito original de Bornheim intitulado “Beckett e os significados do gerúndio”. Essa leitura será complementada por enfoques presentes nas publicações de Bornheim sobre o Teatro e a Filosofia da Arte, bem como por alguns escritos de Ruggero Jaccobi, Luiz Carlos Maciel, Paulo Leminski, Fábio Souza Andrade entre outros.

L’ article a pour objet l’étude des didascalies méta-interactionnelles. L’analyse est menée à partir d’une observation du système didascalique que contient la pièce En attendant Godot de Samuel Beckett. Il s'agit, dans une première partie, de statuer sur la définition et la délimitation de ces empans textuels qui constituent l'une des deux composantes de la textualité dramatique. Dans une seconde partie, on s'attache à décrire les contenus que recouvre la catégorie des didascalies dîtes métainteractionnelles.Dans les deux cas, on cherche à préciser les particularités stylistiques de Beckett en la matière.

Este artigo está constituído em torno de dois esforços fundamentais: 1º) ensaia-se uma narrativa do vir a ser da arte, a partir de uma retomada crítica da argumentação hegeliana, pela substituição da centralidade do conceito de ideia pelo conceito de resistência do material; aproximando-a das reflexões básicas da teoria estética adorniana a respeito da condição compositiva subjacente à arte moderna radicalmente autônoma. 2º) coloca-se à prova tal proposta, mobilizando-se seus elementos conceituais para a interpretação de duas obras de um dos “clássicos da modernidade” referidos por Adorno, Samuel Beckett: Esperando Godot e Fim de Partida.

Partindo de Slow Angle Walk (Beckett Walk) [Caminhada angular lenta (Caminhada Beckett)], de 1968, um dos primeiros vídeos filmados por Bruce Nauman em seu ateliê, este ensaio busca examinar possíveis convergências formais e temáticas entre alguns de seus trabalhos e a obra de Samuel Beckett, especialmente o emprego da repetição, da redução e da contenção como procedimentos fundamentais para se atingir uma espécie de saturação da experiência que conduz ao esgotamento por meio da recombinação exaustiva de poucos elementos.

The article presents an analysis of the roles of the creator and of imagination in the work of Samuel Beckett. It begins by a study of the short novel Company/ Compagnie (1980), written in English and translated by the author into French. The analysis is built on the perspective of énonciation in linguistics, which allows a consideration of the subjects of speech. In addition, a bilingual reading of Beckett’s short novel is proposed, from which a character/ creator in the entre-deux emerges, presenting himself both as an inventor and as a sort of administrator of creatures who exist in spite of him. The article thus examines how the narrator of Company and those of other Beckett’s texts put the Author in a delicate position: they trouble the notions of origin and originality of a text, stressing its plurality and at the same time evoking the ancient idea of inventio in rhetoric.

The styles and subjects of Samuel Beckett's works continue to resonate in contemporary literature and theater: Beckett's modernity is contemporary with current 'post'-modern sensibility. Beckett's radical engagement with modernity is anchored in writing as the site of resisting any habits of subjective self- pity or complacency. A reading of First Love (first written in French, 1945) illustrates the ways that Beckett moves us beyond the predictable, into the strangeness of being and the poetic dimensions of language. From the rich play of language in the labyrinth of his early novels through the minimalism of his later years, fictional autobiography marks the unique history of his Nobel Prize awarded in 1969.

O objetivo deste estudo consiste na análise do projeto (Beckett on Film) que adaptou Dias Felizes, uma das peças de Samuel Beckett, escrita entre 8 de outubro de 1960 e 14 de maio de 1961, ao cinema. No decorrer do artigo, é dada uma atenção especial às características visuais e à natureza concomitantemente humana e irreal das personagens de Beckett. Finalmente, é dada uma perceção global do panorama literário Beckettiano, o que inclui o projeto cinematográfico que fez com que os desejos do autor, de inexistência de variações relativamente ao que criou, prevalecessem.

Resumo Procuramos demonstrar, a partir de uma relação entre a noção adorniana de estilo tardio e obras tardias de Deleuze - sobretudo L’épuisé, que trata da obra igualmente tardia de Beckett para a televisão - que há no pensamento deleuziano uma importante reflexão sobre a morte. Procuramos salientar a presença desta ideia e diferenciar a morte da noção de negativo, criticada pelo autor. Uma vez traçada a natureza desta reflexão, pretendemos questionar sua relevância no estudo da obra de Beckett.

Conor McPherson (1971) is considered to be one of the most innovative Irish playwrights, with an amazing gift for storytelling. However, he is a screen writer and film director as well. So far, he has written the script of I Went Down (1997), Saltwater (2001), The Actors (2003) and The Eclipse (2009); the last three he has also directed. McPherson was responsible for the adaptation of Samuel Beckett's Endgame for Channel Four's "Beckett on Film" series. This article aims at showing how he transposes Beckett's stage directions of the play Endgame to the screen.

Theodor Adorno deixou uma série de anotações sobre o romance O Inominável de Samuel Beckett, as quais deveriam ser aproveitadas para a elaboração de um ensaio que nunca chegou a ser escrito. O artigo busca discutir uma dessas anotações, segundo a qual o romance de Beckett poderia ser caracterizado como a consumação de uma tendência do romance contemporâneo em direção ao romance reflexivo. Com o intuito de desdobrar essa questão o artigo recorre a elementos da obra de Beckett e da reflexão de Adorno sobre a forma do romance.

Guardadas as diferenças relativas à distância geracional e às especificidades dos campos disciplinares, algumas convergências formais e temáticas são observadas entre as obras de Samuel Beckett (1906-1989) e de Bruce Nauman (1941). Este ensaio busca aproximá-las tendo em conta os escritos de Nauman para suas primeiras instalações artísticas e “O Despovoador”, pequeno texto em prosa publicado por Beckett em 1970.

A prosa final de Samuel Beckett parece ter sido pautada por um desejo de esvaecimento de todas as imagens. Sua literatura da “despalavra” (non mot) é marcada por personagens e cenários insólitos, surgindo na fronteira de sua própria dissolução. Imagens frágeis, fugidias, que colocam em xeque o jogo da percepção comum, deslocando tempo e espaço. Que imagens são essas, que dão corpo a uma espécie de invisibilidade ou limite da visão? O vazio ou o nada: como figurá-los? Como dar corpo ao que escapa, ao que não tem forma perceptível? Essas questões são as que nos conduzem a pensar acerca da imagem, tal como presente-ausente na literatura de Beckett, e seus desdobramentos para a leitura do texto beckettiano.