1. MULHERES CIGANAS: AS GUARDIÃS E A ESCOLA.
- Author
-
Pereira Pinto, Ana Kátia and Oliveira, Ivone Martins
- Abstract
Este texto tem como objetivo refletir sobre o papel da mulher na cultura cigana e a sua implicação nas transformações que estão ocorrendo em vários grupos brasileiros, especialmente entre os ciganos capixabas. Buscou-se compreender a implicação da participação da mulher nos assuntos relativos à educação escolar das crianças ciganas e os desmembramentos da relação ciganos - escola. Baseia-se em um recorte da dissertação de mestrado, desenvolvida a partir dos pressupostos teóricos que norteiam a pesquisa do tipo etnográfico. As reflexões aqui suscitadas foram elaboradas a partir de uma observação participante realizada entre os anos de 2008 e 2010 em um acampamento seminômade do município de Fundão, no estado do Espírito Santo, Brasil. Nesse local, os meninos estavam matriculados na escola regularmente, mas Yara, a única menina do acampamento, não. Interessou-nos conhecer os aspectos do grupo que estavam contribuindo para essa condição. Para melhor compreender e refletir sobre esse processo, elegemos no grupo três mulheres de gerações diferentes para análise: Dona Lena, cigana, 67 anos; Ducila, não cigana casada com cigano, 32 anos e Yara, quatro anos, filha da segunda e neta da primeira. Procuramos conhecer as implicações da postura das duas primeiras no futuro da última. As análises centraram-se em reflexões sobre as concepções das duas primeiras sobre educação escolar e os enfrentamentos, as resistências e os desmembramentos no que tange ao processo de escolarização de Yara. Constatou-se que Dona Lena apoia a ida de Yara para a escola, mesmo que isso implique em mudanças nos hábitos e costumes futuros da menina. Indicaram que a decisão final cabe ao homem, mas que Ducila trazia contrapontos e argumentações frequentes baseadas em seu modo de vida anterior ao casamento cigano, o que implicava resistências e outros debates no grupo sobre a escolarização das crianças. Desse modo, concluímos que Yara representa simbolicamente uma grande mudança, pois, com o apoio materno, possivelmente sua condição de casar-se na adolescência e deixar a escola será modificada, segundo o discurso da mãe e da avó. Assim, consideramos que o papel da mulher na cultura cigana capixaba tem passado por várias transformações e estas têm condicionado e favorecido outras formas de relação entre os ciganos e a escola. [ABSTRACT FROM AUTHOR]
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- 2016
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