1. Arquivamentos anticoloniais: a Guerra Mucker na fronteira sul e traços-daquilo-que-não-se-sabe
- Author
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João Biehl
- Subjects
Guerra Mucker ,Insurgência anticolonial ,Imigração alemã ,Traços-daquilo-que-não-se-sabe ,Sociopoética ,Ethnology. Social and cultural anthropology ,GN301-674 - Abstract
Resumo: Este ensaio desenterra a Guerra Mucker, o primeiro levante messiânico do Brasil moderno, ocorrido entre teuto-brasileiros em 1874 e deixado à impunidade, relegado à escória da história. O conflito fratricida teve como pano de fundo um expansionismo neocolonial que conectava a Europa à fronteira sul do país, refletindo também a dinâmica de racialização e a necropolítica das classes dominantes, assim como uma silenciada insurgência anticolonial de base: espaço-tempos e entrelaçamentos dos quais eu sou um descendente acidental. Embora amaldiçoado, um certo modo comunitário de cuidar de si mesmo e de seus entes queridos permaneceria vivo como um não-saber errante naquela paisagem sulina, manifestando o poder plástico da gente colonizada internamente. Ao dar atenção etnográfica a essa dimensão ahistórica, o ensaio delineia um outro lugar que desaloja o conhecido e possibilita capacidades distintas de sintonização e de contar histórias e, para os Mucker e seus descendentes, métodos alternativos de conceber o corpo e o mundo abertos ao Espírito da Natureza. O etnógrafo-contador-de-histórias é uma das muitas entidades que pulsam no palimpsesto poético-prismático de traços-daquilo-que-não-se-sabe, sempre prestes a se tornar outra coisa: um coletivo de copresenças que a práxis antropológica pode deixar apodrecer e continuar desaparecendo - como um modo de viver enxertado na natureza - ou que pode ser revivido por esses lampejos, mesmo sem linguagem.
- Published
- 2025
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