Roitman, Iris, Ribeiro, Rômulo José da Costa, Jacobson, Tamiel Khan Baiocchi, Estevam, Luciana Silva, Marcondes, Nívea Jorgia Silva, Filho, Reinaldo José de Miranda, Vieira, Ludgero Cardoso Galli, Assad, Sílvia Starling, and Ávila, Mário Lúcio
Nesse estudo descrevemos a dinâmica de cobertura da terra e de estoques e emissões brutas de carbono (C) em 55 assentamentos na Amazônia Legal, situados em 22 municípios do norte de Mato Grosso, entre julho de 2008 e julho de 2016 e discutimos suas implicações para políticas de mudanças climáticas. A estimativa de C foi baseada na mudança da cobertura da terra, obtida por processamento de imagens Spot, Sentinel e Landsat e visitas de campo, e dados secundários de valores médios de carbono por classe de vegetação. Considerando a cobertura potencial da vegetação, ou seja, a cobertura hipotética antes da ação antrópica na área, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os 55 assentamentos eram originalmente cobertos por 685 mil ha de vegetação nativa (103 Teragrama (Tg) de C). O desmatamento até 2016 (ocorrido antes e depois de 2008) foi superior a 65% da área de cobertura nativa. A maior parte dele (77%) ocorreu até 2008. Embora a restauração de áreas consolidadas (desmatadas antes de julho de 2008) não seja obrigatória, ela pode gerar receita com créditos de carbono, cotas de reserva ambiental, manejo florestal e agrosilvicultura. A área desmatada por assentamento até 2008 teve forte relação com a taxa de desmatamento por assentamento entre 2008 e 2016. Isso sugere que, os que desmataram muito até 2008 tendem a continuar a desmatar. A taxa de desmatamento anual entre 2008 e 2016 foi de 12,7 mil hectares (ha). Caso permaneça a mesma, toda a vegetação nativa da área terá sido suprimida em menos de duas décadas. Em geral, os assentamentos da modalidade de Projetos de Desenvolvimento Sustentável tiveram menor desmatamento, o que indica que é possível associar reforma agrária e desenvolvimento econômico e social com a conservação da floresta amazônica. Contudo, é preciso fortalecer as políticas voltadas para o pagamento de serviços ambientais e para os produtos da floresta em pé (manejo florestal de baixo impacto e de recursos não madeireiros). Para isso, é essencial a integração de esforços do governo federal, estadual, municipal e do mercado. Dans cette étude, nous décrivons la dynamique de la couverture terrestre et de stocks et les émissions brutes de carbone (C) dans 55 colonies en Amazonie Légale situées dans le nord du Mato Grosso, entre 2008 et 2016, et nous discutons leurs implications pour les politiques de lutte contre le changement climatique. L'estimation de C fut basée sur le changement de la couverture terrestre, obtenue par le traitement des images Spot, Sentinel et Landsat et par des visites sur le terrain, ainsi que sur des données secondaires des valeurs moyennes de carbone par classe de végétation. Les 55 colonies étaient à l’origine couvertes de 685 000 ha de végétation native (103 Tg C). La déforestation jusqu’en 2016 a été supérieure à 65%. La plupart de celle-ci ayant eu lieu (77%) en 2008. Bien que la restauration des zones consolidées (déboisées avant juillet 2008) ne soit pas obligatoire, elle peut générer des revenus provenant de crédits de carbone, de quotas de réserves environnementales, de gestion forestière et d'agroforesterie. La zone déboisée par peuplement jusqu'en 2008 avait une relation étroite avec le taux de déforestation par peuplement entre 2008 et 2016. Cela suggère que ceux qui ont beaucoup déboisé jusqu'en 2008 ont tendance à continuer de le faire par la suite. Le taux annuel de déforestation entre 2008 et 2016 étaient de 12 700 hectares/an, respectivement. Si le taux de déforestation reste le même, toute la végétation native aura été supprimée en moins de deux décennies. En règle générale, les colonies de la modalité du Projet de Développement Durable ont présenté moins de déforestation, ce qui indique qu'il est possible d'associer réforme agraire et développement économique et social à la conservation de la forêt amazonienne. Cependant, les politiques visant à payer les services écosystémiques et les produits forestiers sur pied (gestion forestière à faible impact et ressources non ligneuses) doivent être renforcées. Pour cela, l’intégration des efforts du gouvernement fédéral, des États, et local et du marché est essentielle. In this study, we described the dynamics of land-cover and gross carbon stocks and emissions (C) in 55 settlements in Legal Amazon, located in northern Mato Grosso state, between 2008 and 2016 and discussed their implications for climate change policies. C estimates were based on land-cover changes, obtained with Spot, Sentinel and Landsat image processing and field visits, and secondary data of mean carbon values per vegetation class. The 55 settlements were originally covered by 685,000 ha of native vegetation (103 Tg C). Deforestation by 2016 was over 65%. Most of it (77%) occurred by 2008. Although restoration of consolidated areas (areas deforested before July 2008) is not mandatory, it can generate revenue from carbon credits, environmental reserve quotas, forest management and agroforestry. The deforested area per settlement by 2008 was strongly related to the deforestation per settlement between 2008 and 2016. This suggests that those who deforested a lot until 2008 tend to continue to do so until 2016. The annual deforestation rate between 2008 and 2016 was 12.7 thousand ha /year. If it remains the same, all native vegetation will have been suppressed in less than two decades. In general, the Sustainable-Development-Project settlements had less deforestation, which indicates that it is possible to associate agrarian reform and economic and social development with the conservation of the Amazon rainforest. However, it is necessary to strengthen policies toward payment for ecosystem services and forest management products (low-impact forest management and non-timber forest products). In order to do so, the integration of federal, state and local governments and market efforts is paramount.