Tendo em vista o recrudescimento dos novos fluxos migratórios do sul global para o Brasil na última década, a tendência à hegemonia do trabalho imaterial no capitalismo flexível e globalizado e as limitações de estudos da Administração acerca de migrantes e refugiados no entrelaçamento entre mobilidade internacional e trabalho, tem-se como objetivo geral, nesta tese, cartografar os processos de subjetivação que compõem o trabalho imaterial nos percursos de migrantes e refugiados. Para tanto, se alicerça nos pilares Migração, Trabalho e Subjetividade, os quais confluem na abordagem da Autonomia das Migrações (MEZZADRA, 2012; 2015). Pauta-se fundamentalmente nas produções teóricas sobre migração e refúgio (AGIER, 2016; CASTLES, 2010, SAYAD, 1979), seus dispositivos de proteção e regulação (ACNUR; OIM; BRASIL, 1997; 2017), trabalho imaterial (GORZ, 2005; LAZZARATO; NEGRI, 2001), espaços liso e estriado (DELEUZE; GUATTARI, 2012b), modos de individuação e singularização (GUATTARI; ROLNIK, 1996) e modos de viver em deslocamento (BAUMAN, 1999; 2011). A cartografia, enquanto método, permitiu uma experimentação da pesquisadora como flâneur-cartógrafa na cidade de Porto Alegre/RS e possibilitou a participação-intervenção em um território-rizoma formado por 36 eventos-atividades, cinco informantes-chave e 16 migrantes econômicos e refugiados que desenvolvem trabalhos nas áreas de música, dança, alimentação, moda, idioma e representação político-cultural utilizando referências de seus países de origem, que são Venezuela, Haiti, Síria, Senegal, Costa do Marfim e Nigéria. A partir das observações-participantes e das entrevistas, produziram-se quatro dimensões analíticas: Partir, Chegar, Empreender(-se) e (Re)inventar(-se). A tese defendida é a de que, pela via do trabalho imaterial, desponta a (re)invenção de modos de viver de migrantes e refugiados no país de destino. Tal argumento se sustenta nas frequentes investidas em traçar linhas de fuga de um espaço estriado individuante em direção a um espaço liso singularizante que visibiliza o trabalho imaterial dos migrantes e refugiados, evidenciado, sobretudo, pelo uso de referências dos países de origem e pela situação de migração ou refúgio. Os momentos preponderantes da processualidade dessas passagens e sobreposições podem ser percebidos nas restrições de vida devido às situações-limite instaladas nos países de origem; no empenho para migrar ou refugiar-se sobrelevando o paradoxo das migrações empurradas e autônomas; nos dispositivos legais, burocráticos e políticos que gerenciam as vidas (e possibilidades de trabalho) nas travessias e no país de destino; no direcionamento ao ―mercado de trabalho para migrantes e refugiados‖ vinculado à precarização, à desvalorização social e à aporofobia; nos investimentos em form(a)ções; nos modos de criação de atividades artísticas, técnico-manuais e comunicacionais do trabalho imaterial; no que eles trazem na bagagem; na (co)participação de clientes e no uso de redes sociais da internet no ciclo de produção; na formação de um novo ―mercado de trabalho para migrantes e refugiados‖ vinculado ao afeto e à política; na rede de cooperação afetiva, social, rentabilizadora e emancipatória consubstanciada ao trabalho imaterial e agenciada ao longo do percurso; e, enfim, no devir-migrante e no devir-refugiado como leitura dos modos de viver em deslocamento. Sem abandonar o que são, migrantes e refugiados percebem, nas atividades do trabalho imaterial, outras formas de viver, de se envolver na vida já existente e, ao mesmo tempo, de continuar em deslocamento, provocando outros devires. In view of the recrudescence of new migratory flows from the global south to Brazil in the last decade, the tendency to hegemony immaterial labour in flexible and globalized capitalism, and the limitations of Business Studies about migrants and refugees between international mobility and labour, the general objective of this thesis is to map the processes of subjectivation that compose immaterial labour in the paths of migrants and refugees. To do so, it is based on the Migration, Work, and Subjectivity pillars, which converge in the Autonomy of Migration approach (MEZZADRA, 2012; 2015). It is fundamentally based on theoretical productions on migration and refuge (AGIER, 2016; CASTLES, 2010, SAYAD, 1979), its protection and regulation devices (UNHCR; IOM; BRAZIL, 1997; 2017), immaterial labour (GORZ, 2005); LAZZARATO; NEGRI, 2001), concepts of smooth and striated spaces (DELEUZE; GUATTARI, 2012b), modes of individuation and singularization (GUATTARI; ROLNIK, 1996), and modes of living in displacement (BAUMAN, 1999; 2011). Cartography as a method allowed the researcher to experiment as a flâneur-cartographer in Porto Alegre - RS and enabled participation-intervention in a territory formed by 36 events-activities, five key informants and 16 economic migrants and refugees who develop work in the areas of music, dance, food, fashion, language and political-cultural representation with references from their countries of origin: Venezuela, Haiti, Syria, Senegal, Ivory Coast and Nigeria. From the participant observations and interviews, four analytical dimensions were produced: Leaving, Arriving, Endeavoring (oneself) and (Re)Inventing (oneself). The thesis is that through immaterial labour emerges the (re)invention of ways of living for migrants and refugees in the country of destination. This argument is based on the frequent attempts to draw lines of flight from an individuating striated space towards a singularizing smooth space that highlights the immaterial labour of migrants and refugees, evidenced, mainly, by the use of references from the countries of origin and the situation of migration or refuge. The preponderant moments of the procedurality of these passages and overlaps can be seen in the restrictions of life due to the limiting situations installed in their countries of origin; in the effort to migrate or take refuge, raising the paradox of pushed and autonomous migrations; in the legal, bureaucratic and political devices that manage their lives (and work possibilities) in the crossings and in the country of destination; in the direction of the "labour market for migrants and refugees" linked to precariousness, social devaluation and aporophobia; in the investments in education; in the ways of creating artistic, technical-manual and communicational activities of immaterial labour; in what they bring in their luggage; in the (co)participation of clients and in the use of Internet social networks in the production cycle; in the formation of a new "labour market for migrants and refugees" linked to affection and politics; in the affective, social, profitable and emancipatory networks cooperation consubstantiated in the immaterial labour and managed along the paths; and finally, in the becoming-migrant and becoming-refugee as a reading of the ways of living in displacement. Without abandoning who they are, the activities of immaterial labour provide other ways of living, of feeling, of getting involved in the already existing life and, at the same time, ways of continuing in displacement, provoking other becomings.