Introdução: Apesar do reconhecimento da sua elevada prevalência e seu adverso impacto clínico, a desnutrição permanece subvalorizada no contexto hospitalar e agrava-se frequentemente no decurso do internamento. Objectivos: Caracterizar a progressão do estado nutricional e da composição corporal no período pós-operatório imediato de cirurgia electiva major e correlacioná-la com a evolução clínica. Material e métodos: Estudo prospectivo envolvendo 71 doentes operados com avaliação do estado nutricional por parâmetros antropométricos, analíticos e funcionais (dinamometria manual) e da composição corporal por impedância bioeléctrica, na véspera da intervenção, no primeiro e quinto dias pós-operatórios e no momento da alta hospitalar. Resultados: A idade média dos doentes estudados foi de 60,4±12,8 (30-91) anos, o índice de comorbilidade de Charlson de 3,1±2,8 (0-9) e o Índice de Risco Cirúrgico de 8,3±1,1 (6-11). As taxas de mortalidade e de morbilidade operatórias foram de 7 e 31%, respectivamente e a duração do internamento pós-operatório de 12,4±10,5 (1-61) dias. A perda ponderal referida na véspera da intervenção foi de 3,6±7,4% (-12,8-31,1); 5,6% dos doentes apresentavam um índice de massa corporal inferior a 20 kg/m² e 72% um índice superior a 25 kg/m². Foi realizado suporte nutricional artificial em 20% dos casos. No período pós-operatório, verificou-se uma significativa deterioração dos parâmetros nutricionais e de composição corporal, com uma redução de 5,9% no peso, 3,4% na prega cutânea tricipital, 2,6% no perímetro braquial, 32,2% na pré-albuminémia, 16,8% na transferrinémia, 18,3% na albuminémia, 13,1% na percentagem de linfócitos, 12,4% na força muscular, 4,3% no índice de massa gorda e 4,2% no índice de massa “não gorda”. A referida degradação foi proporcional à duração do internamento pós-operatório, excepto nos parâmetros analíticos e na massa gorda. A mortalidade relacionou-se significativamente com maiores reduções percentuais de massa “não gorda” (20,5 versus 3,7%; p=0,033) e de água (22,2 versus 2,9%, p=0,013) e a morbilidade com maiores reduções relativas de peso (7,7 versus 5%, p=0,035) e de força muscular (16,8 versus 10%, p=0,014). Conclusões: Estes resultados corroboram a necessidade de uma vigilância sistemática do estado nutricional no decurso do internamento hospitalar peri-operatório que possibilite e oriente uma atempada intervenção terapêutica. Introduction: Despite recognition of its high prevalence and adverse clinical impact, malnutrition remains undervalued and often aggravates during the hospital stay. Objective: To characterize the progression of nutritional status and body composition in the early postoperative period of major elective surgery and to correlate results with the clinical evolution. Material and methods: Prospective study including 71 operated patients with evaluation of nutritional status based on anthropometric, laboratorial and functional (hand grip strength) parameters and determination of body composition by bioelectrical impedance analysis, in the day before surgery, in the first and fifth days of the postoperative period and at the moment of hospital discharge. Results: Patient´s mean age was 60,4±12,8 (30-91) years, Charlson´s comorbidity index 3,1±2,8 (0-9) and Surgical Risk Index 8,3±1,14 (6-11). Operative mortality and morbidity rates were 7 and 31%, respectively and the mean postoperative hospital stay was 12,4±10,5 (1-61) days. Weight loss referred in the day before surgery was 3,6±7,4% (-12,8-31,1); 5,6% of patients presented a body mass index lower than 20 kg/m² and 72% an index over 25 kg/m². Artificial nutritional support was used in 20% of cases. In the postoperative period, a significant deterioration of nutritional and body composition parameters occurred, with a reduction of 5,9% in body weight, 3,4% in tricipital skinfold, 2,6% in mid-arm circumference, 32,2% in pre-albuminemia, 16,8% in transferrinemia, 18,3% in albuminemia, 13,1% in lymphocyte percentage, 12,4% in hand grip strength, 4,3% in body fat mass index and 4,2% in fat-free mass index. Such degradation was proportional to the length of postoperative hospital stay, with the exceptions of laboratorial parameters and body fat mass. Mortality was significantly related with greater relative reductions of fat-free mass (20,5 versus 3,7%; p=0,033) and total body water (22,2 versus 2,9%; p=0,013) and morbidity was associated with greater relative reductions of body weight (7,7 versus 5%; p=0,035) and muscular strength (16,8 versus 10%; p=0,014). Conclusions: Those results seem to corroborate the importance of a systematic surveillance of nutrition status during the perioperative hospital stay and of a timely therapeutic intervention.