Base teórica: O estigma do diagnóstico de um câncer pode mobilizar fantasias de morte, dor, sofrimento e limitações físicas em pacientes, familiares e na sociedade em geral. Há autores que têm estudado o papel da religiosidade e da espiritualidade neste processo e seu impacto na qualidade e no tempo de vida. Contudo, a literatura especializada é ainda limitada no que se refere à valorização da religiosidade e da espiritualidade entre médicos. Uma vez que o oncologista tem testemunhado avanços fundamentais na ciência, inclusive com enorme impacto na curabilidade de vários tipos de câncer, seria de interesse estudar como estes profissionais percebem individualmente o papel da religiosidade e da espiritualidade em sua vida profissional. Objetivo: Estudar o perfil de religiosidade e espiritualidade entre oncologistas brasileiros. Métodos: Oncologistas clínicos em atividade foram convidados para participar do presente estudo mediante contato por correio eletrônico. Por meio da plataforma Survey Monkey, os voluntários preencheram um questionário sobre fé e religiosidade e o Índice de Religiosidade de Duke. Os dados foram analisados, posteriormente, de maneira descritiva. Resultados: Participaram da pesquisa 160 sujeitos, 9 foram excluídos, 6 deles por não serem oncologistas clínicos e 3 por não terem respondido a escala de Religiosidade de DUKE. A amostragem incluiu 151 médicos oncologistas titulados pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Na média, eram indivíduos de 43,8 (± 9,7) de idade, com 15,1 (1 _ 55) anos de experiência em oncologia clínica, com leve predomínio de indivíduos do sexo masculino (52.3%), casados (70,9%), que se declaravam católicos (63,6%), espiritualistas (17,2%), evangélicos (5,9%), protestantes (3,3%), agnósticos (4%), de outras religiões (2,7%) e ateus (3,3%). Do total, 38,4% dos indivíduos referiram praticar regularmente sua fé religiosa. Quando perguntados se tinham fé em Deus, da totalidade dos entrevistados, 92,4% responderam afirmativamente. Quando os 151 participantes foram questionados se: "Você acredita que a fé aumenta a sobrevida dos pacientes?”, 119 deles (78,8%) responderam de maneira afirmativa; “Você já testemunhou um milagre médico durante seus anos de prática em oncologia?”, 35 deles (23,2%) responderam afirmativamente; e “Você acredita que a resposta ao tratamento convencional do câncer pode ser influenciada pela fé?”, 121 deles (80,1%) responderam sim. Conclusão: Os resultados deste estudo-piloto sugerem que, ainda com avanços científicos no tratamento do câncer observados nas últimas décadas, testemunhados por esta amostragem de 151 médicos oncologistas brasileiros, todos eles formalmente titulados pela SBOC, há nesta população um perfil elevado de crença na religião e na espiritualidade. Quatro de cada cinco deles revela acreditar que a fé pode influenciar positivamente o resultado do tratamento e aumentar a sobrevida dos pacientes. Além disso, um em cada cinco deles relata já ter testemunhado algum tipo de milagre médico. Estes resultados sugerem que o tema deva ser mais bem estudado em uma amostra com maior número de pacientes. Background: The stigma of cancer diagnosis can trigger fantasies of death, pain, suffering and physical limitations in patients, families and society in general. There are authors who have studied the role of religiosity and spirituality in this process and its impact on quality and life expectancy. However, the specialized literature is still limited in terms of the valorization of religiosity and spirituality among physicians. Since the oncologist has witnessed fundamental advances in science, including an enormous impact on the cure of various types of cancer, it would be interesting to study how these professionals individually perceive the role of religiosity and spirituality in their professional life. Objective: Study the religious and spiritual perception of Brazilian clinical oncologists. Methods: Active clinical oncologists were invited to participate in this study by contacting them by e-mail. Through the SurveyMonkey platform, volunteers completed a questionnaire on faith and religiosity and the Duke Religiosity Index. Data were subsequently analyzed in a descriptive manner. Results: 160 subjects participated in the study, 9 were excluded, 6 of them for not being clinical oncologists and 3 for not having answered the DUKE Religiosity scale. The sample included 151 oncologists qualified by the Brazilian Society of Clinical Oncology (SBOC). On average, they were individuals of 43.8 (± 9.7) of age, with 15.1 (1-55) years of experience in clinical oncology, with a slight predominance of male individuals (52.3%), married (70.9%), who declared themselves catholics (63,6%), spiritualists (17.2%), evangelicals (5.9%), protestants (3.3%), agnostics (4%), other religions (2.7%) and atheists (3.3%). Of the total, there were 44.5% of individuals who reported regularly practicing their religious Faith. When asked if they had Faith in God, of the totality of responders, 85.4% answered affirmatively. When the 151 participants were asked: “Do you believe that faith increases patients survival?”, 119 of them (78.8%) responded in the affirmative; “Have you ever witnessed a medical miracle during your years of oncology practice?”, 35 of them (23.2%) answered affirmatively, and “Do you believe that the response to conventional cancer treatment can be influenced by faith?”, 121 of them (80.1%) answered yes. Conclusion: The results of this pilot study suggest that, still with the scientific advances in cancer treatment observed in recent decades, witnessed by this sample of 151 Brazilian oncologists, all of them formally qualified by the SBOC, there is a high profile of belief in religion in this population and in spirituality. Four out of five of them reveal that they believe that faith can positively influence the treatment outcome and increase patient survival. In addition, one in five of them report having witnessed some kind of medical miracle. These results suggest that the topic should be better studied in a sample with a larger number of patients.