Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES A seleção de habitat para oviposição é um processo crucial para espécies com ciclo de vida complexo, pois a maioria das espécies não exercem cuidado parental. Desta forma, o sucesso da prole depende da qualidade dos habitats. Assim o é com o mosquito Aedes aegypti, cuja fêmea ovipõe em poças temporárias discretas (containers) distribuídas na paisagem. A escolha de fêmeas de mosquito em busca de sítios de oviposição baseia-se em características físico-químicas dos habitats que indicam sua qualidade. A seleção natural deve favorecer indivíduos capazes de discriminar entre os habitats e dar preferência aos mais adequados à sobrevivência, crescimento e desenvolvimento da prole. Há um número crescente de estudos que apontam o risco de predação, o recurso e o tamanho do habitat como importantes indicadores da qualidade, que atuam como mecanismos de seleção de habitat para oviposição por fêmeas de mosquito e outros taxa. No entanto, o entendimento de como estes fatores, de natureza física e biológica, interagem para afetar as decisões comportamentais de fêmeas ovipondo permanece limitado. Com o objetivo de avaliar os efeitos individuais e interativos do risco, recurso e tamanho do habitat no comportamento de seleção de habitat para oviposição do mosquito Ae. aegypti, realizou-se um experimento laboratorial com design fatorial 2×2×2. Utilizando containers artificiais, foram cruzadas ausência ou presença de pistas do predador Poecilia vivípara (Poecilidae), pouco ou muito recurso e maior ou menor tamanho de habitat (profundidade). Os resultados demonstram que Ae. aegypti ovipõe mais frequentemente (indicador de oviposição qualitativo) e em maior quantidade (indicador de oviposição quali-quantitativo) nos habitats considerados de melhor qualidade (sem risco, com mais alimento e maiores). A decisão qualitativa, denotada pela proporção de réplicas ovipostas por fêmea, foi significativamente afetada pelos efeitos individuais do tamanho do habitat e do alimento, mas não do risco de predação. O efeito do risco foi dependente da interação com o recurso. A decisão quali-quantitativa, denotada pela proporção do número de ovos ovipostos por fêmea, foi, de novo, significativamente afetada apenas pelos efeitos individuais do tamanho do habitat e do recurso, enquanto o efeito do risco mediado por este último. De forma interessante, recurso e tamanho interagiram para afetar a proporção do número de ovos ovipostos por fêmea. O tamanho do habitat foi o fator de maior importância na avaliação da qualidade dos habitats feita pela fêmea, revelando a temporalidade do habitat (risco de dessecação) como principal mecanismo agindo sobre a decisão comportamental das fêmeas ovipondo. Recurso e risco de predação tiveram papel secundário e terciário, respectivamente, pois seus efeitos foram, em maior ou menor grau, mediados por um dos outros fatores (o risco mediado pelo alimento e este pelo tamanho do habitat). Esta interdependência revela trade-off associado aos mecanismos de escolha de habitat onde fêmeas de Ae. aegypti provavelmente respondem de modo a balancear custos e benefícios relacionados ao risco de secagem do habitat, risco de predação e aquisição de energia. Os resultados sugerem que apesar de o risco de predação ser um importante fator conduzindo a escolha de habitats para oviposição, ele não é mais importante que o recurso e o tamanho do habitat. Estes achados tem implicações relevantes para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de controle de mosquitos vetores de doença, como Ae.aegypti. Além disso, contribuem para o entendimento de como características físico-químicas dos habitats influenciam a oviposição de mosquitos, auxiliando na compreensão dos padrões de distribuição e abundância de espécies que ovipositam em habitats aquáticos temporários. Oviposition Habitat Selection is a crucial process for species with complex life cycle, because most species do not exercise parental care. In this way, the success of the offspring depends on the habitats quality. So it is with the Aedes aegypti mosquito, whose female oviposits in discrete temporary pools (containers) distributed in the landscape. The choice of female mosquitoes searching of oviposition sites is based on physical-chemical characteristics of the habitats that indicate their quality. Natural selection should favor individuals capable of discriminating between habitats and giving preference to those most suitable for the survival, growth and development of offspring. There are an increasing number of studies that point to the predation risk, resource and habitat size as important indicators of quality, which act as mechanisms of oviposition habitat selection by mosquitoes female and other taxa. However, the understanding of how these factors, of a physical and biological nature, interact to affect the behavioral decisions by ovipositing females remains limited. In order to assess the individual and interactive effects of the risk, resource and habitat size on the oviposition habitat selection behavior of the Aedes aegypti mosquito, we perform a laboratorial experiment with design 2×2×2 factorial. Using artificial containers, the absence or presence of cues from the predator Poecilia vivípara (Poecilidae), little or much resource and greater or lesser habitat size (depth) were crossed. The results demonstrate that Ae. aegypti oviposited more frequently (qualitative oviposition indicator) and in greater quantity (quali-quantitative oviposition indicator) in habitats considered to be high quality (without risk, with more food and larger). The qualitative decision, denoted by the proportion of ovipposited replicas per female, was significantly affected by the individual effects of habitat size and food, but not the predation risk. The risk effect was dependent on the interaction with the resource. The quali-quantitative decision, denoted by the proportion of the number of eggs laid per female, was, again, significantly affected only by the individual effects of the habitat size and the resource, while the effect of the risk mediated by the latter. Interestingly, resource and habitat size interacted to affect the proportion of the number of eggs laid per female. Habitat size was the most important factor in assessing the habitat quality by the female, revealing the habitat temporality (risk of desiccation) as the main mechanism acting on the behavioral decision of ovipositing females. Resource and risk played a secondary and tertiary role, respectively, as their effects were, to a greater or lesser extent, mediated by one of the other factors (the risk mediated by food and this by habitat size). This interdependence reveals a trade-off associated with the mechanisms of habitat choice where females of Ae. aegypti probably respond in order to balance costs and benefits related to the risk of habitat drying, predation risk and energy acquisition. The results suggest that although the predation risk is an important factor driving the habitat choice for oviposition, it is no more important than the resource and the habitat size. These findings have relevant implications for the development of more effective strategies for controlling mosquitoes that carry disease, such as Ae.aegypti. In addition, they contribute to the understanding of how physical and chemical characteristics of habitats influence the oviposition of mosquitoes, helping to understand the patterns of distribution and abundance of species that oviposit in temporary aquatic habitats.