Introdução: Considerada a segunda doença neurodegenerativa de maior prevalência no mundo, a Doença de Parkinson (DP) carece de tratamentos neuroprotetores eficazes. Os fármacos disponíveis atuam principalmente no alívio de sintomas motores, com pouco ou nenhum efeito sobre os sintomas não-motores. Evidências apontam que o sistema endocanabinoide modula indiretamente a neurotransmissão dopaminérgica, tornando-se um alvo farmacológico potencial para a DP. Objetivo: O presente trabalho avaliou os efeitos do tratamento com beta-cariofileno (BCP), um agonista dos receptores canabinoides do tipo 2, nas alterações comportamentais não-motoras causadas por um modelo de DP induzido por 6-hidroxidopamina (6-OHDA) em ratos. Método: Foram utilizados 45 ratos Wistar machos adultos (250-350 g), divididos em 4 grupos: SHAM, BCP (100 mg/Kg/dia; intraperitoneal), 6-OHDA (10 Îg/hem) e 6-OHDA+BCP. A 6-OHDA foi administrada bilateralmente no dia 0, através de cirurgia estereotáxica, no estriado dorsolateral (AP, +0,2 mm; ML, ±3.5 mm; DV, â'4.8 mm a partir do bregma) dos animais. Animais dos grupos SHAM e BCP receberam apenas veículo (0.01% de metabissulfito de sódio em salina). A partir do dia 1, os animais foram tratados com BCP diariamente e submetidos a avaliação comportamental para mensuração de parâmetros olfatórios (dia 3), mnemônicos (dias 5 a 7) e comportamento tipo-anedônico (dia 8). Para avaliação da função olfatória, foi utilizado o teste de discriminação olfativa (TDO); as memórias de curto prazo (MCD) e de longo prazo (MLD) foram avaliadas no teste de reconhecimento de objetos (TRO) e o comportamento tipo-anedônico foi avaliado pelo teste do esguicho. Resultados: A análise de variância (ANOVA) de duas vias demonstrou um efeito principal da 6-OHDA no tempo de exploração do compartimento familiar (p=0,034), indicando um déficit na capacidade de discriminar odores nos animais que receberam a neurotoxina. Este prejuízo olfatório foi atenuado pelo tratamento diário com BCP. Em relação ao TRO, não houve diferença no tempo de exploração dos objetos na sessão de treinamento, demonstrando que os animais não tiveram preferência por algum deles. Por outro lado, a análise de teste t mostrou que o grupo 6-OHDA não apresentou diferença estatística entre o índice de reconhecimento apresentado e o valor teórico de 50% nas sessões de MCD (p=0.953) e MLD (p=0.548), indicando prejuízo cognitivo. De importância, o tratamento diário com BCP foi capaz de reverter ambos os comprometimentos cognitivos induzidos pela 6-OHDA (MCD: p=0.003 e MLD: p=0.0004 vs. o valor teórico de 50%). Quanto ao comportamento tipo-anedônico, a ANOVA de duas vias mostrou um efeito da interação entre as variáveis 6-OHDA e BCP (p=0.030). De fato, o teste de Tukey indicou que os animais do grupo 6-OHDA apresentaram uma redução no tempo total de autolimpeza quando comparados ao grupo SHAM (p=0.047), inferindo um comportamento do tipo-anedônico, que foi revertido pelo tratamento diário com BCP (p=0,0001). Conclusão: Ao todo, os resultados obtidos demonstram que a administração diária de BCP atenuou e/ou reverteu os prejuízos olfatórios, cognitivos e tipo-anedônico causados pelo modelo de DP induzido por 6-OHDA em ratos. Portanto, nossos dados sugerem um possível papel neuroprotetor do BCP no tratamento dos sintomas não-motores associados à DP. [ABSTRACT FROM AUTHOR]